Paul Verlaine
(1844-1896)
Não poderia faltar aqui algum exemplar do poeta francês Paul Verlaine, também
autor de poemas que retratam os bichanos. O soneto que a seguir transcrevemos, a
combinar num mesmo quadro as figuras da mulher e da gata, revela uma virtual
misoginia do autor, quando associa a imagem feminina, v.g., à de Cleópatra – de
quem se costuma sublinhar os atributos de dissimulação, traição e ludíbrios para
a consecução de intentos escusos.
No entanto, ambíguas que sejam, inacessíveis ou caprichosas, nem toda
mulher revela-se uma “Cleópatra”. Consigne-se, seja como for, que a rainha do Egito parece haver
empregado o seu poder de sedução para atrair Marco Antônio, com o objetivo mais
ou menos claro de manter a hegemonia política sobre a terra dos faraós.
Sumariando: nem todas as cores do mundo se resumem a um fundo preto e branco; há
matizes que necessitam ser apreciados (rs)!
J.A.R. – H.C.
Femme et Chatte
Elle jouait avec sa chatte,
Et c’était merveille de voir
La main blanche et la blanche patte
S'ébattre dans l’ombre du soir.
Elle cachait − la scélérate! −
Sous ces mitaines de
fil noir
Ses meurtriers ongles d’agate,
Coupants et clairs comme un rasoir.
L’autre aussi faisait la sucrée
Et rentrait sa griffe acérée,
Mais le diable n’y perdait rien...
Et dans le boudoir où, sonore,
Tintait son rire aérien,
Brillaient quatre points de phosphore.
Femme au Chat (1923)
Micao Kono (1876-1954)
Mulher e Gata
Ela e sua gata brincavam,
De modo a fascinar
quem as vê
A mão branca e a
branca pata
Divertindo-se na penumbra
da noite.
Ela escondia – a
pérfida! –
Sob aquelas mitenes
de fio negro
Suas letais unhas de
ágata,
Afiadas e claras como
uma navalha.
A outra mantinha-se
melíflua
E retraía a aguçada garra,
Embora o diabo nada
perdesse...
E no camarim onde,
sonoras,
ressoavam aéreas
gargalhadas,
Brilhavam quatro
pontos fosforescentes.
Referência:
VERLAINE, Paul. Femme et Chatte. In: NOVARINO-POTHIER, Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes. Paris: Omnibus, 2013. p. 62.
VERLAINE, Paul. Femme et Chatte. In: NOVARINO-POTHIER, Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes. Paris: Omnibus, 2013. p. 62.
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