Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 27 de maio de 2014

Torquato Tasso – Variação sobre o Mesmo Tema

Torquato Tasso, o renomado poeta italiano dos fins da Renascença, escreveu o soneto abaixo, cujo tema diz respeito, mais uma vez, ao incrível número de gatas (e gatos) que, decerto, encontrou enquanto esteve confinado por sete anos (1579-1586) no Hospital de SantAnna, por ordem do Duque de Ferrara, Alfonso II, em consequência de seus violentos ataques ao terceiro casamento deste, manias de perseguição e ortodoxia religiosa (Fonte: Encyclopedia).

Há três aspectos que sobressaem mais pronunciadamente no referido soneto, quais sejam: (i) Tasso usa imagem hiperbólica para extrapolar sobre a quantidade de gatos com que convivia no mencionado Hospital, segundo ele, um contingente superior ao número de estrelas da Constelação de Ursa Maior (rs); (ii) traz explícita menção à fábula de Fedro “A Montanha Parturiente”, segundo a qual a gemer e lançar gritos lancinantes, e sob expectativa de toda a terra, a montanha acabou por dar à luz um rato, fábula da qual se infere o sentido de que há pessoas que muito prometem, mas, ao final, trazem resultados pífios; e (iii) o autor agregou um terceiro terceto ao soneto em apreço, alterando graciosamente o seu formato convencional, para associá-lo à cauda dos bichanos, sem o que, julgava, a sua composição poética estaria incompleta!

J.A.R.-H.C.
Tasso no Hospital de SantAnna de Ferrara
Eugène Delacroix (1798-1863)

Stesso Soggetto

Tanto le gatte si son moltiplicate,
Ch’a doppio son più che l’Orse nel Cielo:
Gatte ci son, c’han tutto bianco il pelo,
Gatte nere ci son, gatte pezzate.

Gatte con coda, gatte discodate:
Una gatta con gobba di cammelo
Vorrei vedere, e vestita di velo,
Come bertuccia; or che non la trovate?

Guardinsi i monti pur di partorire,
Che s’un topo nascesse, il poverello
Da tante gatte non potria fuggire.

Massara, io t’ammonisco, abbi ‘l cervello,
E l’occhio al lavezuol, ch’è sul bollire:
Corri, ve’, ch’una senza porta il vitello.

Vo’ farci il ritornello,
Perché ‘l Sonetto appieno non si loda,
Se non somiglia ai gatti dalla coda.
  

Mesmo Tema

Tão amiúde as gatas se multiplicam,
Que já são mais que o dobro da Ursa no Céu:
Há gatas cujo pelo é todo branco,
Há gatas negras, gatas malhadas.

Gatas com cauda, gatas sem cauda:
Uma gata com giba de camelo
Eu apreciaria ver, e coberta com um véu,
Qual símia; ou será que não a encontro?

Cuide-se das montanhas no dia do parto,
Que se um rato vier a nascer, o pobrezinho
De tantas gatas não há de escapar.

Dona de casa, eu te advirto, mantém a mente
E os olhos na panela, que está em ebulição:
Depressa, olha, que uma foge com a vitela.

Acrescentarei agora um refrão,
Porque o soneto não será plenamente elogiável,
Se não se assemelhar aos gatos com cauda.

Referência:

TASSO, Torquato. Stesso Soggetto. In: __________. Opere di Torquato Tasso. Volume VI. Rime di Torquato Tasso. Tomo IV. Pisa, IT: Presso Niccolò Capurro, 1822. p. 216-217.
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