Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Terêza Tenório - Luas de Gelo

Percebe-se certo tom de resignação e desilusão nesta “viagem” visual e emocional, levada a efeito pela poetisa pernambucana: a uma quadra pretérita de amargura e de dor, sobrepõem-se sonhos e ânsias para se contornar a circunscrição do sofrimento, até a sede de um “carrossel”, a simbolizar a esperança, o encanto e a alegria – a despeito das atribulações.

 

Se a pele – distante e gélida – se encontra exposta a um frio impactante e pungente, desconectada das emoções mais significativas, há que se experimentar uma metamorfose para se depurar a essência do ser, mesmo que, em primeira ou última instância, se recorra a uma íntima conexão com a natureza, para se arregimentar forças e seguir adiante, superando as vagas em sentido contrário.

 

J.A.R. – H.C.

 

Terêza Tenório

(1949-2020)

 

Luas de Gelo

 

A mim só me foi dado o amargo gesto

a palavra da que se ardeu em mágoas

e que dormia à sombra e que sonhava

um carrossel pulsando além da treva.

 

A mim me foi negado o sol e a lágrima

luas de gelo acesas sobre a pele.

Porque arrebatada à morte breve

meu sopro transformou-se em sangue e bala.

 

Porque me foi pedido ser submersa

mensageira vazia e indecifrada

me transportei no lombo das serpentes

aos cornos minerais da mata atlântica.

 

Luas de Gelo

(Hyunju Kim: artista sul-coreano)

 

Referência:

 

TENÓRIO, Terêza. Luas de gelo. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 311.

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