Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Aurora Levins Morales - Filha das Américas

Morales, escritora e poetisa norte-americana de ascendência judaica, nascida em Porto Rico, põe em destaque nestes versos a diversidade cultural da herança que lhe foi legada e que lhe modela a própria identidade: nascida numa “encruzilhada” de tantos lastros híbridos, sente-se a falante, de todo modo, visceralmente enraizada no novo continente.

 

Com efeito, a experiência imigratória nos EUA explica a vasta mescla de culturas presente naquele país, não se podendo reduzir a sobredita identidade da autora a um só etiqueta ou categoria, pois que amálgama de influências que a tornam única e completa em sua diversidade – latina, europeia, judaica, negra e taína.

 

J.A.R. – H.C.

 

Aurora Levins Morales

(n. 1954)

 

Child of the Americas

 

I am a child of the Americas,

a light-skinned mestiza of the Caribbean,

a child of many diaspora, born into this continent at a crossroads.

 

I am a U.S. Puerto Rican Jew,

a product of ghettos of New York I have never known.

An immigrant and the daughter and granddaughter of immigrants.

I speak English with passion: it’s the tongue of my consciousness,

a flashing knife blade of crystal, my tool, my craft.

 

I am Caribena, island grown. Spanish is in my flesh,

ripples from my tongue, lodges in my hips:

the language of garlic and mangoes,

the singing in my poetry, the flying gestures of my hands.

I am of Latinoamerica, rooted in the history of my continent:

I speak from that body.

 

I am not african. Africa is in me, but I cannot return.

I am not taína (1). Taíno is in me, but there is no way back.

I am not european. Europe lives in me, but I have no home there.

 

I am new. History made me. My first language was spanglish (2).

I was born at the crossroads

and I am whole.

 

Orações para a próxima geração

(Rob Corsetti: artista norte-americano)

 

Filha das Américas

 

Eu sou uma filha das Américas,

uma mestiça de pele clara do Caribe,

uma filha de muitas diásporas, nascida neste continente

em uma encruzilhada.

 

Sou um judia norte-americana de origem porto-riquenha,

um produto dos guetos de Nova York que jamais conheci.

Uma imigrante, filha e neta de imigrantes.

Falo inglês com paixão: é o idioma da minha consciência,

uma lâmina cintilante de cristal, minha ferramenta, meu ofício.

 

Sou uma caribenha, crescida na ilha. O espanhol está

em minha carne,

ondula da minha língua, aloja-se em meus quadris:

a linguagem do alho e das mangas,

o canto em minha poesia; os gestos voejantes das minhas mãos.

Sou latino-americana, enraizada na história do meu continente:

Eu falo a partir desse corpo.

 

Não sou africana. A África está em mim, mas para lá

não posso regressar.

Não sou taína. O taíno está em mim, mas não há caminho de volta.

Não sou europeia. A Europa vive em mim, mas lá não tenho lar.

 

Eu sou nova. A história me fez. Meu primeiro idioma foi o spanglish.

Nasci na encruzilhada

e sou completa.

 

Notas:

 

(1). Taínos são os nativos de Porto Rico, de origem indígena.

 

(2). “Spanglish”: uma mistura, sobretudo na fala, do espanhol com o inglês, algo equivalente ao “Portunhol”, mescla do português com o espanhol.

 

Referência:

 

MORALES, Aurora Levins. Child of the Americas. In: SANTIAGO, Roberto (Ed). Boricuas: influential puerto rican writings – an anthology. 1st ed. New York, NY: One World Books (A division of Random House), sept. 1995. p. 79.

Nenhum comentário:

Postar um comentário