Este poema de Simic
parece ser uma reflexão sobre aqueles aspectos da vida que carecem de definição
concreta, pois que efêmeros e indefiníveis, mas que deixam uma marca duradoura
em nossa experiência e memória: num tom de mistério e de ambiguidade, com imagens
oníricas envoltas numa linguagem evocativa, os versos nos convidam a buscar a
nossa própria interpretação para o que seja essa “coisa perdida”.
Desconhecida e sem clara
origem, a coisa sem nome enreda-se pelas linhas do poema sem que se defina precisamente
sua procedência, podendo ser, por acaso, um objeto físico, um sentimento, um quê
de credulidade, entre o sórdido e o cotidiano, a pairar no etéreo ou no passadiço,
muitas vezes nos levando a uma “falsa chegada”, o que findaria por representar um
esforço em vão, uma busca infrutuosa de algo que, talvez, nunca poderemos
encontrar.
J.A.R. – H.C.
Charles Simic
(1938-2023)
Description of a Lost
Thing
It never had a name,
Nor do I remember how
I found it.
I carried it in my
pocket
Like a lost button
Except it wasn’t a
button.
Horror movies,
All-night cafeterias,
Dark barrooms
And poolhalls,
On rain-slicked
streets.
It led a quiet,
unremarkable existence
Like a shadow in a
dream,
An angel on a pin,
And then it vanished.
The years passed with
their row
Of nameless stations,
Till somebody told me
this is it!
And fool that I was,
I got off on an empty
platform
With no town in
sight.
In: “My Noiseless
Entourage” (2005)
A Coisa Perdida
64/100
(David Griessel:
artista sul-africano)
Descrição de uma
Coisa Perdida
Nunca teve um nome,
Tampouco recordo como
a encontrei.
Levava-a em meu bolso
Como um botão perdido,
Em que pese não fosse
um botão.
Filmes de terror,
Cafeterias noturnas,
Barzinhos escuros
E salões de bilhar,
E pistas resvaladiças
pela chuva.
Tivera uma existência
pacata e rotineira
Como uma sombra em um
sonho,
Um anjo fixado por uma
tacha,
E então desaparecera.
Os anos se passaram
como o seu rol
De estações sem nome.
Até que alguém me
disse: “É aqui!”
E eu, tolo que era,
Desci numa plataforma
vazia,
Sem nenhuma cidade à
vista.
In: “Meu Séquito
Silencioso” (2005)
Referência:
SIMIC, Charles. Description of a lost thing. In: __________. New and selected poems: 1962-2012. New York (NY): Houghton Mifflin Harcourt, 2013. p. 265.
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