Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Alfred Lichtenstein - O Passeio

O falante nos transmite uma espécie de rechaço à vida urbana, opressiva e alienante, e certo desejo por se reencontrar com uma existência mais simples e harmoniosa ao ar livre, imersos – ele e sua companheira, a quem convida para o mesmo desígnio – na beleza natural, tudo porque se sente enfadado pela camada de tédio que se depositou sobre os seus cômodos circunscritos, os livros que já não lhe despertam o prazer de os compulsar, a aridez do espaço citadino, o sol que lhe parece monotônico e sufocante ou que não lhe aponta para dias mais expressivos.

 

Quando as coisas passam a incorrer em descontentamentos d’alma e em conformismo com as rotinas quotidianas, o melhor mesmo é tentar escapar, vez por outra, dessa sensação de confinamento e disjunção no tocante ao mundo natural: por que não tentar restaurar o lado mais saudável de nossa humanidade por meio da prática de atividades ao ar livre – tal como a propõe o narrador do poema –, de caminhadas em parques ou áreas verdes, do voluntariado em projetos ambientais, ou mesmo da simples observação da fauna e da flora contíguas ao núcleo onde vivemos?!

 

J.A.R. – H.C.

 

Alfred Lichtenstein

(1889-1914)

 

Der Ausflug

 

Du, ich halte diese festen

Stuben und die dürren Straßen

Und die rote Häusersonne,

Die verruchte Unlust aller

Längst schon abgeblickten Bücher

Nicht mehr aus.

 

Komm, wir müssen von der Stadt

Weit hinweg.

Wollen uns in eine sanfte

Wiese legen.

Werden drohend und so hilflos

Gegen den unsinnig großen,

Tödlich blauen, blanken Himmel

Die entfleischten, dumpfen Augen,

Die verwunschnen,

Und verheulte Hände heben.

 

O Chamado

(Remedios Varo: pintora espanhola)

 

O Passeio

 

Tu, esses quartos

Fixos e as áridas ruas

E o rubro sol das casas,

A infame repugnância de todos

Os livros há muito já folheados –

Não os aguento mais.

 

Vem, precisamos sair da cidade

Para muito longe.

Vamos deitar-nos em

Suave gramado.

Ameaçadores e tão abandonados,

Contra o absurdamente grande,

Mortalmente azul, brilhante céu,

Levantaremos mãos choradas

E encantados,

Descarnados, apáticos olhos.

 

Referência:

 

Lichtenstein, Alfred. Der ausflug / O passeio. Tradução de Claudia Cavalcanti. In: CAVALCANTI, Claudia (Organização e tradução). Poesia expressionista alemã: uma antologia. Edição bilíngue: alemão x português. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 2000. Em alemão: p. 150; em português: p. 151.

 

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