Com
um título similar ao do famoso poema de Yeats, aqui já
transcrito, trazemos agora um soneto, com disposição algo distinta da
costumeiramente conhecida para esse padrão poético – ou seja, não 4-4-3-3,
senão 4-10 –, de autoria do poeta italiano Sergio Corazzini.
O
belo poema de Corazzini, pejado de carga simbólica, flui por meio de imagens
soturnas como numa criação de Poe ou Baudelaire – cemitérios, tormentos,
sentinelas –, para, ao seu final, recolher aos olhos do bichano, enquanto
duas estrelas que permanecem na rua, o mágico clarão que provém da lua.
J.A.R.
– H.C.
Sergio Corazzini
(1886-1907)
Il
Gatto e la Luna
Lune
nel cielo, lume su la porta.
Questa
notte morirono le stelle,
le
nuvole hanno fatto da barelle,
lampeggiarono
i ceri della scorta.
Vagò,
di cimitero in cimitero,
solo, con le pupille avide, rosse,
ardenti
per continuo tormento,
il
gatto enorme, il gatto enorme e nero,
come
se in lui la notte atra si fosse,
materiata
per incantamento.
Or
va, torna col vento, ma se il vento
spegne il lume ad un tratto, nella via
rimangono due stelle in cui la pia
luna
in sua dolce meraviglia è assorta.
O
Gato e a Lua
Luas
no céu, luz sobre a porta.
Esta
noite feneceram as estrelas,
as
nuvens têm formato de andores,
tremeluziram
as velas da escolta.
Vagou,
de cemitério em cemitério,
sozinho,
com as pupilas ávidas, vermelhas,
ardentes
pelo contínuo tormento,
o
enorme gato, o gato enorme e negro,
como
se nele a noite outra se mostrasse,
materializada
pelo encantamento.
Ora
vá, volte com o vento, porém se o vento
extingue
a luz de repente, na rua
permanecem
duas estrelas nas quais a piedosa
lua
em seu doce encanto é absorvida.
Referência:
CORAZZINI,
Sergio. Il Gatto e la Luna. In: JACOMUZZI, Stefano. Poesie edite e inedite.
Edizione di riferimento. Torino: Einaude, 1968. p. 178 (Letteratura Italiana
Einaudi). Disponível neste endereço.
Acesso em: 7 mai 2014.
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