Nestes versos de
Swinburne emprega-se uma linguagem deliciosamente descritiva, assente em rica
imaginação, para ressaltar a beleza e a alegria encarnadas no riso de uma
criança, elevando-o ao nível do som mais doce e puro que se pode ouvir sobre a terra,
com o que se rende homenagem à inocência e ao gozo despreocupado incorporado
pela infância.
Nada melhor do que
recuperarmos o hábito de rir, o saudável senso de humor que se vai perdendo à
medida que a idade adulta nos traz os seus afazeres, os seus atropelos, o seu
peso: voltar a ser criança num corpo de homem-feito, não se levando muito a
sério, rindo-se de suas próprias limitações, de seus defeitos, e assim passar
pelos dias de um modo bem mais leve, sem tentar manter a ferro e fogo o
controle sobre o que nos sucede, pois o contingente também faz parte do
repertório do que a vida nos traz – e contra o qual temos restritas munições para
resistir, se infausto evidentemente.
J.A.R. – H.C.
Algernon C. Swinburne
(1837-1909)
A Child’s Laughter
All the bells of
heaven may ring,
All the birds of
heaven may sing,
All the wells on
earth may spring,
All the winds on
earth may bring
All sweet sounds
together –
Sweeter far than all
things heard,
Hand of harper, tone
of bird,
Sound of woods at
sundawn stirred,
Welling water’s
winsome word,
Wind in warm wan
weather,
One thing yet there
is, that none
Hearing ere its chime
be done
Knows not well the
sweetest one
Heard of man beneath
the sun,
Hoped in heaven
hereafter;
Soft and strong and
loud and light,
Very sound of very
light
Heard from morning’s
rosiest height,
When the soul of all
delight
Fills a child’s clear
laughter.
Golden bells of
welcome rolled
Never forth such
notes, nor told
Hours so blithe in
tones so bold,
As the radiant mouth
of gold
Here that rings forth
heaven.
If the golden-crested
wren
Were a Nightingale –
why, then,
Something seen and
heard of men
Might be half as
sweet as when
Laughs a child of
seven.
Uma criança
sorridente
(Richard Rothwell:
pintor irlandês)
O Riso de uma Criança
Que badalem todos os
sinos do firmamento,
Que cantem todos os
pássaros dos céus,
Que jorrem todos os
mananciais da terra,
Que todos os ventos
da terra possam carrear
Em uníssono a
totalidade desses doces sons –
Mais agradável do que
tudo o que se ouve,
O dedilhar do
harpista, um solfejo de pássaro,
O som farfalhante dos
bosques ao amanhecer,
A expressão cativante
da água aos borbotões,
O vento lânguido em
um clima tépido,
Uma coisa ainda há, que
ninguém é capaz de
Ouvir antes que se
consuma o seu bimbalhar,
Para bem se entrar em
contato com o mais doce
Do que já se ouviu
falar do homem sob o sol,
E que, no que há de
suceder, se espera nos céus;
Sussurrante e intenso,
sonoro e delicado,
O puro som da mais
autêntica fonte luminosa,
Que se ouve no auge
mais rosado da manhã,
Quando a alma por
inteiro embevecida
Se estampa no riso impoluto
de uma criança.
Sinos dourados de
boas-vindas jamais
Repicaram tais notas,
tampouco anunciaram
Horas tão jubilosas
em tons assaz confiantes,
Quanto os fúlvidos e
radiantes lábios
Que ressoam, nessa
hora, em direção aos céus.
Caso a cambaxirra de penacho
dourado
Fosse um rouxinol –
bem, então qualquer coisa
Que os homens viessem
a contemplar e a ouvir
poderia estar a meio
termo da doçura que se tem
Quando uma criança de
sete anos põe-se a rir.
Referência:
SWINBURNE, Algernon
Charles. A Child’s Laughter. In: __________. Selections from the poetical
works of Algernon Charles Swinburne. London, EN: Chatto & Windus,
Piccadilly, 1887. p. 98-99. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 jun.
2025.
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