Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Hippolyte Taine – A Sagacidade Felina

Vamos a outro soneto de Taine (1828-1893), o francês que se esmerou em colocar na forma poética fixa, mais do que clássica, tudo o que houvera observado em seu convívio com os bichanos.

Como Tirésias, o gato seria capaz de tudo pressentir, vislumbrar, mesmo num cenário turvo, pois seus sentidos aguçados contam ainda com o apoio de antenas ultrassensíveis em sua face: os cílios e bigodes. Sob o ângulo da mística, como se vê, um poema que é feito de sensações e presciência.

J.A.R. – H.C.

La Sensibilité

Des cils roides et longs, antennes hérissées,
Font sentinelle autour de son nez frémissant;
Et le plus léger bruit qui le frôle en passant
Élargit sur son front ses oreilles dressées.

Quand la nuit a brouillé les formes effacées,
Il voit; le monde noir à son regard perçant
Ouvre ses profondeurs; il distingue, il pressent;
Ses sens plus acérés aiguisent ses pensées.

Des craquements de feu courent sur son poil roux;
Tout le long de sa moelle un tressaillement doux
Conduit l’émotion en son âme inquiète.

Les poils de son museau vibrent à l’unisson,
Et sa queue éloquente a le divin frisson,
Comme une lyre l’or aux mains d’un grand poète.


A Sensibilidade

Os cílios tesos e longos, antenas eriçadas,
Fazem sentinela ao redor de seu nariz fremente;
E o mais leve ruído que de passagem ocorra
Expande na fronte as suas orelhas eretas.

Mesmo quando a noite enleia as formas esmaecidas,
Ele enxerga; o mundo escuro ao seu olhar atilado
Abre suas profundezas; ele distingue, ele pressente;
Seus sentidos mais aguçados apuram seus pensamentos.

O crepitar do fogo incide sobre o seu pelo ruivo;
Ao longo de sua medula um assombro suave
Conduz a emoção à sua alma inquieta.

Os pelos de seu focinho vibram em uníssono,
e sua cauda eloquente agita-se num divino frisson,
Como uma lira de ouro nas mãos de um grande poeta.

Referência:

TAINE, Hippolyte. La sensibilité. In: NOVARINO-POTHIER, Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes. Paris: Omnibus, 2013. p. 53.
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