Variando
um pouco em relação ao padrão de temas que, costumeiramente, os poetas associam
aos gatos, trazemos à net um “achado” da poetisa uruguaia Laura Inés, com adjetivações inauditas para os
bichanos: “oxidados”, “macrocósmicos”, pairando aqui, até mesmo dentro de nós,
assim como a anos-luz destas plagas. Uma metáfora! Obviamente, uma “obra
aberta”, como diria Umberto Eco, que ao leitor caberá deslindar por meio de uma
interpretação plausível.
Se há
poderes para se estar onipresente, difuso em todo o cosmos, como um
superabundante magma felino, qual será a galáxia, endógena ou exógena, capaz de
ficar à margem do maior dos plasmas existentes: a mente humana?
J.A.R.
– H.C.
Laura Inés Martínez Coronel
Gatos
Tengo
gatos en la luna
oxidados,
enigmáticos
macrocósmicos
elásticos
Tengo
gatos en el vientre
pesarosos,
desatados
violentos
y temerarios
al
arrullo de un planeta
serpenteando
Tengo
gatos, gatos, gatos
sangradores
milenarios
vibratorios
cabizbajos
por
la espalda de la sombra
con
los gatos de los sueños
la
memoria de la siesta
solitarios
Gatos
Tenho
gatos na lua
oxidados,
enigmáticos
macrocósmicos
elásticos
Tenho
gatos no ventre
pesarosos,
desatados
violentos
e temerários
ao
arrulho de um planeta
serpenteando
Tenho
gatos, gatos, gatos
sangradores
milenários
vibratórios
cabisbaixos
pelo
dorso da sombra
com
os gatos dos sonhos
a
memória da sesta
solitários
Referência:
CORONEL,
Laura Inés Marínez. Gatos. In: ABRACE. Entresiglos II: selección de
poesía de autores contemporáneos. Montevideo: Bianchi; Brasília: Pilar, 2002.
p. 173-174. (Colleción Señales de Vida)
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