O poeta intenta empreender
uma deliberada ruptura com as convenções, transpondo as barreiras e limites impostos
pelos preceitos líricos tradicionais – dada a rigidez de suas normas e estruturas
–, em busca de novas formas de expressão para a poesia, vocacionada, segundo
lhe parece, a ser um meio de catarse e libertação, em lugar de uma composição
confrangida por regras estritas.
Explorar territórios
desconhecidos, enfrentando a adversidade inerente ao ato criativo, pode
estender-se até mesmo à adoção mais reiterada da prosa, capaz de oferecer,
conforme o que sugere Lamborghini, mais clareza e veracidade, qualidades que a
poesia amiúde não conseguiria igualar.
Não que o poeta ignore
o valor e a beleza da poesia como um molde válido de manifestação artística,
mas que as suas complexidade e ambiguidade tornam tudo mais difícil, explico-me
melhor, transfiguram-na em um prazer mais desafiante, mais raro e difícil de atingir,
muito embora, quando alcançado, afigure-se profundamente gratificante e revelador.
J.A.R. – H.C.
Osvaldo Lamborghini
(1940-1985)
Ya solo era el Demonio converso
Ya solo era el Demonio converso.
Me quedé sin prosa, sin la prosapia
de un orden compartido, terso:
la vieja ortodoxia es lo inverso
que el dulce y pío de toda terapia.
¿A fuerza de rima rajar la tapia?
Oh, no. La prosa,
Es claro, es otra cosa,
O la poesía, ese goce escaso y adverso.
Satã, o pecado e a
morte
(A partir de uma cena
de
“O Paraíso Perdido”,
de John Milton)
(William Hogarth:
pintor inglês)
Já só era o Demônio
convertido
Já só era o Demônio convertido.
Fiquei sem prosa, sem
a prosápia
de uma ordem
compartilhada, fluida:
a velha ortodoxia é o
inverso
que o doce e piedoso
de toda terapia.
Forçar a rima para
rachar o muro?
Oh, não. A prosa,
Claro está, é outra
coisa.
Ou a poesia, este prazer
raro e adverso.
Referência:
Lamborghini, Osvaldo.
Ya solo era el Demonio converso. In: LANGE, Susanne; STRINE, Petra (Hrsg.). Spanische
und hispanoamerikanische lyrik bd. 4: von Rosa Chacel bis zu Gegenwart. Zweisprachige
Ausgabe: Spanisch x Deutsch. München, DE: Verlag C. H. Beck, 2022. s. 352.
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