O poeta, mediante um conjuro, faz a
apologia da mente humana e de sua capacidade para explorar temas como a
verdade, a justiça, a esperança e o poder para criar e transformar o mundo:
bela e inamordaçável, ela é capaz de conceber ideias universais e distinguir o
que não seja conforme à equidade e à fidedignidade dos fatos, ou ainda, à
lógica dos argumentos.
Sem fazer distinção entre
raças, classes ou nacionalidades, a razão é o vetor a orientar os
administradores do patrimônio comum à humanidade, resgatando e preservando a
clareza e a precisão das metas a alcançar, em meio ao caos das palavras
corrompidas, pejadas de intolerância, xenofobia e preconceito.
Condenados à
autodestruição estão todos os que vão de encontro a esses propósitos maiores perseguidos
pela justa razão, ideais elevados aos quais se juntam a sabedoria e a poesia,
tornando-os refratários à turbulência do mundo, chegando mesmo a transcender os
nossos mundanos limites temporais.
J.A.R. – H.C.
Czesław Miłosz
(1911-2004)
Zaklęcie
Piękny jest ludzki rozum
i niezwyciężony.
Ani krata, ni drut,
ni oddanie książek na przemiał,
Ani wyrok banicji nie
mogą nic przeciw niemu.
On ustanawia w języku powszechne idee
I prowadzi nam rękę, więc piszemy z wielkiej
litery
Prawda i Sprawiedliwość, a z małej kłamstwo i krzywda.
On ponad to, co jest,
wynosi, co być powinno,
Nieprzyjaciel rozpaczy,
przyjaciel nadziei.
On nie zna Żyda ni Greka,
niewolnika ni pana,
W zarząd oddając nam wspólne gospodarstwo świata.
On z plugawego
zgiełku dręczonych wyrazów
Ocala zdania surowe i
jasne.
On mówi nam, że wszystko jest ciągle nowe pod słońcem,
Otwiera dłoń zakrzepłą tego, co już było
Piękna i bardzo młoda jest Filo-Sofija
I sprzymierzona z nią poezja w służbie Dobrego.
Natura ledwo wczoraj święciła ich narodziny,
Wieść o tym górom przyniosły jednorożec i echo.
Sławna będzie ich przyjaźń, ich czas nie ma
granic.
Ich wrogowie wydali
siebie na zniszczenie.
Berkeley, 1968
A Razão Humana
(Ken Laidlaw: artista
inglês)
Conjuro
Bela é a razão humana
e invencível.
Nem grades, nem arame
farpado, nem trituração de livros,
Nem a condenação ao
exílio, nada podem contra ela.
Ela instala nas
línguas ideias universais
E guia nossa mão, de
sorte que escrevemos com maiúscula
Verdade e Justiça, e
com minúscula mentira e iniquidade.
Acima do que é, ela
ergue o que deveria ser,
Inimiga do desespero,
amiga da esperança.
Ela não conhece judeu
nem grego, servo ou senhor,
Confiando a nosso
governo o ofício comum do mundo.
Da vil balbúrdia das
palavras atormentadas
Ela salva as frases
severas e claras.
Ela nos diz que tudo
é sempre novo sob o sol,
Abre a mão
petrificada do que já foi:
Bela e muito jovem é
a Philo-Sophia
E a poesia, sua
aliada a serviço do Bem.
A natureza ainda
ontem festejou seu nascimento,
O licorne e o eco
trouxeram a notícia às montanhas.
Gloriosa será esta
amizade, seu tempo não tem fim.
Seus adversários fadaram-se
à destruição.
Berkeley, 1968
Referência:
MIŁOSZ, Czesław. Zaklęcie / Conjuro. Tradução
de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. In: __________. Não mais.
Seleção, tradução e introdução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza.
Edição bilíngue. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 2001. Em
polonês: p. 72; em português: p. 73. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
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