Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 11 de maio de 2014

Dia das Mães – Sonetos à Mancheia

Hoje, segundo domingo do mês de maio, dia 11.5.14, trazemos a lume um conjunto de poemas que têm a figura materna como tema principal. São sete sonetos de autores nacionais, alguns mais conhecidos, como Coelho Neto ou Bastos Tigre, outros nem tanto.

Se me for permitido fazer um aparte algo tributário deste comando, poderia relembrar os anos de meus estudos secundaristas, lá pelos anos 70 do século passado, em Belém do Pará: quando o ponto sob análise eram as famosas figuras de linguagem, nas aulas do Prof. Waldecir, no antigo Colégio Magalhães Barata, eis que me apareceu, num exame intermediário, a frase “Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!”, para que se afirmasse qual a figura nela presente – uma antítese, obviamente!

Mas reconhecer, mesmo, a fonte de onde foi extraído o dito excerto, somente agora, quase 35 anos depois, logrei descobrir! Aparece ele no segundo verso, do segundo terceto, do primeiro soneto abaixo postado, de autoria de Coelho Neto (1864-1934), poeta maranhense, reputado à sua época, mas hoje quase relegado ao ostracismo.

Tal é mesmo o ciclo imperturbável da vida: do existir, do rememorar e do olvido. Fazer o quê?! Das três mencionadas fases, tem-se aqui, em vista de meu caso particular, apenas um exercício condecorativo da memória, pois aquela que me gerou, e contribuiu para o meu modo de ser, já abraçou a eternidade há alguns anos.

E concluamos: o estado de maternidade não se restringe à sua condicionante biológica – afinal, há mães adotivas –, senão que se estende também ao domínio de uma ética de cuidado que, por sua vez, vai muito além da figura materna, porque – ou estarei equivocado? – há homens que são como verdadeiras mães para os seus filhos (e vice-versa)! Eis aí a presunção de maternidade (e paternidade) “latu sensu”. Para refletir...

Um grande abraço a todas as mães do mundo!

J.A.R. – H.C.

Ser Mãe

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
O coração! Ser mãe é ter no alheio
Lábio, que suga, o pedestal do seio
Onde a vida, onde o amor cantando vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra,
Sobre um berço dormido; é ser anseio,
É ser temeridade, é ser receio,
É ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
Espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!

COELHO NETO, Henrique Maximiano. Ser mãe. In: VALADARES, Napoleão (Org.). De Gregório a Drummond: sonetos. Brasília: André Quicé, 1999. p. 89. 


Minha Mãe

Beijo-te a mão, que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger.
Teu puro amor o coração me acalma;
Provo a doçura do teu bem-querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma
Olho, analiso, linha a linha, a ver
Se em mim descubro um traço da tu'alma,
Se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,
pela sua clareza, me desperta
Um grato enlevo, que jamais senti:

Quer dizer – Mãe – este M tão perfeito,
E, com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.

FONTES, José Martins. Minha mãe. In: VALADARES, Napoleão (Org.). De Gregório a Drummond: sonetos. Brasília: André Quicé, 1999. p. 151. 


Íntimo

Minha mãe! minha mãe! Tu, que adivinhas
Esta mágoa amaríssima que eu canto,
Tu, que trazes as pálpebras de pranto
Cheias, tão cheias como eu trago as minhas;
 
Tu, que vives em lágrimas, e tinhas
A vida, outrora, tão feliz, enquanto
Deste teu filho, que tu queres tanto,
Todas as mágoas serenando vinhas;
 
Tu, que do astro do Bem segues o brilho,
Pede ao Deus que, apesar das tuas dores,
Ainda persiste a castigar teu filho,
 
Que eu não morra a sofrer, como hoje vivo,
Esta angústia de uma árvore sem flores
E esta mágoa de pássaro cativo!

VERAS, Humberto de Campos. Íntimo. In: VALADARES, Napoleão (Org.). De Gregório a Drummond: sonetos. Brasília: André Quicé, 1999. p. 157. 


Soneto à Minha Mãe

Se tivesse eu o dom para a pintura,
assim como Van Gogh ou Renoir,
iria, então, num quadro retratar
uma mulher que é um mim de candura...

Misturaria bem todas as tintas,
num tal lirismo de todas as cores
que talvez parecessem mais com flores
de pétalas revivas, nunca extintas!

Usaria também a luz do arco-íris
para banhar com graça enternecida
os encantos dessa mulher querida.

Mas nunca me perguntem o porquê:
eu pintaria os seus lábios sorrindo
e, de seus olhos, lágrimas fugindo!...

NEVES, Roberto. Soneto à minha mãe. In: FERNANDES, Aparício (Org.). Anuário de poetas do Brasil – 1986. 2. V. Rio de Janeiro: Folha Carioca Editora, 1986. p. 388. 


Mamãe

Na vida eu tive um doce bem sublime,
desses que em tudo a luz do amor abraça.
Rico brilhante, límpido, sem jaça
que a esplendorosa luz do sol exprime.

Na vida eu tive o afeto que redime
toda a amargura que gera a desgraça...
e a sorver o seu néctar na taça,
abominei, do amor do sexo, o crime.

Mas, numa noite em que chovia forte
vi esta vida envolta às mãos da morte,
tolhendo os sonhos que vivi sensato.

E neste dia em que a alegria aflora,
Mamãe, minha alma te relembra e chora,
pois o que sou, somente a ti sou grato.

FILGUEIRA, Jayme Paulo. Mamãe. In: FERNANDES, Aparício (Org.). Anuário de poetas do Brasil – 1986. 2. V. Rio de Janeiro: Folha Carioca Editora, 1986. p. 172. 


Mãe

Mãe – doce monossílabo que encerra
Um mundo de carinho e de bondade.
É um sorriso de Deus que desce à Terra,
Espalhando alegria e claridade.

Coração que não mente e que não erra,
Meiga voz que consola e que persuade,
Verde ramo de paz no lar em guerra,
Arco-íris que põe termo à tempestade.

Por mais que sofra, nunca desespera.
Não se cansa, jamais, por mais que lide,
E, em vindo o inverno, esplende em primavera.

E como o seu amor não há nenhum:
Quando por muitos filhos se divide,
Fica inteirinho para cada um.

TIGRE, Bastos. Mãe. In: __________. Poemas. Org. de Christina Bastos Tigre. Rio de Janeiro: Produção Independente, 2005. 


Mãe

És um ser imortal, que vives na lembrança
eterna dos que, um dia, ao teu meigo regaço,
ninho de sonhos bons, limitaram o espaço
da vida, no correr da vida de criança.

És uma brisa suave, aplacando o mormaço
das humanas ações e, se o teu filho cansa
na áspera caminhada, és consolo e esperança,
em meio à depressão tristonha do cansaço.

Mãe: não terás rival, no afeto ou na saudade!
Tua filosofa é o perdão, que persuade
à prática do bem mesmo os ímpios e os ateus.

Tens um trono no mundo e não te importa o mundo,
pois algo há de maior no mistério profundo
do amor que te faz ver em cada filho um deus!

FÉNDER, Paulo. Mãe. In: __________. Sonetos de Paulo Fénder. Prefácio de Aben Athar Neto. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1960. p. 27.

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