Vamos a outro soneto de Taine (1828-1893), o francês que se esmerou em colocar na
forma poética fixa, mais do que clássica, tudo o que houvera observado em seu
convívio com os bichanos.
Como Tirésias, o gato seria capaz de tudo pressentir, vislumbrar, mesmo
num cenário turvo, pois seus sentidos aguçados contam ainda com o apoio de
antenas ultrassensíveis em sua face: os cílios e bigodes. Sob o ângulo da
mística, como se vê, um poema que é feito de sensações e presciência.
J.A.R. – H.C.
La Sensibilité
Des cils roides et
longs, antennes hérissées,
Font sentinelle
autour de son nez frémissant;
Et le plus léger
bruit qui le frôle en passant
Élargit sur son front ses oreilles dressées.
Quand la nuit a brouillé les formes effacées,
Il voit; le monde noir à son regard perçant
Ouvre ses
profondeurs; il distingue, il pressent;
Ses sens plus acérés aiguisent ses pensées.
Des craquements de feu courent sur son poil roux;
Tout le long de sa moelle un tressaillement doux
Conduit l’émotion en son âme inquiète.
Les poils de son
museau vibrent à l’unisson,
Et sa queue éloquente
a le divin frisson,
Comme une lyre l’or aux mains d’un grand poète.
A Sensibilidade
Os cílios tesos e longos,
antenas eriçadas,
Fazem sentinela ao
redor de seu nariz fremente;
E o mais leve ruído
que de passagem ocorra
Expande na fronte as
suas orelhas eretas.
Mesmo quando a noite enleia
as formas esmaecidas,
Ele enxerga; o mundo
escuro ao seu olhar atilado
Abre suas
profundezas; ele distingue, ele pressente;
Seus sentidos mais
aguçados apuram seus pensamentos.
O crepitar do fogo incide
sobre o seu pelo ruivo;
Ao longo de sua
medula um assombro suave
Conduz a emoção à sua
alma inquieta.
Os pelos de seu focinho
vibram em uníssono,
e sua cauda eloquente
agita-se num divino frisson,
Como uma lira de ouro
nas mãos de um grande poeta.
Referência:
TAINE, Hippolyte. La sensibilité. In: NOVARINO-POTHIER,
Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes.
Paris: Omnibus, 2013. p. 53.
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