Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Paul Verlaine – Mulher e Gata

Paul Verlaine
(1844-1896)

Não poderia faltar aqui algum exemplar do poeta francês Paul Verlaine, também autor de poemas que retratam os bichanos. O soneto que a seguir transcrevemos, a combinar num mesmo quadro as figuras da mulher e da gata, revela uma virtual misoginia do autor, quando associa a imagem feminina, v.g., à de Cleópatra – de quem se costuma sublinhar os atributos de dissimulação, traição e ludíbrios para a consecução de intentos escusos.

No entanto, ambíguas que sejam, inacessíveis ou caprichosas, nem toda mulher revela-se uma “Cleópatra”. Consigne-se, seja como for, que a rainha do Egito parece haver empregado o seu poder de sedução para atrair Marco Antônio, com o objetivo mais ou menos claro de manter a hegemonia política sobre a terra dos faraós.

Sumariando: nem todas as cores do mundo se resumem a um fundo preto e branco; há matizes que necessitam ser apreciados (rs)!

J.A.R. – H.C.

Femme et Chatte

Elle jouait avec sa chatte,
Et c’était merveille de voir
La main blanche et la blanche patte
S'ébattre dans l’ombre du soir.

Elle cachait − la scélérate! −
Sous ces mitaines de fil noir
Ses meurtriers ongles d’agate,
Coupants et clairs comme un rasoir.

L’autre aussi faisait la sucrée
Et rentrait sa griffe acérée,
Mais le diable n’y perdait rien...

Et dans le boudoir où, sonore,
Tintait son rire aérien,
Brillaient quatre points de phosphore.

 Femme au Chat (1923)
Micao Kono (1876-1954)

Mulher e Gata

Ela e sua gata brincavam,
De modo a fascinar quem as vê
A mão branca e a branca pata
Divertindo-se na penumbra da noite.

Ela escondia – a pérfida! –
Sob aquelas mitenes de fio negro
Suas letais unhas de ágata,
Afiadas e claras como uma navalha.

A outra mantinha-se melíflua
E retraía a aguçada garra,
Embora o diabo nada perdesse...

E no camarim onde, sonoras,
ressoavam aéreas gargalhadas,
Brilhavam quatro pontos fosforescentes.

Referência:

VERLAINE, Paul. Femme et Chatte. In: NOVARINO-POTHIER, Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes. Paris: Omnibus, 2013.  p. 62.
ö

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