Tomando uma ursa
negra – seus movimentos, suas ações e interações instintivas com os elementos do
espaço físico ao redor – como símbolo da natureza, a poetisa motiva-nos a focarmos
na importância de amar e de contemplar, com um olhar mais atento, tudo o que se
encontra em nosso entorno.
Afinal, nada há de
mais gratuito no mundo do que a beleza, em suas múltiplas formas, e as
maravilhas que nos são obsequiadas pela natureza, servindo-nos como inspiração
para o desencadeamento de nossas próprias ideias, criações, realizações: tragamos
sempre a arder o espírito de vitalidade e de renovação que o marco da primavera
nos incita a emular!
J.A.R. – H.C.
Mary Oliver
(1935-2019)
Somewhere
a black bear
has just risen from sleep
and is staring
down the mountain.
All night
in the brisk and shallow restlessness
of early spring
I think of her,
her four black fists
flicking the gravel,
her tongue
like a red fire
touching the grass,
the cold water.
There is only one question:
how to love this world.
I think of her
rising
like a black and leafy ledge
to sharpen her claws against
the silence
of the trees.
Whatever else
my life is
with its poems
and its music
and its glass cities,
it is also this dazzling darkness
coming
down the mountain,
breathing and tasting;
all day I think of her –
her white teeth,
her wordlessness,
her perfect love.
Na Primavera
(Marion Rose: pintora
canadense)
Primavera
Em algum lugar,
uma ursa negra
acaba de despertar
e lança um olhar atento
sobre a montanha.
Durante toda a noite,
sob a vívida e breve agitação
do início da
primavera,
eu penso nela,
em suas quatro patas
negras
revirando o cascalho,
na língua
como uma rúbida chama
a tocar a relva,
a água fria.
Só há uma pergunta:
como amar este mundo?
Penso nela
a erguer-se,
como um flanco escuro
e frondoso,
para afiar suas
garras contra
o silêncio
das árvores.
O que quer que seja,
minha vida,
com seus poemas,
sua música
e suas cidades de
vidro,
também é esse negror
deslumbrante
que desce
a montanha,
respirando e se
deliciando;
penso nela o dia todo
–
em seus dentes brancos,
em sua carência de
palavras,
em seu amor perfeito.
Referência:
OLEVER, Mary. Spring.
In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard
times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 24-25.
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