Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 7 de setembro de 2024

Marianne Moore - Um Rosto

Alguns rostos têm o poder de nos despertar um certo prazer, por deixarem extravasar o que há de mais sincero na alma, eis que plenos daquela simplicidade sem derivas que, do contrário, poderiam encobrir aspectos menos autênticos, certa superficialidade ou traços estereotipados dos que os detêm.

 

Veja-se que a falante se põe em frente a um espelho, afirmando não possuir uma série de traços negativos em sua personalidade, a sugerir uma defesa ante possíveis julgamentos injustos, ainda que, tal como se pode deduzir, não se encontre, de fato, sob um verdadeiro um impasse.

 

Para aquele que a tudo observa, sempre haverá alguma apreensão ante o desconhecido, no sentido de que lhe assalta uma dúvida acerca da fidedignidade de sua percepção perante o real, inclusive, é claro, diante da própria arte, sempre a suscitar incontáveis interpretações e significados, ou ainda, ilimitadas possibilidades de atender ao nosso prazer estético.

 

“Fico muito ansiosa enquanto escrevo – tenho dúvidas, nenhuma curiosidade depois – nenhum interesse na avaliação. Há que se ser complacente. ‘Um Rosto’ soa-me como uma conversa. Não limito sua implicação ao fazer alusão a um rosto em especial; não é tão longo que sobrecarregue a atenção; é positivo, uma afirmação – não uma vingança”. (Nota de M. M. em ENGLE; LANGLAND, 1962, p. 11)

 

J.A.R. – H.C.

 

Marianne Moore

(1887-1972)

 

A Face

 

‘I am not treacherous, callous, jealous, superstitious,

supercilious, venomous, or absolutely hideous’:

studying and studying its expression,

exasperated desperation

though at no real impass,

would gladly break the mirror;

 

when love of order, ardor, uncircuitous simplicity

with an expression of inquiry, are all one needs to be!

Certain faces, a few, one or two – or one

face photographed by recollection –

to my mind, to my sight,

must remain a delight.

 

O Espelho

(Sir William Orpen: artista irlandês)

 

Um Rosto

 

“Não sou traiçoeira, insensível, invejosa, supersticiosa,

arrogante, venenosa ou absolutamente hedionda”:

estudando e estudando a sua expressão,

exasperado desespero

ainda que sem verdadeiro impasse,

quebraria de bom grado o espelho;

 

quando o amor pela ordem, o ardor, a simplicidade sem rodeios

com uma expressão de indagação, são tudo o que alguém

precisa ser!

Certos rostos, alguns, um ou dois – ou um

rosto fotografado pela memória –

em minha opinião, a meu ver,

devem permanecer um prazer.

 

Referência:

 

MOORE, Marianne. A face. In: ENGLE, Paul; LANGLAND, Joseph (Eds.). Poet’s choice. New York, NY: The Dial Press, 1962. p. 11.

Nenhum comentário:

Postar um comentário