Neste soneto, Keats
nos faz mergulhar na imensidão e nos mistérios do mar, essa força poderosa que,
ao mesmo tempo que inunda, com suas ondas contínuas e troantes, as incontáveis
cavernas costeiras, em outros azos se mostra sereno, com águas pacíficas, quase
paradas, pouco alterando o estado das pequenas conchas que se agrupam ao longo dos
litorais.
Transportando-nos,
assim, do sublime e possante ao pacífico e deslumbrante, o poeta nos convida a
contemplarmos esse prodígio da natureza, envolto numa atmosfera mágica e
indômita sob o domínio dos sortilégios perpetrados pela deusa grega Hécate, mas
também a evocar, por meio do supradito rumorejo de suas vagas, os imaginosos
coros místicos das ninfas – tão decantados pelos vates.
J.A.R. – H.C.
John Keats
(1795-1821)
Retrato de William Hilton
On the sea
It keeps eternal
whisperings around
Desolate shores, and with its mighty swell
Gluts twice ten thousand caverns, till the spell
Of Hecate leaves them
their old shadowy sound.
Often ’tis in such
gentle temper found,
That scarcely will
the very smallest shell
Be moved for days
from where it sometime fell,
When last the winds
of heaven were unbound.
Oh ye! who have your
eye-balls vex’d and tired,
Feast them upon the
wideness of the sea;
Oh ye! whose ears are
dinn’d with uproar rude,
Or fed too much with
cloying melody, –
Sit ye near some old cavern’s
mouth, and brood
Until ye start, as if
the sea-nymphs quired!
A onda
(Gustave Courbet:
pintor francês)
No mar
Ele sustém eternos
murmúrios
Nas praias desoladas, e com suas soberbas cristas
Inunda vinte mil cavernas, até que o sortilégio
De Hécate as deixe
com seu velho e assombroso som.
Muitas vezes se encontra
tão tranquilo,
Que até a menor das
conchas permanece dias imóvel
Desde o desenlace dos
ventos celestiais.
Vós, cujos olhos se
enchem de tormento e tédio,
Regozijai-os com a
imensidão do mar,
Vós, cujos ouvidos
estão atordoados pelo rude ruído,
Ou enfastiados pela
música melosa –
Sentai-vos na boca de
ama velha caverna, e meditai
Até que escuteis,
como se cantassem, as ninfas do mar!
Referência:
KEATS, John. On the
sea / No mar. Tradução de Alberto Marsicano e John Milton. In: __________. Nas
invisíveis asas da poesia. Tradução de Alberto Marsicano e John Milton. 3.
ed. São Paulo, SP: Iluminuras, 2002. Em inglês: p. 16; em português: p. 17.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário