Ao percorrer a obra de Borges, para nela garimpar poesias que fizessem
alusão aos bichanos – tema de minhas mais recentes postagens –, eis que
encontro um inesperado poema dedicado ao ilustre vate português Luís de Camões.
Mas com a erudição de Borges, que parece haver vasculhado todos as praias,
à leste e à oeste, dos vastos oceanos das ações humanas que, por meritórias,
resultaram compendiadas em livros – como insinuaria Mallarmé –, afirmar que o
poema em referência seja um oásis “inesperado” poderia soar meio impróprio ou
mesmo obsceno, não?
Vai ele aqui, a associar a obra máxima de Camões, quiçá da própria literatura
portuguesa – “Os Lusíadas” –, ao épico “Eneida”, do poeta latino
Virgílio!
J.A.R. – H.C.
Luís Vaz de Camões
(1524-1580)
A Luis de Camoens
Sin lástima y sin ira
el tiempo mella
Las heroicas espadas.
Pobre y triste
A tu patria
nostálgica volviste,
Oh capitán, para morir en ella
Y con ella. En el mágico desierto
La flor de Portugal
se había perdido
Y el áspero español,
antes vencido,
Amenazaba su costado
abierto.
Quiero saber si
aquende la ribera
Última comprendiste
humildemente
Que todo lo perdido,
el Occidente
Y el Oriente, el
acero y la bandera,
Perduraría (ajeno a
toda humana
Mutación) en tu
Eneida lusitana.
A Luís de Camões
Sem lástima e sem ira
o tempo desgasta
As heroicas espadas.
Pobre e triste
À tua pátria
nostálgica retornaste,
Oh capitão, para morrer nela
E com ela. No mágico
deserto
A flor de Portugal se
havia perdido
E o áspero espanhol,
antes vencido,
Ameaçava o seu flanco
aberto.
Quero saber se aquém
da derradeira
Margem humildemente atinaste
Que todas as perdas, o
Ocidente
E o Oriente, o gládio e
a bandeira,
Perdurariam (alheios a
toda mudança
Humana) em tua
Eneida lusitana.
Referência:
BORGES, Jorge Luis. A Luis de Camoens. In:
__________. Obras completas: 1923-1972;
El Hacedor. Tomo I. 14. ed. Buenos Aires: Emecé, 1984. p. 832.
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