Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de maio de 2014

Sylvia Plath e a Mulher que Amava Loucamente os Gatos

Vamos a mais um poema sobre os felinos domesticados, que há milênios passaram a conviver com a espécie humana. Este, de autoria da poetisa norte-americana Sylvia Plath, revela o nonsense de se conviver com uma autêntica criação de gatos, o que, para alguns, pode revelar algum desvio comportamental.

Aliás, tal foi o tema de matéria constante neste endereço da Folha de São Paulo: a nossa “Ella Mason” tem mais do que o triplo de gatos que a personagem do poema de Sylvia. E isso num apartamento! Se houver tempo, sugiro a leitura de alguns comentários postados ao final do referido conteúdo eletrônico, para que se apure até em que paragens a mente humana é capaz de aportar (rs).

J.A.R. – H.C. 
Sylvia Plath (1932-1963)

Ella Mason and Her Eleven Cats

Old Ella Mason keeps cats, eleven at last count,
In her ramshackle house off Somerset Terrace;
People make queries
On seeing our neighbor’s cat-haunt,
Saying: ‘Something’s addled in a woman who accommodates
That many cats’.

Rum and red-faced as a water-melon, her voice
Long gone to wheeze and seed, Ella Mason
For no good reason
Plays hostess to Tabby, Tom and increase,
With cream and chicken-gut feasting the palates
Of finical cats.

Village stories go that in olden days
Ella flounced about, minx-thin and haughty,
A fashionable beauty,
Slaying the dandies with her emerald eyes;
Now, run to fat, she’s a spinster whose door shuts
On all but cats.

Once we children sneaked over to spy Miss Mason
Napping in her kitchen paved with saucers.
On antimacassars
Table-top, cupboard shelf, cats lounged brazen,
One gruff-timbred purr rolling from furred throats:
Such stentorian cats!

With poke and giggle, ready to skedaddle,
We peered agog through the cobwebbed door
Straight into yellow glare
Of guardian cats crouched round their idol,
While Ella drowsed whiskered with sleek face, sly wits:
Sphinx-queen of cats.

‘Look! there she goes, Cat-Lady Mason!’
We snickered as she shambled down Somerset Terrace
To market for her dearies,
More mammoth and blowsy with every season;
‘Miss Ella’s got loony from keeping in cahoots
With eleven cats’.

But now turned kinder with time, we mark Miss Mason
Blinking green-eyed and solitary
At girls who marry –
Demure ones, lithe ones, needing no lesson
That vain jades sulk single down bridal nights,
Accurst as wild-cats. 


Ella Mason e seus Onze Gatos

A longeva Ella Mason cria gatos, onze na última contagem,
Em sua decrépita casa de Somerset Terrace;
As pessoas se questionam
Ao ver o albergue de gatos da nossa vizinha,
Afirmando: ‘Algum transtorno há em uma mulher que acomoda
Tantos gatos’.

Estranha e com um rosto vermelho como uma melancia, sua voz
Há muito ofegante e cada vez mais débil, Ella Mason
Sem nenhuma boa razão
É anfitriã de Tabby, Tom e descendentes,
Com creme e miúdos de frango regala os paladares
Dos dengosos gatos.

Histórias provincianas propalam que nos velhos tempos
Ella coqueteava, atrevida e altiva,
Uma elegante beleza,
A devorar os dândis com os seus olhos esmeralda;
Agora, tende à obesidade e é uma celibatária que mantém a porta fechada
A todos, exceto aos gatos.

Quando crianças, furtivamente espreitamos a Senhora Mason
Cochilando em sua cozinha coberta de pratos.
Em pequenas mantas
sobre a mesa, na prateleira do armário, gatos insolentes refestelados,
Um ronronar cavernoso rolando de suas peludas gargantas:
Que estentóreos gatos!

Com traquinagem e risadinhas, prontos para debandar,
Nós espiamos irrequietos, diretamente, através das maranhas da porta
O brilho amarelo
Dos gatos guardiães agachados em volta de seu ídolo,
Enquanto Ella dormitava bigoduda com o rosto reluzente, manhoso encanto:
A rainha-esfinge dos gatos.

‘Veja! ali vai ela, a Senhora-Gato Mason!’
Rimos um riso contido quando, trôpega, ausentou-se de Somerset Terrace
Para fazer compras para os seus queridos,
Mais obesa e desalinhada a cada estação;
‘A Senhora Ella ficou demente ao se manter em confabulação
Com onze gatos’.

Mas agora que o tempo nos tornou mais gentis, nós notamos a Senhora Mason
Solitária, piscando seus verdes olhos
Às moças que se casam –
Reservadas umas, flexíveis outras, sem necessitar das lições
Por meio das quais vãs jades importunam solteira em noites de núpcias,
Nefandas como gatas selvagens.

Referência:

PLATH, Silvia. Ella Mason and her eleven cats. In: __________. The collected poemsEdited by Ted Hughes. 4th ed. New York, NY: Harper & Row, 1981. p. 53-54.
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