Morales, escritora e
poetisa norte-americana de ascendência judaica, nascida em Porto Rico, põe em
destaque nestes versos a diversidade cultural da herança que lhe foi legada e
que lhe modela a própria identidade: nascida numa “encruzilhada” de tantos lastros
híbridos, sente-se a falante, de todo modo, visceralmente enraizada no novo
continente.
Com efeito, a
experiência imigratória nos EUA explica a vasta mescla de culturas presente
naquele país, não se podendo reduzir a sobredita identidade da autora a um só etiqueta
ou categoria, pois que amálgama de influências que a tornam única e completa em
sua diversidade – latina, europeia, judaica, negra e taína.
J.A.R. – H.C.
Aurora Levins Morales
(n. 1954)
I am a child of the Americas,
a light-skinned mestiza of the Caribbean,
a child of many diaspora, born into this continent
at a crossroads.
I am a U.S. Puerto Rican Jew,
a product of ghettos of New York I have never
known.
An immigrant and the daughter and granddaughter of
immigrants.
I speak English with passion: it’s the tongue of my
consciousness,
a flashing knife blade of crystal, my tool, my
craft.
I am Caribena, island grown. Spanish is in my
flesh,
ripples from my tongue, lodges in my hips:
the language of garlic and mangoes,
the singing in my poetry, the flying gestures of my
hands.
I am of Latinoamerica, rooted in the history of my
continent:
I speak from that body.
I am not african. Africa is in me, but I cannot
return.
I am not taína (1). Taíno is in me, but there is no
way back.
I am not european. Europe lives in me, but I have
no home there.
I am new. History made me. My first language was
spanglish (2).
I was born at the crossroads
and I am whole.
Orações para a
próxima geração
(Rob Corsetti:
artista norte-americano)
Filha das Américas
Eu sou uma filha das
Américas,
uma mestiça de pele
clara do Caribe,
uma filha de muitas diásporas,
nascida neste continente
em uma encruzilhada.
Sou um judia
norte-americana de origem porto-riquenha,
um produto dos guetos
de Nova York que jamais conheci.
Uma imigrante, filha
e neta de imigrantes.
Falo inglês com
paixão: é o idioma da minha consciência,
uma lâmina cintilante
de cristal, minha ferramenta, meu ofício.
Sou uma caribenha,
crescida na ilha. O espanhol está
em minha carne,
ondula da minha
língua, aloja-se em meus quadris:
a linguagem do alho e
das mangas,
o canto em minha poesia;
os gestos voejantes das minhas mãos.
Sou latino-americana,
enraizada na história do meu continente:
Eu falo a partir
desse corpo.
Não sou africana. A
África está em mim, mas para lá
não posso regressar.
Não sou taína. O taíno
está em mim, mas não há caminho de volta.
Não sou europeia. A Europa
vive em mim, mas lá não tenho lar.
Eu sou nova. A
história me fez. Meu primeiro idioma foi o spanglish.
Nasci na encruzilhada
e sou completa.
Notas:
(1). Taínos são os
nativos de Porto Rico, de origem indígena.
(2). “Spanglish”: uma
mistura, sobretudo na fala, do espanhol com o inglês, algo equivalente ao
“Portunhol”, mescla do português com o espanhol.
Referência:
MORALES, Aurora
Levins. Child of the Americas. In: SANTIAGO, Roberto (Ed). Boricuas:
influential puerto rican writings – an anthology. 1st ed. New York, NY: One
World Books (A division of Random House), sept. 1995. p. 79.
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