O poeta celebra a
força, a resiliência e a adaptação de uma planta aérea que cresce em um entorno
árido e salino, em terras da ilha Grand Cayman, no Caribe: muito provavelmente,
trata-se de uma bromélia da espécie tillandsia, a julgar pela descrição de
Crane sobre a forma como ela se nutre da salinidade do ar, agarrada a um tronco
de palmeira, próximo à enseada.
Um pouco de Botânica:
a tillandsia é uma planta epífita (que cresce em outra planta, sem parasitá-la)
nativa daquela região, sendo chamadas de “planta aérea” porque obtém água e
nutrientes do ar e não precisa de solo para crescer, aderindo a superfícies
diversas, como galhos e cascas de árvores, fios telefônicos e pedras nuas.
Essa situação de
existência precária, vulnerabilidade e conexão direta com o ar – ao mesmo
tempo, seu alimento e potencial ameaça, quando convertido em tufões, muito
comuns naquela área –, pode servir de metáfora para a nossa capacidade de
adaptação e de conexão com as forças que nos rodeiam, o que acaba por evocar,
de certa maneira, algumas das ideias de Darwin (1809-1882), sobre a evolução
das espécies.
J.A.R. – H.C.
Hart Crane
(1899-1932)
The Air Plant
Grand Cayman
This tuft that
thrives on saline nothingness,
Inverted octopus with
heavenward arms
Thrust parching from
a palm-bole hard by the cove –
A bird almost – of
almost bird alarms,
Is pulmonary to the
wind that jars
Its tentacles,
horrific in their lurch.
The lizard’s throat,
held bloated for a fly,
Balloons but warily
from this throbbing perch.
The needles and hack-saws
of cactus bleed
A milk of earth when
stricken off the stalk;
But this, – defenseless,
thornless, sheds no blood,
Almost no shadow – but the air’s thin talk.
Angelic Dynamo!
Ventriloquist of the Blue!
While beachward
creeps the shark-swept Spanish Main
By what conjunctions
do the winds appoint
Its apotheosis, at
last – the hurricane!
(1927)
Tillandsia Fasciculata
(Mary Vaux Walcott: artista
norte-americana)
A Planta do Ar
Grand Cayman
Esse tufo que nasce
de um salobro nada,
Polvo invertido,
braços para o céu,
Rebento ressequido de
palmeira de angra,
Quase ave – de ave
quase um escarcéu,
É pulmonar ao vento
que lhe move
Os tentáculos num
meneio traiçoeiro.
A goela do lagarto,
absorto com a mosca,
Infla-se, cauta,
nesse trêmulo poleiro.
Serras e acúleos do
cactus sangram
Leite da terra quando
os vão cortar,
Mas este, sem
espinhos, não espalha sangue,
Quase nem sombra, só
a fala do ar.
Dínamo angelical!
Ventríloquo do Azul!
Enquanto o mar, covil
de tubarões, se esgueira
Na praia, que
conjuração dos ventos urde
O furacão – a
apoteose derradeira!
(1927)
Referência:
CRANE, Hart. The air plant / A planta do ar. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Seleção e Tradução). Poesia da recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. Em inglês: p. 308; em português: p. 309.
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