Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Giovanni Pascoli - Um gato negro

Neste curto poema, Pascoli retrata a busca intelectual e espiritual do ser humano no afã de desentranhar as verdades últimas da vida e, por extensão, do universo em que imerso, processo esse árduo e incerto, simbolizado por uma pequena e recôndita pérola nas profundezas do imenso mar do pensamento.

 

A presença no recinto de um “gato negro” – algo como a representação autorreferente da própria alma do falante –, com um “sombrio rosto de esfinge” a abrir seus “olhos verdes”, serve decerto para metaforizar esse mistério insondável que tanto inquieta o “velho” homem em vigília solitária, com a mente a divagar entre “dores antigas” e “tenras esperanças”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Giovanni Pascoli

(1855-1912)

 

Un gatto nero

 

aperta. Uomo che vegli nella stanza

illuminata, chi ti fa vegliare?

dolore antico o giovine speranza?

 

Tu cerchi un Vero. Il tuo pensier somiglia

un mare immenso: nell’immenso mare,

una conchiglia; dentro la conchiglia,

 

una perla: la vuoi. Vecchio, un gran bosco

nevato, ai primi languidi scirocchi,

per la tua faccia. Un gatto nero, un fosco

viso di sfinge, t’apre i suoi verdi occhi...

 

In: “Myricae” (1891)

 

Gato Negro

(Nikolai A. Tarkhov: pintor russo)

 

Um gato negro

 

às claras. Homem que vela no quarto

iluminado, o que te mantém em vigília?

Dor antiga ou esperança juvenil?

 

Procuras uma Verdade. Teu pensamento semelha-se

a um mar imenso: no imenso mar,

uma concha; dentro da concha,

 

Uma pérola: tu a queres. Velho, um grande bosque

nevado, aos primeiros e lânguidos sirocos,

por tua face. Um gato negro, um rosto

sombrio de esfinge, abre-te os seus verdes olhos...

 

Em: “Tamargueiras” (1891)

 

Referência:

 

PASCOLI, Giovanni. Un gatto nero. In: __________. Tutte le poesie. A cura di Arnaldo Colasanti. Traduzione e note delle Poesie latine di Nora Calzolaio. 2. ed. Roma, IT: Grandi Tascabili Economici Newton, nov. 2001. p. 41. (‘I Mammut’; n. 72)

Nenhum comentário:

Postar um comentário