A suscitar a pertinaz
incerteza e as dúvidas existenciais que acompanham a condição humana, o poeta, mediante
uma série de perguntas retóricas em forma de disjuntivas, põe à vista os
dilemas fundamentais da existência – ser ou não ser, ter ou não ter, agir ou
abster-se etc. – os quais, em suas simples aparências, encerram graves questões
sobre a própria identidade, os desejos mais profundos e as emoções correlatas,
sempre a influenciarem as nossas percepções sobre as coisas, nossos
relacionamentos, até mesmo a forma como adotamos certas decisões no quotidiano.
O caminho do autoentendimento,
do discernimento do que está por trás dos sentimentos que, vezes sem conta, nos
levam a adotar posturas contraditórias ou ambíguas, poderia atenuar essa insegurança
de ordem “máxima”, tanto mais que, vivendo num mundo em que a incerteza ganha
status de imanência, em que alguma margem de caos sempre está à espreita para tornar
mais abstrusa a complexidade em que estamos envoltos, não se vislumbram,
incontinenti, meios alternativos para extirpar de vez essa sensação de desorientação.
J.A.R. – H.C.
Carlos Queiroz Telles
(1936-1993)
Insegurança máxima
Ser ou não ser,
ter ou não ter,
comer ou não comer,
beber ou não beber,
viajar ou não viajar,
beijar ou não beijar,
vestir ou não vestir,
sair ou não sair,
amar ou odiar,
dormir ou acordar
brigar ou namorar
passear ou estudar,
aceitar ou protestar,
afinar ou encarar
as grandes dúvidas
desta vida:
Será que eu sei o que
eu sou?
Será que eu sei o que
eu quero?
Será que eu sei o que
eu sinto?
Será que essa cuca
confusa
cheia de issos ou
aquilos...
Será...
Será que isso sou eu?
Homem inseguro
(Joaquin Abella:
artista espanhol)
Referência:
TELLES, Carlos
Queiroz. Insegurança máxima. In: __________. Sementes do sol. São Paulo,
SP: Moderna, 1992. p. 45.
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