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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de maio de 2025

Charles Simic - Descrição de uma Coisa Perdida

Este poema de Simic parece ser uma reflexão sobre aqueles aspectos da vida que carecem de definição concreta, pois que efêmeros e indefiníveis, mas que deixam uma marca duradoura em nossa experiência e memória: num tom de mistério e de ambiguidade, com imagens oníricas envoltas numa linguagem evocativa, os versos nos convidam a buscar a nossa própria interpretação para o que seja essa “coisa perdida”.

 

Desconhecida e sem clara origem, a coisa sem nome enreda-se pelas linhas do poema sem que se defina precisamente sua procedência, podendo ser, por acaso, um objeto físico, um sentimento, um quê de credulidade, entre o sórdido e o cotidiano, a pairar no etéreo ou no passadiço, muitas vezes nos levando a uma “falsa chegada”, o que findaria por representar um esforço em vão, uma busca infrutuosa de algo que, talvez, nunca poderemos encontrar.

 

J.A.R. – H.C.

 

Charles Simic

(1938-2023)

 

Description of a Lost Thing

 

It never had a name,

Nor do I remember how I found it.

I carried it in my pocket

Like a lost button

Except it wasn’t a button.

 

Horror movies,

All-night cafeterias,

Dark barrooms

And poolhalls,

On rain-slicked streets.

 

It led a quiet, unremarkable existence

Like a shadow in a dream,

An angel on a pin,

And then it vanished.

The years passed with their row

 

Of nameless stations,

Till somebody told me this is it!

And fool that I was,

I got off on an empty platform

With no town in sight.

 

In: “My Noiseless Entourage” (2005)

 

A Coisa Perdida 64/100

(David Griessel: artista sul-africano)

 

Descrição de uma Coisa Perdida

 

Nunca teve um nome,

Tampouco recordo como a encontrei.

Levava-a em meu bolso

Como um botão perdido,

Em que pese não fosse um botão.

 

Filmes de terror,

Cafeterias noturnas,

Barzinhos escuros

E salões de bilhar,

E pistas resvaladiças pela chuva.

 

Tivera uma existência pacata e rotineira

Como uma sombra em um sonho,

Um anjo fixado por uma tacha,

E então desaparecera.

Os anos se passaram como o seu rol

 

De estações sem nome.

Até que alguém me disse: “É aqui!”

E eu, tolo que era,

Desci numa plataforma vazia,

Sem nenhuma cidade à vista.

 

In: “Meu Séquito Silencioso” (2005)

 

Referência:

 

SIMIC, Charles. Description of a lost thing. In: __________. New and selected poems: 1962-2012. New York (NY): Houghton Mifflin Harcourt, 2013. p. 265.

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