Estes versos de
Munárriz giram em torno da importância fundamental das palavras e da linguagem para
a comunicação entre os seres humanos. Nesse sentido, o poeta espanhol expressa
o seu apego aos vocábulos, pois que seriam um recurso primordial para se transcender
às coisas deste mundo, possibilitando-nos deixar um legado a desafiar o sem-sentido
do nada, à diferença do silêncio, este sim a implicar o vazio e o esquecimento.
As palavras, com
efeito, conferem sentido àquilo que nos parece absurdo ou incompreensível,
preenchendo de significados a existência humana – sempre às voltas com a
consciência de sua própria finitude –, pelo que se distinguem como um
instrumento válido de resistência contra a corrosão do tempo, sobretudo porque
deixam as marcas indeléveis de nossos passos pela história.
J.A.R. – H.C.
Jesús Munárriz
(n. 1940)
Por eso estoy en las
palabras
Por eso estoy en las
palabras.
Porque el silencio
vive si la palabra calla
y el olvido se
extiende donde el amor deserta,
y de las mordeduras
gozosas o crueles
sólo queda la huella
que arrancan a las prensas.
Por eso estoy en las
palabras.
Porque el cerezo da
sus frutos sin saberlo
y sin saberlo el
cáñamo presagia las banderas,
pero el hombre conoce
que entre nada y la nada
sólo puede dejar unos
vocablos limpios.
Unos vocablos limpios
o una voz iracunda
que arranque el velo
hirsuto donde se oculta el sueño,
porque sólo la voz,
las palabras perduran
cuando embebe la
helada la luz de los tejidos.
Por eso estoy en las
palabras.
Porque a pesar de
todo, contra razón, salvado
queda el que dijo. Y
nada,
contra razón también,
queda del que calló,
sino el molde vacío
de su materia muda.
Por eso estoy con las
palabras y por eso
redescubro un sentido
al sinsentido en ellas
y repito sonidos que
heredé sin quererlo
y es mi roce en su
uso mi paso por la historia.
En: “Viajes y
estancias” (1972-1975)
Paisagem oriental com
camelos e pastores
(Nicolaes P. Berchem:
pintor holandês)
Por isso estou nas
palavras
Por isso estou nas
palavras.
Porque o silêncio
vive se a palavra cala
e o olvido se propaga
onde o amor deserta,
e das mordidas
gozosas ou cruéis
somente fica o rasto
arrancado às prensas.
Por isso estou nas palavras.
Porque a cerejeira dá
o seu fruto sem o saber
e, sem o saber, o
cânhamo pressagia as bandeiras,
mas o homem sabe que
entre o nada e o nada
só pode deixar alguns
vocábulos limpos.
Alguns vocábulos
limpos ou uma voz iracunda
que arranque o véu hirsuto
onde se oculta o sonho,
porque só a voz, as
palavras perduram
quando a geada satura
a luz dos tecidos.
Por isso estou nas
palavras.
Porque, apesar de
tudo, contra a razão, salvo
fica o que se disse.
E nada,
também contra a razão,
fica do que se calou,
senão o molde vazio
de sua matéria muda.
Por isso estou com as
palavras e por isso
redescubro um sentido
no sem-sentido que nelas há
e repito sons que herdei
sem o querer
e é meu roçar em seu
uso a minha marcha pela história.
Em: “Viagens e
estadias” (1972-1975)
Referência:
MUNÁRRIZ, Jesús. Por
eso estoy en las palabras. In: __________. Jesús Munárriz. Madrid, ES: Fundación
Juan March, 2007. p. 81-82. (‘Poética y Poesía’; Cuaderno n. 18)
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