O poeta mexicano
incursiona pelo mistério da morte e o reino que lhe corresponde – acessível ou bem
pela via do sonho profundo ou bem pela própria morte –, onde os mortos, como figuras
régias e misteriosas, têm presença espectral, dada a sua natureza etérea e intangível,
tanto mais que imersos num ar de melancolia e desolação.
Nesse espaço liminar
entre o onírico e a realidade, o falante empreende, de fato, uma viagem simbólica
ao domínio de Hades, de onde deduz os elementos em vista, em outros termos, dos
entes falecidos, frios, imóveis e a distância, com “vozes astrais” fundidas a
elementos da natureza, o que lhes realça a pousada nesse império do imutável e
do longínquo.
J.A.R. – H.C.
Mauricio Gómez
Mayorga
(1913-1992)
Visita Nocturna
Hace tiempo que
ignoro qué hacen los muertos.
Quiero ir a verlos a
sua tristes palácios
adonde se llega durmiendo
hondamente.
En los fríos salones
sin muros
sobre los pisos de
espejo
estarán esperando en
sus tronos,
en sus tronos estarán
sentados e inmóviles
porque los muertos
son blancos monarcas,
reyes de las lunas
del agua.
Yo llegaré, yo iré
preguntando sus nombres azules
mirando una tras
outra sus caras vacías.
Hay algunas que yo
reconozco:
las he visto en las
nubes,
en las manchas de
humedad de los muros,
en las cosas podridas
en el fondo del agua.
Yo marcho vestido de
sueño
saludando a los muertos,
dando mi mano dormida
a sus finas manos
traslúcidas.
Ellos son reyes y
personajes terribles,
caballeros de tristes
alcumias
seres nefastos de
ropas de nieve.
Al llegar al último
trono
en el extremo del
mundo, yo me despido,
todos responden con
sus voces astrales,
las voces del llanto
del viento cuando sopla
en las ruínas.
A ilha dos mortos
(Arnold Böcklin:
pintor suíço)
Visita Noturna
Há muito tempo ignoro
o que fazem os mortos.
Quero ir vê-los em
seus tristes palácios
aonde se chega
dormindo fundamente.
Nos gelados salões
sem paredes
sobre os assoalhos de
espelho
estarão esperando em
seus tronos,
em seus tronos
estarão sentados e imóveis,
porquanto os mortos
são brancos monarcas,
reis das luas da
água.
Eu chegarei, irei
perguntando os seus nomes azuis,
olhando de uma a uma
as suas caras vazias.
Algumas há que eu
reconheço:
vi-as, antes, nas
nuvens,
nas manchas de
umidade das paredes,
nas coisas
putrefeitas no profundo das águas.
Caminho vestido de
sonho,
cumprimentando os
mortos,
dando a minha mão
dormida
às suas finas mãos
translúcidas.
Eles são reis e são
personagens terríveis,
cavaleiros de tristes
progênies,
seres nefastos de
roupas de neve.
Ao chegar ao último
trono
na extremidade do
mundo, eu me despeço,
com suas vozes
astrais todos respondem
as vozes do pranto do
vento quando sopra
nas ruinas.
Referência:
MAYORGA, Mauricio
Gómez. Visita nocturna / Visita noturna. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Seleção e Tradução). Grandes
vozes líricas hispano-americanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, 1990. Em espanhol: p. 254; em português: p. 255.
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