Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Louis Le Cardonnel – Um Gato Negro em Paisagem Outonal

Sem sairmos da França, damos continuidade às postagens de poemas em que a figura do gato aparece de modo literal ou alusivo: o poema transcrito a seguir, extraído da obra “Les Poèmes du Chat Noir”, do francês Louis Le Cardonnel, tem a forma poética de um “pantoum”, criação de origem possivelmente malaia, com quartetos de rimas cruzadas, nos quais o segundo e o quarto versos de uma estrofe são os mesmos versos, respectivamente, da primeira e terceira linhas da estrofe seguinte.

Em termos ideais, o significado de cada verso se altera quando eles são repetidos mais à frente, embora as palavras permaneçam exatamente as mesmas: isso ocorre em virtude do uso de distintos sinais de pontuação, emprego de trocadilhos ou como consequência de um outro contexto levado a efeito pela nova estrofe.

Tais efeitos não são tão pronunciados neste poema de Cardonnel: a poesia que emana de suas palavras advém, antes, do clima outonal descrito, como se uma “sinfonia” fosse, e plena de tonalidades turvas, adjetivadas como “plúmbeas” pelo poeta.

J.A.R. – H.C.
Louis Le Cardonnel
(1862-1936)

Pantoum

C’est un petit jardin, désolé comme un champ,
L’herbe rousse frémit sous un vent monotone,
A l’ombre des vieux murs, que le lierre festonne.
Au fond des cieux plombés, baigne un soleil couchant.

L’herbe rousse frémit sous un vent monotone;
Un oiseau près de moi file en s’effarouchant:
Au fond des cieux plombés, saigne un soleil couchant,
Dans les bassins, la voix des grenouilles détonne.

Un oiseau près de moi file en s’effarouchant,
Le chat noir aux yeux verts, là-bas, se pelotonne,
Dans les bassins, la voix des grenouilles détonne;
Les ombrages rouillés ont un funèbre chant!

Le chat noir aux yeux verts, là-bas, se pelotonne.
Il me fixe d’un oeil satanique et méchant;
Les ombrages rouillés ont un funèbre chant.
Je t’aime, ô symphonie étrange de l’automne.


Pantoum

Este é um pequeno jardim, desolado como um campo,
A ruiva grama freme sob um vento monótono,
À sombra de velhos muros, que a hera ornou.
Com céus cinzentos ao fundo, difunde-se um sol poente.

A ruiva grama freme sob um vento monótono;
Um pássaro perto de mim retira-se em seu sobressalto:
Com céus cinzentos ao fundo, derrama-se um sol poente,
Nos regados, as vozes das rãs ressoam.

Um pássaro perto de mim retira-se em seu sobressalto,
O gato negro com olhos verdes, acolá, enovela-se,
Nos regados, as vozes das rãs ressoam;
As sombras esquálidas têm um fúnebre canto!

O gato negro com olhos verdes, acolá, enovela-se.
Ele me fitou com um olho satânico e malévolo;
As sombras esquálidas têm um fúnebre canto.
Eu te amo, ó estranha sinfonia do outono.

Referência:

CARDONNEL, Louis Le. Pantoum. In: NOVARINO-POTHIER, Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes. Paris: Omnibus, 2013. p. 30.
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