Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 4 de maio de 2025

Carlos Queiroz Telles - Insegurança máxima

A suscitar a pertinaz incerteza e as dúvidas existenciais que acompanham a condição humana, o poeta, mediante uma série de perguntas retóricas em forma de disjuntivas, põe à vista os dilemas fundamentais da existência – ser ou não ser, ter ou não ter, agir ou abster-se etc. – os quais, em suas simples aparências, encerram graves questões sobre a própria identidade, os desejos mais profundos e as emoções correlatas, sempre a influenciarem as nossas percepções sobre as coisas, nossos relacionamentos, até mesmo a forma como adotamos certas decisões no quotidiano.

 

O caminho do autoentendimento, do discernimento do que está por trás dos sentimentos que, vezes sem conta, nos levam a adotar posturas contraditórias ou ambíguas, poderia atenuar essa insegurança de ordem “máxima”, tanto mais que, vivendo num mundo em que a incerteza ganha status de imanência, em que alguma margem de caos sempre está à espreita para tornar mais abstrusa a complexidade em que estamos envoltos, não se vislumbram, incontinenti, meios alternativos para extirpar de vez essa sensação de desorientação.

 

J.A.R. – H.C.

 

Carlos Queiroz Telles

(1936-1993)

 

Insegurança máxima

 

Ser ou não ser,

ter ou não ter,

 

comer ou não comer,

beber ou não beber,

 

viajar ou não viajar,

beijar ou não beijar,

 

vestir ou não vestir,

sair ou não sair,

 

amar ou odiar,

dormir ou acordar

brigar ou namorar

passear ou estudar,

aceitar ou protestar,

afinar ou encarar

as grandes dúvidas desta vida:

 

Será que eu sei o que eu sou?

Será que eu sei o que eu quero?

Será que eu sei o que eu sinto?

 

Será que essa cuca confusa

cheia de issos ou aquilos...

 

Será...

 

Será que isso sou eu?

 

Homem inseguro

(Joaquin Abella: artista espanhol)

 

Referência:

 

TELLES, Carlos Queiroz. Insegurança máxima. In: __________. Sementes do sol. São Paulo, SP: Moderna, 1992. p. 45.

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