Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Neide Archanjo - Amor de perdição

A poetisa paulistana, recorrendo ao título de renomada obra do escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890), confere-lhe, entretanto, um novo matiz ao retratar em três estrofes a gênese e o desvanecer da inspiração poética, capturando a fugacidade e a aparente contradição inerente ao ato criativo, a comportar tensões entre o etéreo e o substancial, entre a ordem e o caos.

 

O ato de escrever poemas – esse “amor de perdição” – semelha-se quase a um processo xamânico, no qual o poeta, inspirado, canaliza e dá forma às forças criadoras do universo, transformando mesmo o que se nos mostra trivial em algo mágico e significativo. Ao seu final, uma vez atingido o ponto de culminação da obra, passa ela a ter autonomia e independência, separando-se do seu criador, sendo agora propriedade do amplo público de seus leitores.

 

J.A.R. – H.C.

 

Neide Archanjo

(1940-2022)

 

Amor de perdição

 

Era um fluir de formas

essência grave e leve

era a ordenação do caos

a harmonia breve.

 

Era o poema

encostado no muro

qual flor vadia

que entre ramas se esquecia.

 

Era o poeta

lambendo a página baldia

em que o poema

encantado se escrevia.

 

Em: “Epifanias” (1999)

 

Em casa (ou Intimidade)

(Louise C. Breslau: pintora alemã)

 

Referência:

 

ARCHANJO, Neide. Amor de perdição. In: FARIA, Álvaro Alves de; MOISÉS, Carlos Felipe (Orgs.). Antologia poética da geração de 60. 1. ed. São Paulo, SP: Nankin Editorial, set. 2000. p. 217.

Nenhum comentário:

Postar um comentário