Ontem, recebi de um amigo o seguinte link, referente a artigo do
colunista João Bosco Rabello, do Estadão, que a segui transcrevo, por julgá-lo coerente
e bem redigido, além de que toca em problemas dos quais os partidários do PT
não podem se furtar em considerar: combate ao fisiologismo e realinhamento na
política econômica.
Contudo, penso que são possíveis alguns considerandos: o momento no qual
a atriz Regina Duarte se dispôs a fazer uma propaganda centrada no medo, contra um
possível desgoverno do PT, tinha como contrapartida um governo do PSDB que
estava se esfacelando em sua falta de credibilidade. Ademais, o ex-presidente FHC
passou oito anos no poder e pouco fez no âmbito social. Isso é um fato. As suas ações – pelo menos a maioria – se voltaram para um mesmo programa
que já houvera se iniciado com Fernando Collor: reduzir o tamanho do Estado na
economia.
E nisso houve ganhos, sem dúvida, em especial nos serviços de telecomunicações.
Mas o que ele fez no âmbito da energia, por exemplo? Não construiu uma
hidrelétrica de porte sequer! E lembremo-nos: o primeiro grande apagão foi no
governo dele!
Praticamente findo o terceiro mandato do PT, restam ainda dívidas
sociais imensas. E duas das principais, a meu ver, são a educação de qualidade
e a saúde pública. Seja como for, se a propaganda atual do PT subsume-se a um
discurso do medo, penso que ele seja menos hipócrita do que o veiculado na
propaganda do PSDB, na primeira campanha para a eleição do Serra.
Vale dizer, em grandes linhas, o discurso e a prática do PT são mais
interconsistentes (ou, de outro modo, mostrariam menos inconsistências) do que
os dos tucanos: em referência aos três grandes propósitos da programação econômica
– crescimento, distribuição e estabilidade –, quem duvidaria que o foco do
Partido dos Trabalhadores centra-se no segundo? Para ele, crescimento e
estabilidade são importantes, mas correm lateralmente ao que lhe interessa.
Mas a ação política do PSDB, quando no Governo Federal, foi
pragmaticamente voltada aos outros dois objetivos. Então qual a consistência do
seu discurso do medo, nitidamente voltado às classes menos abastadas da
população, quando se mostra notória a sua quase omissão absoluta em relação às
ações que beneficiassem exatamente essas classes menos favorecidas?
Há duas semanas, li uma coluna do Arnaldo Jabor, espinafrando o Governo
Federal – nestes dias, na grande imprensa, quase um truísmo! –, e a afirmar aos quatro cantos que foi o Plano
Real – lembremo-nos, implementado pelo governo do Itamar Franco – que teria
tirado algo da ordem de R$30 milhões de brasileiros da miséria, e não o
Programa “Bolsa-Família”. Se o programa “Bolsa-Família” teve ou não o poder de
remover da miséria absoluta um contingente na escala de muitos milhões, fica
para os leitores avaliarem por si próprios. E seus erros e acertos, igualmente. Contudo, a desonestidade
intelectual da assertiva de Jabor deu-me, simplesmente, vontade de largar o
texto por ali mesmo, embora não o fizesse...
Escute-se: a estabilização do valor de face de uma moeda, na melhor das
hipóteses, mantém o poder de compra de quem a detém, mas não chega a elevar o
precitado poder de compra! Pergunte-se ao colunista: o que teria levado à
intensa concentração de renda na economia brasileira entre os inícios dos anos
70 e dos 90, senão exatamente o processo inflacionário? Os mais pobres, sem
poderes para se resguardar dos seus efeitos danosos, tornaram-se mais pobres.
Os ricos, qualificados para se defender dos choques nos preços, ampliaram ainda
mais a sua participação na renda! E qual o necessário e principal efeito
adverso à concentração? A estabilização ou a redistribuição?
Claro está que, já num plano transversal, nada disso elide a necessidade
premente de se investigar todas as irregularidades perpetradas pelos
governantes eleitos pelo povo, seja de que partido for. Corrupção é um mal com
o qual ninguém pode, em sã consciência e boa fé, pactuar! Mas também não há
motivos para se pactuar com desonestidades intelectuais publicadas por alguns
veículos da grande imprensa! Ela também
precisa se qualificar! Ela não pode servir à desconstrução da cidadania e da
democracia! E mais: logo ela que vem se prestando à torpeza moral de distorcer o que terceiros, que lhe parecem oponentes, afirmam pela palavra oral ou escrita, por meio da vetusta e consabida técnica de subtrair apenas algumas palavras de um contexto e fazê-las valer por si sós.
De uma imprensa nesses termos o Brasil não necessita. E se ela vêm perdendo espaço para outras mídias, não se deve apenas ao fato de que a interconexão ao mundo virtual se mostra hoje muito mais facilitada, senão à notória falta de credibilidade em que está submersa. A nossa imprensa deixou de ser imprensa para se tornar um partido político! Apequenou-se!
Este país necessita mesmo é das ideias construtivas de todos, de quem detém o poder e de quem se lhe opõe: são absolutamente dispensáveis todos os ataques à inteligibilidade e à racionalidade do mundo!
De uma imprensa nesses termos o Brasil não necessita. E se ela vêm perdendo espaço para outras mídias, não se deve apenas ao fato de que a interconexão ao mundo virtual se mostra hoje muito mais facilitada, senão à notória falta de credibilidade em que está submersa. A nossa imprensa deixou de ser imprensa para se tornar um partido político! Apequenou-se!
