Herbert moderniza a história
bíblica de Jonas – sendo tragado por uma baleia por ordem de Deus, após tentar
fugir de sua missão profética em Nínive –, para trazer à baila o plano de escapismo
do ser humano diante de seu propósito de vida e da negação de um destino profético,
transladando, assim, a parábola religiosa para uma metáfora existencial
contemporânea.
Nessa toda, o Jonas hodierno,
mais astuto, mergulha no anonimato para não aceitar novamente uma missão
perigosa, adotando um “nome falso”, enquanto negocia gado e antiguidades, longe
do mar e de Nínive. Ademais, os “agentes do Leviatã” (a baleia mítica) são
subornáveis e não têm “senso de destino”, pois que são meros burocratas do acaso.
Por fim, Jonas morre de
câncer em um hospital, sem saber realmente quem era em verdade, sem ter ido ao
encontro do significado simbólico de sua vida, quer por não havê-lo encontrado,
quer por, dadas as circunstâncias, havê-lo rejeitado.
Pode-se auferir do
poema alguma crítica à sobrevalorização da comodidade, da estabilidade e da
segurança, em detrimento do compromisso e da afirmação dos desígnios colimados
de início, com o que se externaliza o lado menos resiliente da natureza humana,
mais propenso às dúvidas, ao medo, até mesmo à hipocrisia.
J.A.R. – H.C.
Zbigniew Herbert
(1924-1998)
Jonasz
I nagotował Pan rybę wielką
żeby połknęła Jonasza
Jonasz syn Ammitaja
uciekając od niebezpiecznej
misji
wsiadł na okręt płynący
z Joppen do Tarszisz
potem były rzeczy
wiadome
wiatr wielki burza
załoga wyrzuca
Jonasza w głębokości
morze staje od
burzenia swego
nadpływa przewidziana
ryba
trzy dni i trzy noce
modli się Jonasz w brzuchu
ryby
która wyrzuca go w końcu
na suchą ziemię
współczesny Jonasz
idzie jak kamień w wodę
jeśli trafi na wieloryba
nie ma czasu westchnąć
uratowany
postępuje chytrzej
niż biblijny kolega
drugi raz nie
podejmuje się
niebezpiecznej misji
zapuszcza brodę
i z daleka od morza
z daleka od Niniwy
pod fałszywym
nazwiskiem
handluje bydłem i
antykami
agenci Lewiatana
dają się przekupić
nie mają zmysłu losu
są urzędnikami przypadku
w schludnym szpitalu
umiera Jonasz na raka
sam dobrze nie wiedząc
kim właściwie był
parabola
przyłożona do głowy jego
gaśnie
i balsam przypowieści
nie ima się jego ciała
Jonas arremessado
pela baleia
(Gustave Doré:
ilustrador francês)
Jonas
Deparou pois o Senhor
um grande peixe
para que tragasse a
Jonas
Jonas filho de
Amithai
fugindo de uma missão
perigosa
embarcou numa nau que
navegava
de Joppen a Tharsis
depois se deram as
coisas sabidas
um grande vento uma
tempestade
a tripulação joga
Jonas nas profundezas
e o mar se aquieta de
seu furor
vem nadando o peixe
previsto
três dias e três
noites
Jonas ora nas entranhas
do peixe
que por fim o vomita
na terra seca
o Jonas contemporâneo
afunda como uma pedra
na água
se topa com uma
baleia
não tem tempo nem de
suspirar
salvo
procede mais
astutamente
que o seu colega
bíblico
pela segunda vez não
aceita
a missão perigosa
deixa a barba crescer
e longe do mar
longe de Nínive
sob um nome falso
é comerciante de gado
e antiguidades
os agentes do Leviatã
se deixam subornar
não têm o sentido do
destino
são funcionários do
acaso
num hospital asseado
morre Jonas de câncer
ele mesmo sem saber
bem
quem era na verdade
a parábola
aplicada na sua
cabeça
se extingue
e o bálsamo da
alegoria
não afeta o seu corpo
Referência:
HERBERT, Zbigniew.
Jonasz / Jonas. Tradução de Piotr Kilanowski. In: KILANOWSKI, Piotr. Poemas de
Zbigniew Herbert. Qorpus, Florianópolis (SC),
n. 19, dez. 2015. Edição eletrônica neste
endereço. Acesso em: 25 abr. 2025.
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