Literatura também é cultura: vejam, abaixo, outro poema do francês
Hippolyte Taine, cujo título faz referência aos deuses do lar, adorados nos
domicílios da antiguidade, a saber, os denominados “penates”. Claro está que Taine
adota tais entidades como alegoria para as esculturas de felídeos que se
propõe obter, para adornar o seu lar.
Caberia aqui, se não for redundante, indicativo para a leitura de uma
obra que retrata, com detalhes, o processo de introjeção e manutenção, no cerne
das residências indoeuropeias, de um fogo sagrado num altar privado, a
representar o lume de um poder familiar: “A Cidade Antiga”, de Fustel de
Coulanges, autor francês do século XIX. Vamos lá, internauta!: vale a pena ler
o tomo e inquirir sobre as teses históricas levantadas pelo historiador gaulês.
J.A.R. – H.C.
O franco-suíço Théophile Steinlen
(1859-1923) a esculpir um gato
Les Pénates
Prends ton ciseau, sculpteur; polis ton diamant,
Lapideur, émailleur, fonds ta pâte. Les belles
Que j’aime, les voici; je les veux immortelles;
Eternisez pour moi leurs grâces d’un moment.
Sauvez-les de la mort par votre enchantement.
L’une est noire; ses cils couvent des étincelles.
Le jaspe étoilé d’or
me rendra ses prunelles,
Et le basalte noir son corps souple et charmant.
L’autre est de jais,
d’albâtre et d’ambre chamarrée;
Pour sa robe taillez
la roche bigarrée;
L’émeraude fera la
splendeur de ses yeux;
Et j’aurai, pour peupler mon intime oratoire,
Parmi mes Dieux
privés, deux Lares glorieux,
La Vénus tricolore et
l’Aphrodite noire.
Os Penates
Toma o teu cinzel,
escultor; pole teu diamante,
Lapidador,
esmaltador, funde tua massa. As belas
Que amo, aqui estão; eu
as quero imortais;
Suas graças de
momento eternizadas para mim.
Salva-as da morte
por teu encantamento.
Uma delas é negra; em
seus cílios germinam centelhas.
O jaspe cintilante e
dourado restitui-me suas pupilas,
E o basalto negro, seu
corpo ágil e sedutor.
A outra é adornada de
azeviche, alabastro e âmbar;
Para a sua pelagem,
talha a rocha matizada;
A esmeralda criará o
esplendor de seus olhos;
E eu terei, para ornar
minha íntima oratória,
Entre os meus Deuses
privados, dois numes gloriosos,
A Vênus tricolor e a negra Afrodite.
Referência:
TAINE, Hippolyte. Les pénates. In: NOVARINO-POTHIER,
Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes.
Paris: Omnibus, 2013. p. 83.
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