O poeta italiano Cesare Pavese é o autor do deslumbrante poema que ora
transcrevemos, por meio do qual ele nos faz ver que os gatos têm o poder de
clarividência ou de percepção antecipada. O poeta com os seus gatos espera por
sua amada que, pelo visto, não retornará: um final nada feliz, como o do
próprio autor.
Informe-se que encontrei o poema já traduzido num dos números da revista
da Academia Brasileira de Letras, conforme indicado na referência ao final
desta postagem. Para quem adora literatura, como este que vos escreve, é um endereço
em que sempre aparecem coisas ótimas, em especial na seção de “poesia
estrangeira” da revista, que, como se vê, não resistiu ao apelo globalizado da
net.
Assim, os “imortais” tornam-se cada vez mais “imortais”, passando a
constar no consciente e no inconsciente coletivo da humanidade (rs)...
Bom proveito.
J.A.R. – H.C.
Cesare Pavese
(1908-1950)
I gatti lo sapranno
Ancora cadrà la pioggia
sui tuoi dolci selciati,
una pioggia leggera
come un alito o un passo.
Ancora la brezza e l’alba
fioriranno leggere
come sotto il tuo passo,
quando tu rientrerai.
Tra fiori e davanzali
i gatti lo sapranno.
Ci saranno altri giorni,
ci saranno altre voci.
Sorriderai da sola.
I gatti lo sapranno.
Udrai parole antiche,
parole stanche e vane
come i costumi smessi
delle feste di ieri.
Farai gesti anche tu.
Risponderai parole –
viso di primavera,
farai gesti anche tu.
I gatti lo sapranno,
viso di primavera;
e la pioggia leggera,
l’alba color giacinto,
che dilaniano il cuore
di chi più non ti spera,
sono il triste sorriso
che sorridi da sola.
Ci saranno altri giorni,
altre voci e risvegli.
Soffriremo nell’alba,
viso di primavera.
(10 aprile 1950)
Os Gatos Saberão
Ainda estará chovendo
nas calçadas por que passas
chuva leve, em surdina,
como passos, aragem.
Ainda a brisa e a aurora
suavemente se abrirão
como sob os teus passos
quando a mim regressares.
Entre as flores da sacada
os gatos saberão.
Haverá outros dias,
haverá outras vozes.
Sorrirás solitária.
Os gatos saberão.
Ouvirás do passado
palavras vãs, cansadas,
como trajes largados
dos festejos da véspera.
Farás gestos também.
Responderás com palavras –
olhos de primavera,
farás gestos também.
Os gatos saberão,
olhos de primavera;
e a chuva em surdina,
e a alba cor de jacinto,
que o coração laceram
de quem já não te espera,
são o triste sorriso
que sorris solitária.
Haverá outros dias,
vozes e despertares.
Sofreremos na aurora,
olhos de primavera.
(10 abril 1950)
Referência:
PAVESE,
Cesare. I gatti lo sapranno. Revista Brasileira. Fase VII, abril-maio-junho 2011,
ano XVII, n. 67. Academia Brasileira de Letras. Tradução de Geraldo Holanda
Cavalcanti. p. 248-251. Disponível neste endereço. Acesso em: 4 maio 2014.
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