Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Charles Bukowski - Meus Gatos

Charles Bukowski é bem conhecido por seus escritos plenos de passagens desconcertantes, por vezes politicamente incorretas, nas quais um invariável e contundente binário sempre comparece: sexo e bebidas alcoólicas.

O norte-americano – nascido na Alemanha, diga-se – é o autor do conto “A Mulher mais Linda da Cidade”, que o diretor italiano Marco Ferreri levou às telas do cinema em “Crônica de uma Amor Louco” (Storie di ordinaria follia), de 1981, com ótimo desempenho da dupla de atores Ben Gazzara e Ornella Muti. Eis aí, para os cinéfilos, uma grande sugestão!

Contudo, estamos aqui para falar das relações de Bukowski com os seus gatos, a quem denomina “seus mestres”, pelo jeito relaxado e ocioso com que levam a vida. Despreocupado também é o modo como o autor escreve os seus poemas: não há qualquer desvelo em iniciar as frases com maiúsculas, conforme recomenda o cânone culto da língua escrita.

Nesse contexto, mantive a forma original do poema, embora a versão que apresento em português seja a convencional, como prescreve o figurino. Ou por outra: deixemos a iconoclastia apenas com quem dela saiba muito bem lançar mão!

J.A.R. – H.C.

Bukowski (1920-1994) 

My Cats

I know. I know.
they are limited, have different
needs and
concerns.

but I watch and learn from them.
I like the little they know,
which is so
much.

they complain but never
worry,
they walk with a surprising dignity.
they sleep with a direct simplicity that
humans just can’t
understand.

their eyes are more
beautiful than our eyes.
and they can sleep 20 hours
a day
without
hesitation or
remorse.

when I am feeling
low
all I have to do is
watch my cats
and my
courage returns.

I study these
creatures.

they are my
teachers.


Meus Gatos

Eu sei. Eu sei.
Eles são limitados, têm distintas
necessidades e preocupações.

Mas eu os observo e aprendo com eles.
Eu aprecio o pouco que sabem,
que é
tanto.

Eles rosnam mas jamais
se inquietam,
perambulam com uma surpreendente dignidade.
Eles dormem com uma direta simplicidade que
os humanos não são capazes de
entender.

Seus olhos são mais
belos que os nossos olhos.
E eles podem dormir 20 horas
por dia
sem
hesitação ou
remorso.

Quando me sinto
desalentado
tudo o que tenho a fazer
é contemplar os meus gatos
e assim
ressurge-me a coragem.

Eu estudo essas
criaturas.

Os gatos são os meus
mestres.

BUKOWSKI, Charles. My cats. In: __________. Come in!: news poems. Edited by John Martin. New York: HarperCollins, 2006. p. 242-243.
ö

8 comentários:

  1. Agradecida, bela contribuição.

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  2. Não há de quê. Nós é que temos a agradecer pela companhia de nosso 'blog'.

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  3. Adoro Bukowski, adoro gatos. Legal o texto.

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  4. Agradeço muito pelo comentário. Como você já deve ser percebido, há um marcador à esquerda do blog ("Apologia do Gato"), hoje contando uma centena de postagens, com muitos poemas sobre os bichanos, inclusive outros do próprio Bukowski. Um abraço. João A. Rodrigues

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  5. Caro João,
    Parabéns e obrigado por esta bela postagem com este singelo e adorável poema de Charles Bukowski que, neste caso,graças a você, ainda vai trazer um sorriso aos lábios de uma amiga minha portuguesa que, tal como você e o velho "Buk", ama estes estilosos animais, os gatos.

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  6. Muito agradeço por suas palavras e bem mais por prestigiar este bloguinho.‎
    Um grande abraço,‎
    João A. Rodrigues

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  7. Impossível não gostar do velho Buk. Seus textos e poemas nos mostram como a vida realmente é.
    Abraços

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  8. Caro Hank: A parte final de seu comentário quase me fez lembrar de um certo autor brasileiro... Brincadeira!
    De fato, as suas histórias, apesar de as vezes insólitas, refletem bem um certo modo de vida dissoluto.
    A adaptação de Marco Ferreri para “Crônica de um Amor Louco”, lá pelos anos 80, com a atriz Ornella Muti no auge da beleza, ficou ótima na grande tela.
    E vida que segue, seja como for.
    Um abraço,
    João A. Rodrigues

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