Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Mauricio Gómez Mayorga - Visita Noturna

O poeta mexicano incursiona pelo mistério da morte e o reino que lhe corresponde – acessível ou bem pela via do sonho profundo ou bem pela própria morte –, onde os mortos, como figuras régias e misteriosas, têm presença espectral, dada a sua natureza etérea e intangível, tanto mais que imersos num ar de melancolia e desolação.

 

Nesse espaço liminar entre o onírico e a realidade, o falante empreende, de fato, uma viagem simbólica ao domínio de Hades, de onde deduz os elementos em vista, em outros termos, dos entes falecidos, frios, imóveis e a distância, com “vozes astrais” fundidas a elementos da natureza, o que lhes realça a pousada nesse império do imutável e do longínquo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mauricio Gómez Mayorga

(1913-1992)

 

Visita Nocturna

 

Hace tiempo que ignoro qué hacen los muertos.

Quiero ir a verlos a sua tristes palácios

adonde se llega durmiendo hondamente.

 

En los fríos salones sin muros

sobre los pisos de espejo

estarán esperando en sus tronos,

en sus tronos estarán sentados e inmóviles

porque los muertos son blancos monarcas,

reyes de las lunas del agua.

 

Yo llegaré, yo iré preguntando sus nombres azules

mirando una tras outra sus caras vacías.

 

Hay algunas que yo reconozco:

las he visto en las nubes,

en las manchas de humedad de los muros,

en las cosas podridas en el fondo del agua.

 

Yo marcho vestido de sueño

saludando a los muertos,

dando mi mano dormida

a sus finas manos traslúcidas.

Ellos son reyes y personajes terribles,

caballeros de tristes alcumias

seres nefastos de ropas de nieve.

 

Al llegar al último trono

en el extremo del mundo, yo me despido,

todos responden con sus voces astrales,

las voces del llanto del viento cuando sopla

en las ruínas.

 

A ilha dos mortos

(Arnold Böcklin: pintor suíço)

 

Visita Noturna

 

Há muito tempo ignoro o que fazem os mortos.

Quero ir vê-los em seus tristes palácios

aonde se chega dormindo fundamente.

 

Nos gelados salões sem paredes

sobre os assoalhos de espelho

estarão esperando em seus tronos,

em seus tronos estarão sentados e imóveis,

porquanto os mortos são brancos monarcas,

reis das luas da água.

 

Eu chegarei, irei perguntando os seus nomes azuis,

olhando de uma a uma as suas caras vazias.

 

Algumas há que eu reconheço:

vi-as, antes, nas nuvens,

nas manchas de umidade das paredes,

nas coisas putrefeitas no profundo das águas.

 

Caminho vestido de sonho,

cumprimentando os mortos,

dando a minha mão dormida

às suas finas mãos translúcidas.

Eles são reis e são personagens terríveis,

cavaleiros de tristes progênies,

seres nefastos de roupas de neve.

 

Ao chegar ao último trono

na extremidade do mundo, eu me despeço,

com suas vozes astrais todos respondem

as vozes do pranto do vento quando sopra

nas ruinas.

 

Referência:

 

MAYORGA, Mauricio Gómez. Visita nocturna / Visita noturna. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Seleção e Tradução). Grandes vozes líricas hispano-americanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1990. Em espanhol: p. 254; em português: p. 255.

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