O poeta e diplomata
mexicano singra pelos mares da criação artística, sua profundidade, seus
mistérios, sua perfeita beleza, efêmera e eterna a sum só tempo, sempre a
escapar de seu alcance, forçando-o amiúde a ir um pouco mais além, num esforço
integrante de jorros que vão do mental ao espiritual – porque a arte é mesmo
isso, a expressão mais elevada do espírito humano!
A despeito de o poeta
reconhecer que, à partida, não detém as palavras certas ou apropriadas para
expressar a beleza e o mistério dessa “rosa” – tão versada em harmonizar os
elementos da alma quanto em saciar as suas “auroras” –, os vocábulos, ainda assim,
são o salvatério mediante o qual, aferindo o pulsar de seu coração, logra criar
uma oferenda poética à altura do poder transformador do objeto de sua adoração.
J.A.R. – H.C.
Alfonso Reyes
(1889-1959)
Arte
Perfecta rosa que
adoro
y en sus pétalos de
viento
lleva las aromas
mudas,
suma los vórtices
quietos.
Cifra y cápsula de
mundos
que en mil años de
secreto
ha juntado los
arrobos
de lunas y de
misterios.
Húmeda como creada,
fugitiva como sueño,
como las vislumbres
rauda,
miedosa como el
acecho:
Si a desvanecerte vas
en los ahogos del
pecho,
bebe antes en mi
sangre
toda la sal que te
debo.
Llévate mi ser al
fondo
de tus abismos de
cielo:
no me dejes en el
mundo
cautivo de mis
deseos.
Número soy de tu
cuenta,
danza de tu
movimiento,
y a la vez que tu
remolque,
ámbito soy de tu
vuelo.
Cuando aspiras,
cuando subes,
alondra de
sentimiento,
para saciar tus
auroras
la luz no tiene
sustento.
Una leyenda de sabios
que hace mucho estoy
leyendo
te esconde como
mentira,
te desaira como
cuento.
Mas yo que tus leyes
sigo
y en tus aires me
gobierno,
sé que en los usos del
alma
eres el uso perfecto:
Que eres, como la
música,
dulce plenitud del
tiempo,
y maestra en ajustar
la voz con el
pensamiento.
Que vives de no vivir
en otro vivir más
cierto:
insaciable sed del
agua
que no bebe su
elemento.
Perfecta rosa que
adoro:
para implorarte no
encuentro
sino medir las
palabras
con los latidos del
pecho.
México, 1940.
O Jardim das Rosas
(Childe Hassam:
pintor norte-americano)
Arte
Perfeita e adorável rosa,
que em suas pétalas
de vento
retém silenciosos aromas,
colige os vórtices quietos.
Cifra e cápsula de
mundos
que em mil anos de
segredo
enfeixou os arroubos
de luas e de
mistérios.
Úmida como criada,
fugitiva como sonho,
como os vislumbres veloz,
receosa como a
espreita:
Se desvanecer-te vais
nas tribulações do
peito,
sorve antes em meu
sangue
todo o sal que te
devo.
Leva meu ser ao cerne
de teus abismos
celestiais:
não me deixes no
mundo
cativo de meus
desejos.
Número sou de tua
conta,
dança de teu
movimento,
e tanto quanto o teu
reboque,
sou o alcance do teu
voo.
Quando aspiras,
quando sobes,
calhandra de
sentimento,
para saciar tuas
auroras
a luz não tem
sustento.
Uma lenda de homens
sábios
que há muito estou a
ler
esconde-te como
mentira,
desmerece-te como fábula.
Mas eu, que tuas leis
sigo
e em teus ares me
governo,
sei que entre os usos
da alma
és o uso perfeito:
Que és, como a
música,
doce plenitude do
tempo,
e mestra em ajustar
a voz ao pensamento.
Que vives de não
viveres
em outra vida mais certa:
insaciável sede de
água
que não bebe seu
elemento.
Perfeita e adorável
rosa:
não há como
implorar-te
senão medindo as
palavras
com os latejos do
peito.
México, 1940.
Referência:
REYES, Alfonso. Arte.
In: __________. Obras completas de Alfonso Reys. Tomo X: Constancia
poética. 1. ed., 3. reimp. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, may. 1996.
p. 208-210. (‘Letras Mexicanas’)
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