Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 3 de maio de 2025

Diana Bellessi - O Ensino Silencioso

Estribado naquela que é uma das mais conhecidas ideias do taoísmo – a unidade essencial de todos os seres e fenômenos –, este poema de Bellessi nos propõe deitar um olhar mais atento sobre o mundo natural, onde a verdade se encontra oculta a quem sempre tem uma forma indiferenciada de ver as coisas, mas que se pode revelar àqueles que a buscam com um coração aberto, sendo um portal de acesso ao vergel da sabedoria.

 

Com efeito, as imagens empregadas pela poetisa sugerem que a dualidade de matérias aparentemente diferentes comporta, na realidade, elementos complementares, estando elas conectadas de uma maneira que transcende nossa compreensão ordinária, pois que imanentes a um equilíbrio subjacente no universo, onde os opostos se unem numa coreografia de fluxo e equilíbrio.

 

J.A.R. – H.C.

 

Diana Bellessi

(n. 1946)

 

La Enseñanza Silenciosa

 

Dicen que dijo Lao Tse a Wen Tzu:

todas las cosas misteriosamente

son lo mismo, así que mira con fijeza

hacia delante como un ternero

recién nacido lo hace para ver

lo que parece ausente siempre ahí;

 

en la gentil mirada del maestro

yo imagino su amor ante las cosas

sobre todo lo terso y lo pequeño

alzándose en sus formas del vaivén

donde se gana eso que se pierde

como lo hace la brisa entre los juncos

 

o en el agua dejándola los juncos

pasar en un susurro ágil de amantes

que se saben opuestos sólo un rato

para afinar la voz en el concierto

y bienaventuradamente luego

tenderse juntos sin abandonar

 

nunca la fuente, ciertos en la voz

sincera donde lo alto y lo bajo

no se destronan ni definen entre

sí al cincelar su mutuo exceso; así

aireadas las florcitas que el granizo

agitó ayer sobre las ramas se abren

 

hoy en el aura nivea del manzano

donde suena gentil esa llamada

de la dulce torcaz como si fuera

la propia voz de Lao Tse a Wen Tsu

diciendo misteriosamente todas

las cosas son lo mismo, mi ternero.

 

Educação silenciosa

(Joana Choumali: artista costa-marfinense)

 

O Ensino Silencioso

 

Contam que Lao Tse disse a Wen Tzu:

todas as coisas são misteriosamente

iguais, por isso olha com atenção

para frente, como o faz um bezerro

recém-nascido para ver o que, ali,

parece estar sempre ausente;

 

no olhar gentil do mestre,

imagino o seu amor pelas coisas,

sobretudo o brilhante e o pequeno

erguendo-se em suas formas pendulares,

nas quais ora se ganha o que se perde,

como o faz a brisa entre os juncos

 

ou na água, os juncos a deixá-la

passar num sussurro ágil de amantes,

que se sabem opostos só por um átimo,

para afinarem a voz em concerto

e depois, ditosamente, deitarem juntos

sem que nunca abandonem

 

a fonte, amparados na voz

sincera em que o alto e o baixo

não se destronam nem se definem um

ao outro ao cinzelar seu mútuo excesso;

tão arejadas, as florzinhas, que o granizo

de ontem sacudiu nos ramos, abrem-se

 

hoje na nívea aura da macieira,

onde soa o chamamento gentil

da doce pomba-torcaz, como se fosse

a própria voz de Lao Tse a Wen Tzu

a dizer misteriosamente: “Todas

as coisas são iguais, meu bezerro”.

 

Referência:

 

BELLESSI, Diana. La enseñanza silenciosa. Cuadernos Hispanoamericanos, Madrid (ES), v. 724, p. 59-60, oct. 2020. Disponível neste endereço. Acesso em: 27 abr. 2025.

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