Torquato Tasso, escritor e dramaturgo
italiano, enquanto esteve trancafiado no Hospital de Sant’Anna (1579-1586), em
Ferrara, nunca abriu mão de produzir suas obras literárias.
Neste sublime soneto, o cativo suplica
a uma gata que lhe empreste o brilho de seus olhos para prover-lhe de luz, da
qual está privado. Para o autor de “Jerusalém Libertada”, gatos são para os
escritores como as estrelas do céu para os navegantes, auxiliando-os no alcance
de seus intentos.
Como se nota em seu texto, ainda que o
tema do poema seja – como diríamos? – de menor alcance, as formas intrínsecas
de expressão se mostram quase sempre enfáticas, tomadas por evocações ou
súplicas que venham ao encontro da mitigação das misérias do próprio poeta.
E penso que não seja fingimento o que
Tasso nos traz ao conhecimento. Ou melhor: não é uma dor pessoana, mesmo que se
trate de um vate dos maiores!
J.A.R. – H.C.
Torquato Tasso
(1544-1595)
Alle gatte
dello spedale di Sant’Anna
Come nell’Ocean,
s’oscura e ‘nfesta,
procella il rende
torbido, e sonante,
alle stelle, onde il polo è fiammeggiante,
stanco nocchier di
notte alza la testa;
così io mi volgo, o
bella gatta, in questa
fortuna avversa alle
tue luci sante,
e mi sembra due
stelle aver davante,
che tramontana sia
nella tempesta.
Veggio un’altra
gattina, e veder parmi
l’Orsa maggior colla
minore: o gatte,
lucerne del mio
studio, o gatte amate,
se Dio vi guardi
dalle bastonate,
se ‘l Ciel vi pasca
di carme e di latte,
fatemi luce a scriver
questi carmi.
Às Gatas do Hospital de Sant’Anna
Como no Oceano, se
obscura e funesta
procela o torna revolto
e tonitruante,
de noite, estando o polo flamejante,
o fatigado nauta
ergue o rosto às estrelas;
Assim eu me volto, oh
bela gata, nesta
fortuna adversa até
tuas santas luzes,
à frente postadas
como duas estrelas,
que bússola sejam em
meio à tempestade.
Avisto uma outra
gatinha, e pareceu-me ver
a Ursa Maior com a
Menor: oh gatas,
candeias de minhas
vigílias, oh gatas amadas,
se Deus as protege do
maltrato,
se o Céu as alimenta com
carne e leite,
fazei-me luz para eu escrever
este poema.
Referência:
TASSO, Torquato. Stesso
Soggetto. In: __________. Opere
di Torquato Tasso. Volume VI. Rime di Torquato Tasso. Tomo IV. Pisa, IT:
Presso Niccolò Capurro, 1822. p. 216.
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