Celebrando o ato
amoroso e a paixão carnal de um modo evocador e metafórico, o poeta lança mão
de imagens cósmicas para acentuar o tom sensual e erótico de suas linhas: a “coreografia
da vida” se desenvolve ao ritmo de respirações entrecortadas, atingindo um
clímax com “a ereção do espírito que goza e ejacula”, após o que, em exaustão, o
falante finda a relação com uma “última lambida” ao seio da amante.
A rigor, depreende-se
das palavras de Caponi que o amor teria o condão de conduzir a uma profunda e
sublime experiência, como seria de se esperar de uma conexão que, resultando de
trocas entre forças físicas, sensíveis e espirituais, integra-as numa síntese
unificadora, cujo êxtase, em essência, representaria a atualização das
virtualidades do ser.
J.A.R. – H.C.
Sérgio Caponi
(n. 1950)
Poema Ereto
Deixei de ir à
conferência de um poeta russo
para amar minha
mulher compulsivamente.
Optei pela poesia do
ser,
do sentir
e do prazer.
No quarto escuro,
o Universo encerra-se
num beijo,
E a Via Láctea é um
moinho de vento girando entre
meus desejos.
Pálida Lua que se
afina nas rendas da cortina.
Ânsias de minha alma
em longo sono adormecidas,
recônditos do sexo explícitos
em selênicos reflexos,
coreografia da vida
ao som ofego das respirações,
pulsar bendito que
estrangula,
ereção do espírito
que goza e ejacula.
Na emulsão dos
líquidos
afogam-se as mágoas,
e um rio transbordado
em sentimento,
fecunda as várzeas da
emoção,
e, em cataclísmica
inundação,
abunda a alma de
paixão.
Pálida Lua que se
afina nas rendas da cortina...
Lânguida quimera
refletida em minha libido exaurida,
enquanto a boca busca
o peito para uma última lambida.
O julgamento de Paris
(Adriaen van der
Werff: pintor holandês)
Poème Érectile
Je ne suis pas allé à
la conférence d’un poète russe
pour aimer ma femme
compulsivement.
J’ai opté pour la
poesie d’être,
de sentir
et du plaisir.
Dans la chambre
sombre,
l’Univers s’enferme
dans un baiser,
et la Voie Lactée est
un moulin à vent en tournoyant
parmi mes désirs.
Pãle Lune qui
s’affine aux dentelles du rideau.
Angoisses de mon âme
endormies en long sommeil,
recoins explicites du
sexe en reflets séléniques,
chorégraphie de la vie
au son haletant des respirations,
battement bénit que
étrangle,
érection de l’esprit
qui jouit et éjacule.
Dans l’émulsion des
liquides
les chagrins se
noient,
et un fleuve
transborde en sentiment,
fécond les plaines de
l’emotion,
et en cataclysmique
inondation,
abonde l’âme de
passion.
Pâle Lune qui
s’affine aux dentelles du rideau.
Languissante chimère
réfléchie dans ma libido épuisée,
tandis que la bouche
cherche le sein pour un dernière
lèchement.
Referência:
CAPONI, Sérgio. Poema
ereto / Poème érectile. Tradução ao francês de Sérgio Caponi. In: CAPONI,
Sérgio (Organização e Tradução). Poemas da paixão subjacente: Dante
Alighieri, Francesco Petrarca e Sérgio Caponi. Campinas, SP: Editora Átomo,
2007. Em português: p. 187; em francês: p. 186.
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