Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Algernon Charles Swinburne - O Riso de uma Criança

Nestes versos de Swinburne emprega-se uma linguagem deliciosamente descritiva, assente em rica imaginação, para ressaltar a beleza e a alegria encarnadas no riso de uma criança, elevando-o ao nível do som mais doce e puro que se pode ouvir sobre a terra, com o que se rende homenagem à inocência e ao gozo despreocupado incorporado pela infância.

 

Nada melhor do que recuperarmos o hábito de rir, o saudável senso de humor que se vai perdendo à medida que a idade adulta nos traz os seus afazeres, os seus atropelos, o seu peso: voltar a ser criança num corpo de homem-feito, não se levando muito a sério, rindo-se de suas próprias limitações, de seus defeitos, e assim passar pelos dias de um modo bem mais leve, sem tentar manter a ferro e fogo o controle sobre o que nos sucede, pois o contingente também faz parte do repertório do que a vida nos traz – e contra o qual temos restritas munições para resistir, se infausto evidentemente.

 

J.A.R. – H.C.

 

Algernon C. Swinburne

(1837-1909)

 

A Child’s Laughter

 

All the bells of heaven may ring,

All the birds of heaven may sing,

All the wells on earth may spring,

All the winds on earth may bring

All sweet sounds together –

Sweeter far than all things heard,

Hand of harper, tone of bird,

Sound of woods at sundawn stirred,

Welling water’s winsome word,

Wind in warm wan weather,

 

One thing yet there is, that none

Hearing ere its chime be done

Knows not well the sweetest one

Heard of man beneath the sun,

Hoped in heaven hereafter;

Soft and strong and loud and light,

Very sound of very light

Heard from morning’s rosiest height,

When the soul of all delight

Fills a child’s clear laughter.

 

Golden bells of welcome rolled

Never forth such notes, nor told

Hours so blithe in tones so bold,

As the radiant mouth of gold

Here that rings forth heaven.

If the golden-crested wren

Were a Nightingale – why, then,

Something seen and heard of men

Might be half as sweet as when

Laughs a child of seven.

 

Uma criança sorridente

(Richard Rothwell: pintor irlandês)

 

O Riso de uma Criança

 

Que badalem todos os sinos do firmamento,

Que cantem todos os pássaros dos céus,

Que jorrem todos os mananciais da terra,

Que todos os ventos da terra possam carrear

Em uníssono a totalidade desses doces sons –

Mais agradável do que tudo o que se ouve,

O dedilhar do harpista, um solfejo de pássaro,

O som farfalhante dos bosques ao amanhecer,

A expressão cativante da água aos borbotões,

O vento lânguido em um clima tépido,

 

Uma coisa ainda há, que ninguém é capaz de

Ouvir antes que se consuma o seu bimbalhar,

Para bem se entrar em contato com o mais doce

Do que já se ouviu falar do homem sob o sol,

E que, no que há de suceder, se espera nos céus;

Sussurrante e intenso, sonoro e delicado,

O puro som da mais autêntica fonte luminosa,

Que se ouve no auge mais rosado da manhã,

Quando a alma por inteiro embevecida

Se estampa no riso impoluto de uma criança.

 

Sinos dourados de boas-vindas jamais

Repicaram tais notas, tampouco anunciaram

Horas tão jubilosas em tons assaz confiantes,

Quanto os fúlvidos e radiantes lábios

Que ressoam, nessa hora, em direção aos céus.

Caso a cambaxirra de penacho dourado

Fosse um rouxinol – bem, então qualquer coisa

Que os homens viessem a contemplar e a ouvir

poderia estar a meio termo da doçura que se tem

Quando uma criança de sete anos põe-se a rir.

 

Referência:

 

SWINBURNE, Algernon Charles. A Child’s Laughter. In: __________. Selections from the poetical works of Algernon Charles Swinburne. London, EN: Chatto & Windus, Piccadilly, 1887. p. 98-99. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 jun. 2025.

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