Torquato Tasso, o renomado poeta italiano dos fins da Renascença, escreveu
o soneto abaixo, cujo tema diz respeito, mais uma vez, ao incrível número de
gatas (e gatos) que, decerto, encontrou enquanto esteve confinado por sete anos
(1579-1586) no Hospital de Sant’Anna, por ordem do Duque de Ferrara, Alfonso
II, em consequência de seus violentos ataques ao terceiro casamento deste,
manias de perseguição e ortodoxia religiosa (Fonte: Encyclopedia).
Há três aspectos que sobressaem mais pronunciadamente no referido soneto, quais sejam: (i) Tasso usa imagem hiperbólica para extrapolar sobre a quantidade de gatos com que convivia no mencionado Hospital, segundo ele, um contingente superior ao número de estrelas da Constelação de Ursa Maior (rs); (ii)
traz explícita menção à fábula de Fedro “A Montanha Parturiente”, segundo a
qual a gemer e lançar gritos lancinantes, e sob expectativa de toda a terra, a
montanha acabou por dar à luz um rato, fábula
da qual se infere o sentido de que há pessoas que muito prometem, mas, ao
final, trazem resultados pífios; e (iii) o autor agregou um terceiro terceto ao
soneto em apreço, alterando graciosamente o seu formato convencional, para associá-lo
à cauda dos bichanos, sem o que, julgava, a sua composição poética estaria
incompleta!
J.A.R.-H.C.
Tasso no Hospital de Sant’Anna de Ferrara
Eugène Delacroix
(1798-1863)
Stesso Soggetto
Tanto le gatte si son
moltiplicate,
Ch’a doppio son più che l’Orse nel Cielo:
Gatte ci son, c’han tutto bianco il pelo,
Gatte nere ci son, gatte pezzate.
Gatte con coda, gatte discodate:
Una gatta con gobba
di cammelo
Vorrei vedere, e
vestita di velo,
Come bertuccia; or che non la trovate?
Guardinsi i monti pur
di partorire,
Che s’un topo
nascesse, il poverello
Da tante gatte non
potria fuggire.
Massara, io
t’ammonisco, abbi ‘l cervello,
E l’occhio al
lavezuol, ch’è sul bollire:
Corri, ve’, ch’una
senza porta il vitello.
Vo’ farci il
ritornello,
Perché ‘l Sonetto
appieno non si loda,
Se non somiglia ai
gatti dalla coda.
Mesmo Tema
Tão amiúde as gatas
se multiplicam,
Que já são mais que o
dobro da Ursa no Céu:
Há gatas cujo pelo é
todo branco,
Há gatas negras, gatas
malhadas.
Gatas com cauda, gatas
sem cauda:
Uma gata com giba de
camelo
Eu apreciaria ver, e
coberta com um véu,
Qual símia; ou será
que não a encontro?
Cuide-se das
montanhas no dia do parto,
Que se um rato vier a
nascer, o pobrezinho
De tantas gatas não há
de escapar.
Dona de casa, eu te
advirto, mantém a mente
E os olhos na panela,
que está em ebulição:
Depressa, olha, que
uma foge com a vitela.
Acrescentarei agora
um refrão,
Porque o soneto não
será plenamente elogiável,
Se não se assemelhar
aos gatos com cauda.
Referência:
TASSO, Torquato. Stesso Soggetto. In:
__________. Opere di Torquato Tasso. Volume
VI. Rime di Torquato Tasso. Tomo IV. Pisa, IT: Presso Niccolò Capurro,
1822. p. 216-217.
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