Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Pere Gimferrer - Unidade

Entre o visionário e o simbólico, o poeta espanhol expõe suas interrogantes sobre os ciclos cósmicos, a transcendência por trás de nossa percepção acerca da transição e do reencontro entre diferentes estados do ser e do conhecimento – v.g., entre a luz e a escuridão, a vigília e o sono, a visão e a cegueira, o dia e a noite, a mente e o corpo –, com o que se discerne o muito quanto já se disse sobre a natureza do universo, explico-me melhor, da unidade essencial de todas as coisas expressa neste mundo de dualidades.

 

A centelha divina que reside em cada ser questiona a separação entre o “eu” e o “outro”, o contraste oximorônico que, em primeira mirada, suscita divisões e conflitos, opondo-se-lhe um portal para dimensões outras, nas quais as fronteiras se dissolvem, os sentidos se aguçam, de forma a permitir uma relação dinâmica e algo sinestésica entre o observador e o observado, estado em que, por fim, se verifica a epifânica apreensão do quanto os opostos se interpenetram, do ‘locus’ onde radica a unidade.


J.A.R. – H.C.

 

Pere Gimferrer

(n. 1945)

 

Unidad

 

A Marie José y Octávio Paz

 

Dictado por el crepúsculo,

dictado por el aire oscuro, el círculo se abre

y habitamos en él: transiciones, espacio

intermedio. No el lugar

de la revelación, sino el lugar

del reencuentro. La espada

que divide la luz.

Del ojo a la mirada,

la claridad permanente, el ámbito de los sonidos,

la campana que clausura la visión terrestre

como el ojo inexorable de la forma floral

fija el fuego de un carbunclo. Este ojo

¿ve mi ojo? Es un espejo de llamas

el ojo que ahora me ve. Con sonido de poleas,

los ejes de la noche. Desarbolada,

se derrumba la oscuridad y, a tientas,

el sol conoce la noche.

 

En: “Tres Poemas” (1967)

 

Composição nº 8

(Wassily Kandinsky: pintor russo)

 

Unidade

 

A Marie José e Octávio Paz

 

Ditado pelo crepúsculo,

ditado pelo ar escuro, o círculo se abre

e nós o habitamos: transições, espaço

intermediário. Não o lugar

da revelação, mas o lugar

do reencontro. A espada

que divide a luz.

 Do olho ao olhar,

a claridade permanente, o âmbito dos sons,

o sino que obsta a visão terrestre

tal como o olho inexorável da forma floral

ao fixar o fogo de um carbúnculo. Este olho

vê meu olho? É um espelho de chamas

o olho que agora me vê. Com o ranger de polias,

os eixos da noite. Desarvorada,

precipita-se a escuridão e, às apalpadelas,

o sol conhece a noite.

 

Em: “Três Poemas” (1967)

 

Referência:

 

GIMFERRER, Pere. Unidad. In: CASANOVA, José Francisco Ruiz (Selección e introducción). Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas. 11. ed. Madrid, ES: Cátedra (Grupo Anaya), 2014. p. 1114.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário