Estribado naquela que
é uma das mais conhecidas ideias do taoísmo – a unidade essencial de todos os
seres e fenômenos –, este poema de Bellessi nos propõe deitar um olhar mais atento
sobre o mundo natural, onde a verdade se encontra oculta a quem sempre tem uma
forma indiferenciada de ver as coisas, mas que se pode revelar àqueles que a
buscam com um coração aberto, sendo um portal de acesso ao vergel da sabedoria.
Com efeito, as imagens
empregadas pela poetisa sugerem que a dualidade de matérias aparentemente diferentes
comporta, na realidade, elementos complementares, estando elas conectadas de
uma maneira que transcende nossa compreensão ordinária, pois que imanentes a um
equilíbrio subjacente no universo, onde os opostos se unem numa coreografia de
fluxo e equilíbrio.
J.A.R. – H.C.
Diana Bellessi
(n. 1946)
Dicen que dijo Lao
Tse a Wen Tzu:
todas las cosas
misteriosamente
son lo mismo, así que
mira con fijeza
hacia delante como un
ternero
recién nacido lo hace
para ver
lo que parece ausente
siempre ahí;
en la gentil mirada
del maestro
yo imagino su amor
ante las cosas
sobre todo lo terso y
lo pequeño
alzándose en sus
formas del vaivén
donde se gana eso que
se pierde
como lo hace la brisa
entre los juncos
o en el agua
dejándola los juncos
pasar en un susurro
ágil de amantes
que se saben opuestos
sólo un rato
para afinar la voz en
el concierto
y bienaventuradamente
luego
tenderse juntos sin
abandonar
nunca la fuente,
ciertos en la voz
sincera donde lo alto
y lo bajo
no se destronan ni
definen entre
sí al cincelar su
mutuo exceso; así
aireadas las
florcitas que el granizo
agitó ayer sobre las
ramas se abren
hoy en el aura nivea
del manzano
donde suena gentil
esa llamada
de la dulce torcaz
como si fuera
la propia voz de Lao
Tse a Wen Tsu
diciendo
misteriosamente todas
las cosas son lo
mismo, mi ternero.
Educação silenciosa
(Joana Choumali:
artista costa-marfinense)
O Ensino Silencioso
Contam que Lao Tse
disse a Wen Tzu:
todas as coisas são
misteriosamente
iguais, por isso olha
com atenção
para frente, como o
faz um bezerro
recém-nascido para
ver o que, ali,
parece estar sempre
ausente;
no olhar gentil do
mestre,
imagino o seu amor
pelas coisas,
sobretudo o brilhante
e o pequeno
erguendo-se em suas
formas pendulares,
nas quais ora se
ganha o que se perde,
como o faz a brisa
entre os juncos
ou na água, os juncos
a deixá-la
passar num sussurro
ágil de amantes,
que se sabem opostos
só por um átimo,
para afinarem a voz
em concerto
e depois,
ditosamente, deitarem juntos
sem que nunca abandonem
a fonte, amparados na
voz
sincera em que o alto
e o baixo
não se destronam nem
se definem um
ao outro ao cinzelar
seu mútuo excesso;
tão arejadas, as
florzinhas, que o granizo
de ontem sacudiu nos
ramos, abrem-se
hoje na nívea aura da
macieira,
onde soa o chamamento
gentil
da doce pomba-torcaz,
como se fosse
a própria voz de Lao
Tse a Wen Tzu
a dizer
misteriosamente: “Todas
as coisas são iguais,
meu bezerro”.
Referência:
BELLESSI, Diana. La enseñanza
silenciosa. Cuadernos Hispanoamericanos, Madrid (ES), v. 724, p. 59-60,
oct. 2020. Disponível neste endereço. Acesso em: 27 abr.
2025.
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