Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 22 de setembro de 2024

Edwin Morgan - Morangos

O poeta evoca um momento íntimo e aprazível compartilhado entre duas pessoas, numa tarde tórrida, buscando capturar a essência de um instante fugaz de felicidade e de amor: dois amantes, suficientemente próximos, sorvem morangos, uma fruta apetecível, com frequência associada à indulgência e à paixão, ou melhor, à linguagem da sensualidade.

 

A intimidade e a conexão profunda entre os protagonistas, o estado de quase suspensão da realidade exterior, a experiência sensorial e lúbrica então levada a efeito, perduram na memória do falante, como que a deter o fluxo do tempo, para configurar aquilo que o também poeta Vinicius de Moraes entende por infinitude, em meio ao que é a pura chama do transitório.

 

J.A.R. – H.C.

 

Edwin Morgan

(1920-2010)

 

Strawberries

 

There were never strawberries

like the ones we had

that sultry afternoon

sitting on the step

of the open french window

facing each other

your knees held in mine

the blue plates in our laps

the strawberries glistening

in the hot sunlight

we dipped them in sugar

looking at each other

not hurrying the feast

for one to come

the empty plates

laid on the stone together

with the two forks crossed

and I bent towards you

sweet in that air

in my arms

abandoned like a child

from your eager mouth

the taste of strawberries

in my memory

lean back again

let me love you

 

let the sun beat

on our forgetfulness

one hour of all

the heat intense

and summer lightning

on the Kilpatrick hills

 

let the storm wash the plates

 

Dois jovens à mesa

(Diego Velázquez: pintor espanhol)

 

Morangos

 

Nunca houve morangos

como os que tivemos

naquela tarde tórrida

sentados nos degraus

da porta-janela aberta

de frente um para o outro

seus joelhos encostados nos meus

os pratos azuis em nossos colos

os morangos brilhando

na luz quente do sol

nós os mergulhamos em açúcar

olhando um para o outro

sem apressar a festa

para chegar ao fim

os pratos vazios

deitados sobre a pedra juntos

com os dois garfos cruzados

e eu me aproximei de você

dócil naquele ar

nos meus braços

abandonado como uma criança

da sua boca ávida

o gosto de morangos

na minha memória

inclina-se de volta

deixe-me amá-lo

 

deixe o sol bater

sobre o nosso esquecimento

uma hora de tudo

o calor intenso

e o relâmpago de verão

nas colinas de Kilpatrick

 

deixe a tempestade lavar os pratos

 

Referência:

 

MORGAN, Edwin. Strawberries / Morangos. Tradução de Virna Teixeira. In: __________. Na estação central. Seleção, tradução e introdução de Virna Teixeira. Brasília, DF: Editora da UnB, 2006. Em inglês: p. 22 e 24; em português: 23 e 25. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)

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