Charles Bukowski é bem conhecido por seus escritos plenos de passagens
desconcertantes, por vezes politicamente incorretas, nas quais um invariável e
contundente binário sempre comparece: sexo e bebidas alcoólicas.
O norte-americano – nascido na Alemanha, diga-se – é o autor do conto “A
Mulher mais Linda da Cidade”, que o diretor italiano Marco Ferreri levou às
telas do cinema em “Crônica de uma Amor Louco” (Storie di ordinaria follia), de
1981, com ótimo desempenho da dupla de atores Ben Gazzara e Ornella Muti. Eis
aí, para os cinéfilos, uma grande sugestão!
Contudo, estamos aqui para falar das relações de Bukowski com os seus
gatos, a quem denomina “seus mestres”, pelo jeito relaxado e ocioso com que
levam a vida. Despreocupado também é o modo como o autor escreve os seus poemas: não
há qualquer desvelo em iniciar as frases com maiúsculas, conforme recomenda
o cânone culto da língua escrita.
Nesse contexto, mantive a forma original do poema, embora a versão que
apresento em português seja a convencional, como prescreve o figurino. Ou por
outra: deixemos a iconoclastia apenas com quem dela saiba muito bem lançar mão!
J.A.R. – H.C.
Bukowski (1920-1994)
My Cats
I know. I know.
they are limited, have different
needs and
concerns.
but I watch and learn from them.
I like the little they know,
which is so
much.
they complain but never
worry,
they walk with a surprising dignity.
they sleep with a direct simplicity that
humans just can’t
understand.
their eyes are more
beautiful than our eyes.
and they can sleep 20 hours
a day
without
hesitation or
remorse.
when I am feeling
low
all I have to do is
watch my cats
and my
courage returns.
I study these
creatures.
they are my
teachers.
Meus Gatos
Eu sei. Eu sei.
Eles são limitados, têm
distintas
necessidades e
preocupações.
Mas eu os observo e
aprendo com eles.
Eu aprecio o pouco
que sabem,
que é
tanto.
Eles rosnam mas jamais
se inquietam,
perambulam com uma
surpreendente dignidade.
Eles dormem com uma
direta simplicidade que
os humanos não são
capazes de
entender.
Seus olhos são mais
belos que os nossos
olhos.
E eles podem dormir
20 horas
por dia
sem
hesitação ou
remorso.
Quando me sinto
desalentado
tudo o que tenho a
fazer
é contemplar os meus
gatos
e assim
ressurge-me a coragem.
Eu estudo essas
criaturas.
Os gatos são os meus
mestres.
BUKOWSKI, Charles. My cats. In: __________. Come in!: news poems. Edited by John Martin. New York: HarperCollins,
2006. p. 242-243.
ö
Agradecida, bela contribuição.
ResponderExcluirNão há de quê. Nós é que temos a agradecer pela companhia de nosso 'blog'.
ResponderExcluirAdoro Bukowski, adoro gatos. Legal o texto.
ResponderExcluirAgradeço muito pelo comentário. Como você já deve ser percebido, há um marcador à esquerda do blog ("Apologia do Gato"), hoje contando uma centena de postagens, com muitos poemas sobre os bichanos, inclusive outros do próprio Bukowski. Um abraço. João A. Rodrigues
ResponderExcluirCaro João,
ResponderExcluirParabéns e obrigado por esta bela postagem com este singelo e adorável poema de Charles Bukowski que, neste caso,graças a você, ainda vai trazer um sorriso aos lábios de uma amiga minha portuguesa que, tal como você e o velho "Buk", ama estes estilosos animais, os gatos.
Muito agradeço por suas palavras e bem mais por prestigiar este bloguinho.
ResponderExcluirUm grande abraço,
João A. Rodrigues
Impossível não gostar do velho Buk. Seus textos e poemas nos mostram como a vida realmente é.
ResponderExcluirAbraços
Caro Hank: A parte final de seu comentário quase me fez lembrar de um certo autor brasileiro... Brincadeira!
ResponderExcluirDe fato, as suas histórias, apesar de as vezes insólitas, refletem bem um certo modo de vida dissoluto.
A adaptação de Marco Ferreri para “Crônica de um Amor Louco”, lá pelos anos 80, com a atriz Ornella Muti no auge da beleza, ficou ótima na grande tela.
E vida que segue, seja como for.
Um abraço,
João A. Rodrigues