Num quarto que corresponde
à metafórica caverna de Platão, o falante insone apreende o que se passa nos
arredores da cidade, através dos reflexos vistos nas paredes e dos sons ouvidos
pela janela. Quando ele se dispõe a contemplar, de fato, o que há lá fora,
percebe a infinita extensão do plano cósmico, e os seus olhos logo se tornam
exaustos, forçando-o a retornar para a cama.
Sem depreciar a
existência desse vasto firmamento, a voz lírica logo se detém a nos revelar o
quanto de realidade também há pelo lado interno das paredes do dormitório, ou
ainda, sob a sua própria derme – um mundo sensorial, perceptivo, que,
identicamente, se projeta como um filme nessa tela alegórica, autêntico fundo a
demarcar o caráter nada indulgente da História.
J.A.R. – H.C.
Delmore Schwartz
(1913-1966)
In the Naked Bed, in
Plato’s Cave
In the naked bed, in Plato’s
cave,
Reflected headlights
slowly slid the wall,
Carpenters hammered
under the shaded window,
Wind troubled the
window curtains all night long,
A fleet of trucks
strained uphill, grinding,
Their freights
covered, as usual.
The ceiling lightened
again, the slanting diagram
Slid slowly forth.
Hearing the milkman’s
chop,
His striving up the
stair, the bottle’s chink,
I rose from bed, lit
a cigarette,
And walked to the
window. The stony street
Displayed the
stillness in which buildings stand,
The street-lamp’s
vigil and the horse’s patience.
The winter sky’s pure
capital
Turned me back to bed
with exhausted eyes.
Strangeness grew in
the motionless air. The loose
Film grayed. Shaking
wagons, hooves’ waterfalls,
Sounded far off,
increasing, louder and nearer.
A car coughed,
starting. Morning, softly
Melting the air,
lifted the half-covered chair
From underseas,
kindled the looking-glass,
Distinguished the
dresser and the white wall.
The bird called
tentatively, whistled, called,
Bubbled and whistled,
so! Perplexed, still wet
With sleep,
affectionate, hungry and cold. So, so,
O son of man, the
ignorant night, the travail
Of early morning, the
mystery of beginning
Again and again,
while History is
unforgiven.
A Caverna do
Desespero
(Benjamin West:
pintor anglo-americano)
Num Leito Nu, na
Caverna de Platão
No leito sem coberta,
na caverna de Platão,
Reflexos de fachos
deslizaram lentamente pela parede,
Carpinteiros martelaram
sob a janela ensombrada,
O vento, por toda a
noite, agitou as cortinas da janela,
Uma frota de caminhão
subiu a colina a ranger,
Com sua carga
coberta, como de costume.
Outra vez o teto se
iluminou, e o oblíquo diagrama
Deslizou aos poucos adiante.
Ao ouvir o pregoar do
leiteiro,
O seu esforço para subir
a escada, o tilintar das garrafas,
Levantei-me da cama,
acendi um cigarro
E caminhei até a
janela. A rua empedrada
Exibia a quietude em
que assentes os prédios,
A vigília dos lampiões
e a paciência dos cavalos.
A límpida abóbada do
céu de inverno
Fez-me retornar ao
leito com os olhos exaustos.
A estranheza medrou
pelo ar imóvel. O filme em livre projeção
Acinzentou-se. Carroças
sacolejantes e cascatas de cascos
Ressoaram ao largo,
cada vez mais forte e mais perto.
Um carro baforou,
dando partida. A manhã, dissolvendo
Suavemente o ar,
ergueu do fundo do mar
O semicoberto
assento, iluminou o espelho,
Tornando mais nítidas
a cômoda e a parede branca.
O pássaro tentou
chamar, silvou, chamou;
De fato, trinou e
silvou! Perplexo, ainda úmido
De sono, afetuoso,
faminto e com frio. Assim, assim,
Ó filho do homem, a
noite ignorante, o árduo trabalho
Da manhã, o mistério
de começar
De novo e de novo,
enquanto a História
não perdoa.
Referência:
SCHWARTZ, Delmore. In
the naked bed, in Plato’s cave. In: UNTERMEYER, Louis (Ed.). Modern american
and british poetry. In two volumes: volume 1 – american. Published for the
United States Armed Forces: Education Manual - EM 131. Washington, D.C.: Harcourt,
Brace and Company, nov. 1944. p. 692.
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