Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Alfonso Reyes - Arte

O poeta e diplomata mexicano singra pelos mares da criação artística, sua profundidade, seus mistérios, sua perfeita beleza, efêmera e eterna a sum só tempo, sempre a escapar de seu alcance, forçando-o amiúde a ir um pouco mais além, num esforço integrante de jorros que vão do mental ao espiritual – porque a arte é mesmo isso, a expressão mais elevada do espírito humano!

 

A despeito de o poeta reconhecer que, à partida, não detém as palavras certas ou apropriadas para expressar a beleza e o mistério dessa “rosa” – tão versada em harmonizar os elementos da alma quanto em saciar as suas “auroras” –, os vocábulos, ainda assim, são o salvatério mediante o qual, aferindo o pulsar de seu coração, logra criar uma oferenda poética à altura do poder transformador do objeto de sua adoração.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alfonso Reyes

(1889-1959)

 

Arte

 

Perfecta rosa que adoro

y en sus pétalos de viento

lleva las aromas mudas,

suma los vórtices quietos.

 

Cifra y cápsula de mundos

que en mil años de secreto

ha juntado los arrobos

de lunas y de misterios.

 

Húmeda como creada,

fugitiva como sueño,

como las vislumbres rauda,

miedosa como el acecho:

 

Si a desvanecerte vas

en los ahogos del pecho,

bebe antes en mi sangre

toda la sal que te debo.

 

Llévate mi ser al fondo

de tus abismos de cielo:

no me dejes en el mundo

cautivo de mis deseos.

 

Número soy de tu cuenta,

danza de tu movimiento,

y a la vez que tu remolque,

ámbito soy de tu vuelo.

 

Cuando aspiras, cuando subes,

alondra de sentimiento,

para saciar tus auroras

la luz no tiene sustento.

 

Una leyenda de sabios

que hace mucho estoy leyendo

te esconde como mentira,

te desaira como cuento.

 

Mas yo que tus leyes sigo

y en tus aires me gobierno,

sé que en los usos del alma

eres el uso perfecto:

 

Que eres, como la música,

dulce plenitud del tiempo,

y maestra en ajustar

la voz con el pensamiento.

 

Que vives de no vivir

en otro vivir más cierto:

insaciable sed del agua

que no bebe su elemento.

 

Perfecta rosa que adoro:

para implorarte no encuentro

sino medir las palabras

con los latidos del pecho.

 

México, 1940.

 

O Jardim das Rosas

(Childe Hassam: pintor norte-americano)

 

Arte

 

Perfeita e adorável rosa,

que em suas pétalas de vento

retém silenciosos aromas,

colige os vórtices quietos.

 

Cifra e cápsula de mundos

que em mil anos de segredo

enfeixou os arroubos

de luas e de mistérios.

 

Úmida como criada,

fugitiva como sonho,

como os vislumbres veloz,

receosa como a espreita:

 

Se desvanecer-te vais

nas tribulações do peito,

sorve antes em meu sangue

todo o sal que te devo.

 

Leva meu ser ao cerne

de teus abismos celestiais:

não me deixes no mundo

cativo de meus desejos.

 

Número sou de tua conta,

dança de teu movimento,

e tanto quanto o teu reboque,

sou o alcance do teu voo.

 

Quando aspiras, quando sobes,

calhandra de sentimento,

para saciar tuas auroras

a luz não tem sustento.

 

Uma lenda de homens sábios

que há muito estou a ler

esconde-te como mentira,

desmerece-te como fábula.

 

Mas eu, que tuas leis sigo

e em teus ares me governo,

sei que entre os usos da alma

és o uso perfeito:

 

Que és, como a música,

doce plenitude do tempo,

e mestra em ajustar

a voz ao pensamento.

 

Que vives de não viveres

em outra vida mais certa:

insaciável sede de água

que não bebe seu elemento.

 

Perfeita e adorável rosa:

não há como implorar-te

senão medindo as palavras

com os latejos do peito.

 

México, 1940.

 

Referência:

 

REYES, Alfonso. Arte. In: __________. Obras completas de Alfonso Reys. Tomo X: Constancia poética. 1. ed., 3. reimp. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, may. 1996. p. 208-210. (‘Letras Mexicanas’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário