Em primorosa evocação à poesia, o poeta cubano lastima-se do desterro
que esta aos poucos lhe destina, deixando-o com a voz presa, o fluxo das palavras
próximo à esterilidade, fulminando com imperícia o texto.
Como mãe, filha, pátria, orvalho da manhã, tesouro que seja, Vitier sacia
a sua fome de beleza por meio dessa luz que também é justiça, alimento de
difusa composição, capaz de levar o espírito ao êxtase.
J.A.R. – H.C.
Cintio Vitier
(1921-2009)
A la poesía
¿Vienes menos cada
vez,
huyes de mí,
o es que estamos
entrando en tu silencio
– el pedregal, la luz
–
y ya tenemos poco que
decirnos?
Pero ese poco,
¿lo diremos nunca?
pero ese poco, ¿qué es?
¿Será el alimento de
los ángeles,
lo que le falta al
sol,
la muerte?
No digas nada tú.
Cada palabra
de tu boca es
demasiado hermosa.
No puedo resistirla
ya,
aunque todo mi ser
quiere comerla,
y de esa hambre vivo
aún. Dí
la nada que estoy
acostumbrado a ver
en el pálido fulgor
de la sequía,
en la brasa del
deseo, allí
donde la amarga mar
que adoro empieza.
Dí su mezcla con
todo, en que he gozado.
La memoria
guarda trenes
enteros, encendidos,
silbando por lo
oscuro. No me sirven.
Mañana del ayer, una
candela al mediodía
se me parece más: en
ella escribo
letras para el
aniversario
de mi expulsión del
texto que ahora miro,
incomprensible. ¿Tú eras mi madre,
entonces?
¿Tú, que ahora vienes,
como el alba,
llena de lágrimas? ¡Oh materia,
templo! Haber nacido es no
poder entrar en ti.
Déjame verte por el
lado de la historia,
que busca también un
paraíso,
pues tu nombre es
justicia, noche
de aquel niño.
¿Qué está pasando
ahora que los músicos
acabaron de tocar
aquel danzón terrible?
Mi vida vuelve a ser
el arenal de hueso
donde salí del libro,
ay, sellado. ¿Y tú,
serás mi hija?
¿Y tú, serás mi patria
que no terminaré de ver?
¿Dirás lo que dijiste
aquella noche,
cuando la finca
empezaba a ser el paraíso
entrando en el futuro
de los naranjales,
bajo la risa de las
estrellas?
Lo poco, ¿es ya el tesoro?
Lo poco que nos
falta, ¿es ya lo inmenso?
Tanto tiempo
expulsado de tu vientre
apenas pesa como un
ave en el silencio.
Dame tu mano. Ayúdame
a llegar.
De: “Testimonios” (1968)
Alvorada de Cores
(Nil Catalano: pintor
brasileiro)
À poesia
Vens menos cada vez,
foges de mim,
ou é que estamos
entrando em teu silêncio
– o pedregal, a luz –
e já temos pouco que
dizer-nos?
Porém esse pouco,
nunca o diremos?
Porém esse pouco, o
que é?
Será o alimento dos
anjos,
o que lhe falta ao
sol,
a morte?
Não digas nada tu.
Cada palavra
de tua boca é
demasiado bela.
Não posso resisti-la
já,
ainda que todo meu
ser queira comê-la,
e dessa fome vivo
ainda. Diz o
nada que estou
acostumado a ver
no pálido fulgor da
seca,
na brasa do desejo,
ali
onde o amargo mar que
adoro começa.
Diz tua mescla com
tudo, em que tenho gozado.
A memória
guarda trens
inteiros, incendiados,
silvando pelo escuro.
Não me servem.
Amanhã de ontem, mais
se me parece
uma vela ao meio-dia:
nela escrevo
letras para o
aniversário
de minha expulsão do
texto que agora contemplo,
incompreensível. Tu
eras minha mãe, então?
Tu, que agora vens,
como a alvorada,
cheia de lágrimas?
Oh, matéria,
templo! Haver nascido
é não poder entrar em ti.
Deixa-me ver-te pelo
lado da história,
que busca também um
paraíso,
pois teu nome é
justiça, noite
daquele menino.
O que está a ocorrer
agora que os músicos
acabaram de tocar
aquela terrível dança cubana?
Minha vida volta a
ser o areal de osso
de onde sai do livro,
desditosamente, fechado. E tu,
serás minha filha?
E tu, serás minha
pátria que não terminarei de ver?
Dirás o que disseste
naquela noite,
quando a granja
começava a ser o paraíso
entrando no futuro
dos laranjais,
sob o riso das
estrelas?
O pouco, é já o
tesouro?
O pouco que nos
falta, é já o imenso?
Quanto tempo do teu
ventre expulso
apenas pesa como uma
ave no silêncio.
Dá-me tua mão.
Ajuda-me a chegar.
De: “Testemunhos” (1968)
Referência:
VITIER, Cintio. A la poesía. In:
Ortega, Julio (Comp.). Antología de la
poesía hispanoamericana actual. 8. ed. México (DF): Siglo XXI, 2001. p. 176.
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