Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Hippolyte Taine – Os Deuses do Lar

Literatura também é cultura: vejam, abaixo, outro poema do francês Hippolyte Taine, cujo título faz referência aos deuses do lar, adorados nos domicílios da antiguidade, a saber, os denominados “penates”. Claro está que Taine adota tais entidades como alegoria para as esculturas de felídeos que se propõe obter, para adornar o seu lar.

Caberia aqui, se não for redundante, indicativo para a leitura de uma obra que retrata, com detalhes, o processo de introjeção e manutenção, no cerne das residências indoeuropeias, de um fogo sagrado num altar privado, a representar o lume de um poder familiar: “A Cidade Antiga”, de Fustel de Coulanges, autor francês do século XIX. Vamos lá, internauta!: vale a pena ler o tomo e inquirir sobre as teses históricas levantadas pelo historiador gaulês.

J.A.R. – H.C. 
O franco-suíço Théophile Steinlen
(1859-1923) a esculpir um gato

Les Pénates

Prends ton ciseau, sculpteur; polis ton diamant,
Lapideur, émailleur, fonds ta pâte. Les belles
Que j’aime, les voici; je les veux immortelles;
Eternisez pour moi leurs grâces d’un moment.

Sauvez-les de la mort par votre enchantement.
L’une est noire; ses cils couvent des étincelles.
Le jaspe étoilé d’or me rendra ses prunelles,
Et le basalte noir son corps souple et charmant.

L’autre est de jais, d’albâtre et d’ambre chamarrée;
Pour sa robe taillez la roche bigarrée;
L’émeraude fera la splendeur de ses yeux;

Et j’aurai, pour peupler mon intime oratoire,
Parmi mes Dieux privés, deux Lares glorieux,
La Vénus tricolore et l’Aphrodite noire. 


Os Penates

Toma o teu cinzel, escultor; pole teu diamante,
Lapidador, esmaltador, funde tua massa. As belas
Que amo, aqui estão; eu as quero imortais;
Suas graças de momento eternizadas para mim.

Salva-as da morte por teu encantamento.
Uma delas é negra; em seus cílios germinam centelhas.
O jaspe cintilante e dourado restitui-me suas pupilas,
E o basalto negro, seu corpo ágil e sedutor.

A outra é adornada de azeviche, alabastro e âmbar;
Para a sua pelagem, talha a rocha matizada;
A esmeralda criará o esplendor de seus olhos;

E eu terei, para ornar minha íntima oratória,
Entre os meus Deuses privados, dois numes gloriosos,
A Vênus tricolor e a negra Afrodite.

Referência:

TAINE, Hippolyte. Les pénates. In: NOVARINO-POTHIER, Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes. Paris: Omnibus, 2013. p. 83.
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