Este país necessita mesmo é das ideias construtivas de todos, de quem detém o poder e de quem se lhe opõe: são absolutamente dispensáveis todos os ataques à inteligibilidade e à racionalidade do mundo!
J.A.R. – H.C.
O Medo
(Andrzej
Dragan – Artista Polonês)
O Outro Medo (Real) do PT
(João Bosco Rabello)
A necessidade de
desconstruir o discurso da oposição em relação à economia, mostrando-o como um
retrocesso social, impôs ao governo o ônus de aprofundar o fosso que o separa
do mercado, consolidando a expectativa de que um eventual êxito na reeleição
representará o agravamento da atual política intervencionista.
O discurso da
presidente Dilma Rousseff, de seu antecessor, Lula, e, agora, do ministro da
Casa Civil, Aloísio Mercadante (Folha de S.Paulo de hoje), revelam sintonia e
sincronia indicadores de que a mensagem eleitoral prevalece como versão de
momento, mascarando a realidade do ajuste inevitável em 2015.
O conteúdo dos três
está resumido eleitoralmente na propaganda do PT que foi ao ar ontem nos canais
de televisão aberta, reproduzindo estratégia já utilizada por candidatos em
diversas eleições, de incutir no eleitor o medo de reversão de conquistas
sociais, o que equivale a acusar os adversários de revogá-los se eleitos.
Na prática, a
sintonia dos discursos é quebrada pelo próprio governo quando a presidente da
Petrobrás, Graça Foster, anuncia o aumento da gasolina, represado às últimas
consequências, desmentindo a tese insustentável do ministro Mercadante que traduz
controle de preço artificial por “administração” em favor da população.
O medo que o PT tenta
vender com sua propaganda partidária, no entanto, é estratégia de risco,
própria das aflições políticas que se orientam justamente pelo temor da perda.
O medo que semeia é o mesmo que sente e passa a orientar as ações de marketing
do partido, à falta de perspectivas concretas para oferecer diante das demandas
para as quais não existem respostas rápidas como convém em período eleitoral.
Para um partido que
impôs ao contribuinte um aparelhamento da estrutura pública em escala inédita,
uma eventual derrota do projeto de reeleição representará também a porta de
saída para mais de 20 mil ocupantes de cargos de confiança só no governo
federal, nomeados por critério político, o que os torna, em grande parte,
insuficientes para as funções que exercem.
A conta aumenta fora
do organograma dos cargos de confiança, em levantamento que ainda precisa ser
feito com precisão. O fim da meritocracia responde pelos desmandos e malfeitos
levantados por investigações da Polícia Federal, mas também pelo atraso e
desorganização nos projetos de infraestrutura, inclusive os de caráter mais
social, que o ministro Gilberto Carvalho admite como “frustrante”.
Uma das frases do
programa partidário do PT pode, nesse contexto, ser aplicada a essa imensa
legião de apadrinhados que experimentou uma ascensão profissional que, por
mérito, não alcançaria. “Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o
desemprego de ontem”, ofertada ao eleitor, serve também ao militante, cujo
temor com o risco eleitoral anda, lado a lado, com a perspectiva da perda
pessoal de status profissional.
Para esse
contingente, a eventual derrota eleitoral diz respeito à sobrevivência no
status novo galgado a partir da ascensão do partido ao poder, que estabeleceu a
filiação e a fidelidade partidárias como critério para a ocupação de cargos
públicos, muitos dos quais estratégicos ao Estado.
“Não podemos deixar
que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos”, diz ainda a
propaganda. O problema é que a demanda da sociedade hoje se refere ao que não
foi conseguido – um vasto rol de ações que poderiam ter atenuado a complexa
questão da mobilidade urbana, das más condições da Saúde, Educação e Segurança,
que resumem o mau humor e o desencanto do eleitorado.
Especialmente se os
sete anos que antecederam a Copa do Mundo, desde a conquista da condição de
país-sede, tivessem sido usados para preparar o país para o evento, deixando,
aí, sim um legado à população. O padrão Fifa reclamado para o país poderia
preceder o evento esportivo, se a aversão do governo ao lucro e a falta de
planejamento não o isolassem dos investidores.
Na vida real, fora da
propaganda partidária, o PT continua errático. A tentativa do ministro Mercadante
de transformar represamento de preços em doutrina capitalista, instrumento
adequado ao controle da inflação, é a institucionalização de um discurso
eleitoral que termina no dia 1º de outubro, para mostrar seu resultado
recessivo em 2015.
A reeleição de Dilma,
nesse contexto, a manterá de costas para o mercado num eventual segundo mandato
em que a reaproximação com as forças produtivas do país e, por extensão, com os
investidores, significará a negação do discurso de campanha.
Mas essa hipótese não
é considerada pelo mundo capitalista: a reafirmação do discurso
intervencionista na campanha consolida a desconfiança com que sempre foi olhado
o governo pelos agentes econômicos, mesmo nas fases em que a presidente se
empenhou em reverter esse quadro.
Seu discurso jamais traiu a convicção
nas próprias teses, o que explica a resistência do mercado em absorvê-lo como
dado de realidade. Foi uma questão de tempo para que a conveniência eleitoral o
mostrasse como mera peça retórica para reconquistar investimentos.
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