Percebe-se certo tom
de resignação e desilusão nesta “viagem” visual e emocional, levada a efeito
pela poetisa pernambucana: a uma quadra pretérita de amargura e de dor, sobrepõem-se
sonhos e ânsias para se contornar a circunscrição do sofrimento, até a sede de
um “carrossel”, a simbolizar a esperança, o encanto e a alegria – a despeito
das atribulações.
Se a pele – distante
e gélida – se encontra exposta a um frio impactante e pungente, desconectada das
emoções mais significativas, há que se experimentar uma metamorfose para se depurar
a essência do ser, mesmo que, em primeira ou última instância, se recorra a uma
íntima conexão com a natureza, para se arregimentar forças e seguir adiante, superando
as vagas em sentido contrário.
J.A.R. – H.C.
Terêza Tenório
(1949-2020)
Luas de Gelo
A mim só me foi dado
o amargo gesto
a palavra da que se
ardeu em mágoas
e que dormia à sombra
e que sonhava
um carrossel pulsando
além da treva.
A mim me foi negado o
sol e a lágrima
luas de gelo acesas
sobre a pele.
Porque arrebatada à
morte breve
meu sopro
transformou-se em sangue e bala.
Porque me foi pedido
ser submersa
mensageira vazia e
indecifrada
me transportei no
lombo das serpentes
aos cornos minerais
da mata atlântica.
Luas de Gelo
(Hyunju Kim: artista
sul-coreano)
Referência:
TENÓRIO, Terêza. Luas
de gelo. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia
da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo,
1992. p. 311.
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