Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Torquato Tasso – Às Gatas do Hospital de Sant’Anna

Torquato Tasso, escritor e dramaturgo italiano, enquanto esteve trancafiado no Hospital de SantAnna (1579-1586), em Ferrara, nunca abriu mão de produzir suas obras literárias.

Neste sublime soneto, o cativo suplica a uma gata que lhe empreste o brilho de seus olhos para prover-lhe de luz, da qual está privado. Para o autor de “Jerusalém Libertada”, gatos são para os escritores como as estrelas do céu para os navegantes, auxiliando-os no alcance de seus intentos.

Como se nota em seu texto, ainda que o tema do poema seja – como diríamos? – de menor alcance, as formas intrínsecas de expressão se mostram quase sempre enfáticas, tomadas por evocações ou súplicas que venham ao encontro da mitigação das misérias do próprio poeta.

E penso que não seja fingimento o que Tasso nos traz ao conhecimento. Ou melhor: não é uma dor pessoana, mesmo que se trate de um vate dos maiores!

J.A.R. – H.C.
Torquato Tasso
(1544-1595)

Alle gatte dello spedale di Sant’Anna

Come nell’Ocean, s’oscura e ‘nfesta,
procella il rende torbido, e sonante,
alle stelle, onde il polo è fiammeggiante,
stanco nocchier di notte alza la testa;

così io mi volgo, o bella gatta, in questa
fortuna avversa alle tue luci sante,
e mi sembra due stelle aver davante,
che tramontana sia nella tempesta.

Veggio un’altra gattina, e veder parmi
l’Orsa maggior colla minore: o gatte,
lucerne del mio studio, o gatte amate,

se Dio vi guardi dalle bastonate,
se ‘l Ciel vi pasca di carme e di latte,
fatemi luce a scriver questi carmi. 


Às Gatas do Hospital de SantAnna

Como no Oceano, se obscura e funesta
procela o torna revolto e tonitruante,
de noite, estando o polo flamejante,
o fatigado nauta ergue o rosto às estrelas;

Assim eu me volto, oh bela gata, nesta
fortuna adversa até tuas santas luzes,
à frente postadas como duas estrelas,
que bússola sejam em meio à tempestade.

Avisto uma outra gatinha, e pareceu-me ver
a Ursa Maior com a Menor: oh gatas,
candeias de minhas vigílias, oh gatas amadas,

se Deus as protege do maltrato,
se o Céu as alimenta com carne e leite,
fazei-me luz para eu escrever este poema.

Referência:

TASSO, Torquato. Stesso Soggetto. In: __________. Opere di Torquato Tasso. Volume VI. Rime di Torquato Tasso. Tomo IV. Pisa, IT: Presso Niccolò Capurro, 1822. p. 216.
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