Neste que é um dos
mais sombrios e difíceis temas da realidade urbana – a infância e a adolescência
desamparadas –, o poeta, a sério, descrê num futuro que vulnerabiliza os seus
rebentos, “ejaculando-os” numa vida de desesperança, expondo-os à violência das
ruas, ao consumo de drogas, quando não, à prostituição já desde a mais tenra
idade.
O título, é óbvio,
alude à campanha de mobilização social promovida pela TV Globo, em parceria com
a Unicef/Unesco, com o objetivo de se atenuar o problema: sem demérito para o programa,
o fato é que as grandes linhas de atuação da política e da planificação econômica,
em Pindorama, não têm olhares cardinais em matéria de justiça social, bastando
ver as restrições orçamentárias, impostas constitucionalmente há alguns anos,
aos gastos públicos com educação e saúde. Brasil, país do futuro?
J.A.R. – H.C.
Alceu Brito Corrêa
(n. 1946)
Criança Esperança?
como fazer versos de
esperança
se me ronda a todo e
a cada instante
sombras, maus
pensamentos, carrancas
de formas multicores,
mutantes?
mulheres de ruas
tortuosas,
vícios indefinidos,
voláteis;
rapazes de perfis
sinuosos
a se apalparem, mui
gentis, táteis;
horrorosas rosas de
Hiroshima
legam cérebros
perdidos, débeis,
chegados à coca e à heroína;
filhos de esquinas tão
estéreis
avançam em bolsas de
esperança
como a cobrar míseros
trocados –
dívida social das
crianças
que em ato vil são
ejaculadas
na vida – cruel
desesperança!
O pequeno jornaleiro
(Ralph Hedley: pintor
inglês)
Referência:
CORRÊA, Alceu Brito.
Criança esperança? In: __________. Epiciclo. Rio de Janeiro, RJ: Blocos,
2002. p. 25.
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