Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 9 de março de 2016

Cintio Vitier - À poesia

Em primorosa evocação à poesia, o poeta cubano lastima-se do desterro que esta aos poucos lhe destina, deixando-o com a voz presa, o fluxo das palavras próximo à esterilidade, fulminando com imperícia o texto.

Como mãe, filha, pátria, orvalho da manhã, tesouro que seja, Vitier sacia a sua fome de beleza por meio dessa luz que também é justiça, alimento de difusa composição, capaz de levar o espírito ao êxtase.

J.A.R. – H.C.

Cintio Vitier
(1921-2009)

A la poesía

¿Vienes menos cada vez,
huyes de mí,
o es que estamos entrando en tu silencio
– el pedregal, la luz –
y ya tenemos poco que decirnos?
Pero ese poco,
¿lo diremos nunca?
pero ese poco, ¿qué es?
¿Será el alimento de los ángeles,
lo que le falta al sol,
la muerte?
No digas nada tú. Cada palabra
de tu boca es demasiado hermosa.
No puedo resistirla ya,
aunque todo mi ser quiere comerla,
y de esa hambre vivo aún. Dí     
la nada que estoy acostumbrado a ver
en el pálido fulgor de la sequía,
en la brasa del deseo, allí
donde la amarga mar que adoro empieza.
Dí su mezcla con todo, en que he gozado.
La memoria
guarda trenes enteros, encendidos,
silbando por lo oscuro. No me sirven.
Mañana del ayer, una candela al mediodía
se me parece más: en ella escribo
letras para el aniversario
de mi expulsión del texto que ahora miro,
incomprensible. ¿Tú eras mi madre, entonces?
¿Tú, que ahora vienes, como el alba,
llena de lágrimas? ¡Oh materia,
templo! Haber nacido es no poder entrar en ti.
Déjame verte por el lado de la historia,
que busca también un paraíso,
pues tu nombre es justicia, noche
de aquel niño.
¿Qué está pasando ahora que los músicos
acabaron de tocar aquel danzón terrible?
Mi vida vuelve a ser el arenal de hueso
donde salí del libro, ay, sellado. ¿Y tú,
serás mi hija?
¿Y tú, serás mi patria que no terminaré de ver?
¿Dirás lo que dijiste aquella noche,
cuando la finca empezaba a ser el paraíso
entrando en el futuro de los naranjales,
bajo la risa de las estrellas?
Lo poco, ¿es ya el tesoro?
Lo poco que nos falta, ¿es ya lo inmenso?
Tanto tiempo expulsado de tu vientre
apenas pesa como un ave en el silencio.
Dame tu mano. Ayúdame a llegar.

De: “Testimonios” (1968)

Alvorada de Cores
(Nil Catalano: pintor brasileiro)

À poesia

Vens menos cada vez,
foges de mim,
ou é que estamos entrando em teu silêncio
– o pedregal, a luz –
e já temos pouco que dizer-nos?
Porém esse pouco,
nunca o diremos?
Porém esse pouco, o que é?
Será o alimento dos anjos,
o que lhe falta ao sol,
a morte?
Não digas nada tu. Cada palavra
de tua boca é demasiado bela.
Não posso resisti-la já,
ainda que todo meu ser queira comê-la,
e dessa fome vivo ainda. Diz o
nada que estou acostumado a ver
no pálido fulgor da seca,
na brasa do desejo, ali
onde o amargo mar que adoro começa.
Diz tua mescla com tudo, em que tenho gozado.
A memória
guarda trens inteiros, incendiados,
silvando pelo escuro. Não me servem.
Amanhã de ontem, mais se me parece
uma vela ao meio-dia: nela escrevo
letras para o aniversário
de minha expulsão do texto que agora contemplo,
incompreensível. Tu eras minha mãe, então?
Tu, que agora vens, como a alvorada,
cheia de lágrimas? Oh, matéria,
templo! Haver nascido é não poder entrar em ti.
Deixa-me ver-te pelo lado da história,
que busca também um paraíso,
pois teu nome é justiça, noite
daquele menino.
O que está a ocorrer agora que os músicos
acabaram de tocar aquela terrível dança cubana?
Minha vida volta a ser o areal de osso
de onde sai do livro, desditosamente, fechado. E tu,
serás minha filha?
E tu, serás minha pátria que não terminarei de ver?
Dirás o que disseste naquela noite,
quando a granja começava a ser o paraíso
entrando no futuro dos laranjais,
sob o riso das estrelas?
O pouco, é já o tesouro?
O pouco que nos falta, é já o imenso?
Quanto tempo do teu ventre expulso
apenas pesa como uma ave no silêncio.
Dá-me tua mão. Ajuda-me a chegar.

De: “Testemunhos” (1968)

Referência:

VITIER, Cintio. A la poesía. In: Ortega, Julio (Comp.). Antología de la poesía hispanoamericana actual. 8. ed. México (DF): Siglo XXI, 2001. p. 176.

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