Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 5 de junho de 2025

D. H. Lawrence - Máximo

O falante intui que o homem nu e estranho que aparece ao portão de sua morada aparenta ter natureza divina, logo confirmada por ele mesmo, ao se apresentar como Hermes, deus mitológico grego, conhecido por ser o mensageiro dos deuses e um mediador entre o divino e o humano.

 

Uma vez convidado a entrar, logo a potestade acomodou-se à lareira, imprimindo ao encontro um matiz tangível e reservado, o que nos transmite a ideia de que o poeta busca enfatizar a necessidade que temos de nos conectar com o sagrado e com ele entrar em íntimo convívio, ainda que, amiúde, algo nessa relação se mantenha além de nossa compreensão imediata.

 

Desse modo, jogando entre o inefável, de um lado, e o ostensivo de uma presença real, de outro, Lawrence, em última instância, empenha-se em conciliar, numa experiência quase mística, o princípio transcendente do divino com o seu elemento imanente.

 

Comentário de Czesław Miłosz ao poema

(Miłosz, 1998, p. 5)

 

D. H. Lawrence, nos versos de “Maximus, regressa ao mundo politeísta, e o poema é tão eficaz que sentimos um choque de reconhecimento, como se nós mesmos fôssemos visitados pelo deus Hermes. Maximus é o nome de um filósofo que foi mestre do imperador Juliano, chamado o Apóstata, por haver tentado restaurar o paganismo.

 

A Epifania pode significar um momento privilegiado da nossa vida entre as coisas deste mundo, em que elas revelam subitamente algo de que não nos apercebemos até então; e esse algo é como uma insinuação do seu lado misterioso e oculto. De certa forma, a poesia é uma tentativa de romper a densidade da realidade para se imergir numa zona onde as coisas mais simples voltam a ser tão frescas, como se estivessem a ser vistas por uma criança.

 

Esta antologia [v. referência] está cheia de epifanias. Decidi colocar algumas delas separadas num primeiro capítulo, para realçar esse aspecto da poesia. Os poemas que lhes correspondem, em particular, são uma destilação do meu tema principal.

 

J.A.R. – H.C.

 

D. H. Lawrence

(1885-1930)

 

Maximus (*)

 

God is older than the sun and moon

and the eye cannot behold him

nor the voice describe him.

 

But a naked man, a stranger, leaned on the gate

with his cloak over his arm, waiting to be asked in.

So I called him: Come in, if you will!–

He came in slowly, and sat down by the hearth.

I said to him: And what is your name?–

He looked at me without answer, but such a loveliness

entered me, I smiled to myself, saying: He is God!

So he said: Hermes!

 

God is older than the sun and moon

and the eye cannot behold him

nor the voice describe him:

and still, this is the God Hermes, sitting by my hearth.

 

In: “Last Poems” (1932)

 

Mercúrio e Argos

(Diego Velázquez: pintor espanhol)

 

Máximo

 

Deus é mais velho que o sol e a lua

e os olhos não o podem contemplar

nem a voz o descrever.

 

Mas um homem nu, um estranho, encostou-se ao portão

com a capa sobre o braço, à espera de que

o convidassem a entrar.

Então o chamei: Entra, se o quiseres!–

Ele entrou lentamente e sentou-se junto à lareira.

Perguntei-lhe: E como te chamas?

Ele me olhou sem responder, mas um tal encanto

me envolveu que sorri para mim mesmo,

afirmando: És um Deus!

Então ele mo confirmou: Hermes!

 

Deus é mais velho que o sol e a lua

e os olhos não o podem contemplar

nem a voz o descrever:

e ainda assim, este é o Deus Hermes, sentado junto

à minha lareira.

 

Em: “Últimos Poemas” (1932)

 

Nota dos Editores:

 

(*). Lawrence provavelmente estava pensando em Máximo de Esmirna (o “Místico”), tutor do imperador Juliano, um defensor do paganismo grego no século IV d.C., sobre quem o autor teria lido em “O Imperador e Galileu”, de Ibsen. (LAWRENCE, 1988, p. 1018)

 

Referências:

 

Em Inglês

 

LAWRENCE, D. H. Maximus. In: __________. The complete poems of D. H. Lawrence. Collected and edited with an introduction and notes by Vivian de Sola Pinto and F. Warren Roberts. 1st ed., 6th repr. New York, NY: Penguin Books, 1988. p. 692.

 

Em Português

 

MIŁOSZ, Czesław (Edition and Introduction). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 5.

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