Ainda que alcance
reconhecimento, sucesso ou glória, logrando relevantes conquistas, sustenta o
autor venezuelano que o poeta pode sentir certo vazio interior e alguma
frustração, pois que lhe parece haver claros limites na poesia – e, por
extensão, na linguagem de que ela se reveste –, bem assim em sua própria
experiência existencial.
Os infratranscritos
versos, nessa toada, veiculam uma reflexão pertinente sobre a constante busca
do artista por expressar sua essência mais profunda, e a angústia de nunca
conseguir capturá-la inteiramente através das palavras, tanto maior, aliás, se
houver algum entrave que se oponha à sua capacidade para criar, tornando exangue
o mais promissor potencial de que dotado.
J.A.R. – H.C.
José Miguel Casado
(n. 1985)
La Poesía No Alcanza
el poeta sí puede
decir
que tiene la mente en
blanco
sin una palabra
sin un verso
que a veces al estar
escrito
puede dejar un vacío
mayor
al de la página
virgen
y si lograse el poema
el libro
el premio
la publicación
el homenaje a su obra
en algunos casos
inclusive
el homenaje a su
persona
puede de igual manera
sentarse en la silla
y saber que una hoja
la hoja que posee sus
huellas
su paso por los días
su muerte
oprobiosamente temprana
está
irremediablemente
vacía
Édipo, ou a
encruzilhada de três estradas
(Jean Cocteau:
artista francês)
A Poesia Não É Suficiente
o poeta sim pode dizer
que tem a mente em branco
sem uma palavra
sem um verso
que às vezes quando escrito
pode deixar um vazio maior
que o da página virgem
e se o poema for bem sucedido
o livro
o prêmio
a publicação
a homenagem à sua obra
em alguns casos
inclusive
a homenagem à sua pessoa
pode igualmente compreender
confortável numa poltrona
que uma folha
a folha que contém os seus vestígios
a sua passagem pelos dias
a sua morte oprobriosamente precoce
revela-se
irremediavelmente
vazia
Referência:
CASADO, José Miguel. La
poesía no alcanza. In: MONTECINOS, Héctor Hernández (Selección y Prólogo). 4M3R1C4:
novísima poesía latinoamericana. Santiago (CL): Ventana Abierta, 2010. p.
422-423.
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