O poeta gaúcho
vale-se de uma cena da película “Nostalghia”, de 1983, do cineasta russo Andrei
Tarkovski (1932-1986), para evocar as mesmas ideias que vêm sendo apresentadas
nas mais recentes postagens deste blog, a saber, de que a existência humana, esse
indubitável presente de valor, há de ser vivida com um sentido de propósito, solene
e urgente, porque fugaz, porque rapidamente pulverizável pela passagem do
tempo.
A solidão do indivíduo
em um mundo vasto e indiferente há de ser obstada pelo seu empenho em cultivar a
empatia, a generosidade e a compaixão, atributos maiores de nossa humanidade,
mantendo nítidas as tintas da beleza perseverante ante as adversidades – simbolizada
esta pela porfiosa chama de uma vela, apesar dos ventos contrários –, enquanto fazemos
valer as nossas boas intenções ao longo de toda a temporada terrena.
J.A.R. – H.C.
Jaime Medeiros Jr.
(n. 1964)
Tendo em mente uma cena de Nostalghia
como se pinta uma
intenção?
ele tinha um resto de
vela
e estava aqui numa
das margens das termas
na outra
nada que se possa ver
de incomum
era só ele
a vela
o vento a dar de
tentar apagar a pequena chama
e uma vontade grande
de cuidar de tudo
de estar com todos
por uns minutos
sem qualquer
estardalhaço
singra-se uma vida
num silêncio de todo
puro
e depõe-se a [cada
vez mais resto de] vela
que resta ainda acesa
na outra margem.
Nostalgia (a Andrei
Tarkovski)
(Yari Ostovany:
artista iraniano)
Referência:
MEDEIROS JR., Jaime. Tendo
em mente uma cena de Nostalghia. In: VASQUES, Marco (Seleção e Organização). Moradas
de Orfeu: antologia poética. Apresentação de Péricles Prade. Florianópolis,
SC: Letras Contemporâneas, 2011. p. 286.
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