Entre o visionário e
o simbólico, o poeta espanhol expõe suas interrogantes sobre os ciclos
cósmicos, a transcendência por trás de nossa percepção acerca da transição e do
reencontro entre diferentes estados do ser e do conhecimento – v.g., entre a
luz e a escuridão, a vigília e o sono, a visão e a cegueira, o dia e a noite, a
mente e o corpo –, com o que se discerne o muito quanto já se disse sobre a
natureza do universo, explico-me melhor, da unidade essencial de todas as
coisas expressa neste mundo de dualidades.
A centelha divina que
reside em cada ser questiona a separação entre o “eu” e o “outro”, o contraste
oximorônico que, em primeira mirada, suscita divisões e conflitos, opondo-se-lhe
um portal para dimensões outras, nas quais as fronteiras se dissolvem, os
sentidos se aguçam, de forma a permitir uma relação dinâmica e algo sinestésica
entre o observador e o observado, estado em que, por fim, se verifica a epifânica
apreensão do quanto os opostos se interpenetram, do ‘locus’ onde radica a unidade.
J.A.R. – H.C.
Pere Gimferrer
(n. 1945)
Unidad
A Marie José y
Octávio Paz
dictado por el aire oscuro, el círculo se abre
y habitamos en él: transiciones, espacio
intermedio. No el lugar
de la revelación, sino el lugar
del reencuentro. La espada
que divide la luz.
Del ojo a la mirada,
la claridad permanente, el ámbito de los sonidos,
la campana que clausura la visión terrestre
como el ojo inexorable de la forma floral
fija el fuego de un carbunclo. Este ojo
¿ve mi ojo? Es un espejo de llamas
el ojo que ahora me ve. Con sonido de poleas,
los ejes de la noche. Desarbolada,
se derrumba la oscuridad y, a tientas,
el sol conoce la noche.
En: “Tres Poemas”
(1967)
Composição nº 8
(Wassily Kandinsky: pintor
russo)
Unidade
A Marie José e
Octávio Paz
Ditado pelo
crepúsculo,
ditado pelo ar
escuro, o círculo se abre
e nós o habitamos:
transições, espaço
intermediário. Não o
lugar
da revelação, mas o
lugar
do reencontro. A
espada
que divide a luz.
Do olho ao olhar,
a claridade
permanente, o âmbito dos sons,
o sino que obsta a
visão terrestre
tal como o olho
inexorável da forma floral
ao fixar o fogo de um
carbúnculo. Este olho
vê meu olho? É um
espelho de chamas
o olho que agora me
vê. Com o ranger de polias,
os eixos da noite.
Desarvorada,
precipita-se a
escuridão e, às apalpadelas,
o sol conhece a
noite.
Em: “Três Poemas”
(1967)
Referência:
GIMFERRER, Pere. Unidad. In: CASANOVA, José Francisco Ruiz (Selección e introducción). Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas. 11. ed. Madrid, ES: Cátedra (Grupo Anaya), 2014. p. 1114.
❁


Nenhum comentário:
Postar um comentário