Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Sérgio Caponi - Poema Ereto

Celebrando o ato amoroso e a paixão carnal de um modo evocador e metafórico, o poeta lança mão de imagens cósmicas para acentuar o tom sensual e erótico de suas linhas: a “coreografia da vida” se desenvolve ao ritmo de respirações entrecortadas, atingindo um clímax com “a ereção do espírito que goza e ejacula”, após o que, em exaustão, o falante finda a relação com uma “última lambida” ao seio da amante.

 

A rigor, depreende-se das palavras de Caponi que o amor teria o condão de conduzir a uma profunda e sublime experiência, como seria de se esperar de uma conexão que, resultando de trocas entre forças físicas, sensíveis e espirituais, integra-as numa síntese unificadora, cujo êxtase, em essência, representaria a atualização das virtualidades do ser.

 

J.A.R. – H.C.

 

Sérgio Caponi

(n. 1950)

 

Poema Ereto

 

Deixei de ir à conferência de um poeta russo

para amar minha mulher compulsivamente.

Optei pela poesia do ser,

do sentir

e do prazer.

No quarto escuro,

o Universo encerra-se num beijo,

E a Via Láctea é um moinho de vento girando entre

meus desejos.

 

Pálida Lua que se afina nas rendas da cortina.

 

Ânsias de minha alma em longo sono adormecidas,

recônditos do sexo explícitos em selênicos reflexos,

coreografia da vida ao som ofego das respirações,

pulsar bendito que estrangula,

ereção do espírito que goza e ejacula.

 

Na emulsão dos líquidos

afogam-se as mágoas,

e um rio transbordado em sentimento,

fecunda as várzeas da emoção,

e, em cataclísmica inundação,

abunda a alma de paixão.

 

Pálida Lua que se afina nas rendas da cortina...

 

Lânguida quimera refletida em minha libido exaurida,

enquanto a boca busca o peito para uma última lambida.

 

O julgamento de Paris

(Adriaen van der Werff: pintor holandês)

 

Poème Érectile

 

Je ne suis pas allé à la conférence d’un poète russe

pour aimer ma femme compulsivement.

J’ai opté pour la poesie d’être,

de sentir

et du plaisir.

Dans la chambre sombre,

l’Univers s’enferme dans un baiser,

et la Voie Lactée est un moulin à vent en tournoyant

parmi mes désirs.

 

Pãle Lune qui s’affine aux dentelles du rideau.

 

Angoisses de mon âme endormies en long sommeil,

recoins explicites du sexe en reflets séléniques,

chorégraphie de la vie au son haletant des respirations,

battement bénit que étrangle,

érection de l’esprit qui jouit et éjacule.

 

Dans l’émulsion des liquides

les chagrins se noient,

et un fleuve transborde en sentiment,

fécond les plaines de l’emotion,

et en cataclysmique inondation,

abonde l’âme de passion.

 

Pâle Lune qui s’affine aux dentelles du rideau.

 

Languissante chimère réfléchie dans ma libido épuisée,

tandis que la bouche cherche le sein pour un dernière

lèchement.

 

Referência:

 

CAPONI, Sérgio. Poema ereto / Poème érectile. Tradução ao francês de Sérgio Caponi. In: CAPONI, Sérgio (Organização e Tradução). Poemas da paixão subjacente: Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Sérgio Caponi. Campinas, SP: Editora Átomo, 2007. Em português: p. 187; em francês: p. 186.

Nenhum comentário:

Postar um comentário