Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Langston Hughes - Trompetista

A estabelecer, de imediato, um profundo contexto histórico e emocional relacionado à experiência afro-americana nos EUA, este poema de Hughes, ao mesmo tempo que sugere uma busca de conformidade dos negros às expectativas sociais, evidencia a substancial riqueza cultural de que investidos e a importância da música para a sua própria identidade.

 

Com efeito, a música lhes serve como uma ardente paixão, como uma terapia com poder de transformação, a expressão de um desejo de liberdade e de escape à opressão social, a acenar com a possibilidade de uma vida melhor em terras que prezem por um sentido de igualdade não apenas formal – longe das incertezas que lhes assoberbam o quotidiano.

 

J.A.R. – H.C.

 

Langston Hughes

(1901-1967)

 

Trumpet Player

 

The Negro

with the trumpet at his lips

has dark moons of weariness

beneath his eyes

where the smoldering memory

of slave ships

blazed to the crack of whips

about thighs.

 

The negro

with the trumpet at his lips

has a head of vibrant hair

tamed down,

patent-leathered now

until it gleams

like jet –

were jet a crown.

 

The music

from the trumpet at his lips

is honey

mixed with liquid fire

the rhythm

from the trumpet at his lips

is ecstasy

distilled from old desire –

 

Desire

that is longing for the moon

where the moonlight’s but a spotlight

in his eyes,

desire

that is longing for the sea

where the sea’s a bar-glass

sucker size.

 

The Negro

with the trumpet at his lips

whose jacket

has a fine one-button roll,

does not know

upon what riff the music slips.

 

It’s hypodermic needle

to his soul

but softly

as the tune comes from his throat

trouble

mellows to a golden note.

 

O Trompetista

(Jean-Marc Janiaczyk: artista francês)

 

Trompetista

 

O negro

com o trompete nos lábios

tem luas negras de fadiga

por baixo dos olhos

onde a memória esfumaçada

de navios negreiros

chameja no estalar de chicotes

à altura das coxas.

 

O negro

com o trompete em seus lábios

tem um crânio de vibrantes cabelos

domesticados,

lustrados agora

até que brilhem

feito azeviche –

o azeviche a parecer uma coroa.

 

A música

do trompete em seus lábios

é mel

de mistura com fogo líquido.

O ritmo

do trompete em seus lábios

é êxtase

destilado do velho desejo –

 

Desejo

que é saudade da lua

onde o luar é um ponto de luz

em seus olhos.

Desejo

que é saudade do mar

onde o mar é um vidro com barras

tamanho chupeta.

 

O negro

com o trompete nos lábios

e cujo colete

tem um belo trespasse de um botão,

não sabe

sobre que ranhuras a música desliza

sua agulha hipodérmica

até o fundo d’alma –

 

Mas suavemente

enquanto a melodia brota-lhe da garganta

os problemas

abrandam-se numa nota dourada.

 

Nota:

 

A versão ao português da segunda estrofe do poema não consta na tradução de Hélio Pólvora, inserta na segunda referência abaixo, sendo, por conseguinte, de minha autoria.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

HUGHES, Langston. Trumpet player. In: __________. The collected poems of Langston Hughes. Edited by Arnold Rampersad (Editor) and David Roessel (Associate Editor). 1st ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House, Inc.), nov. 1995. p. 338-339.

 

Em Português

 

HUGHES, Langston. Trompetista. Tradução de Hélio Pólvora. NEAL, Larry. Langston Hughes: o poeta negro predileto da América. Tradução de Hélio Pólvora. In: KOSTELANETZ, Richard (Org.). Viagem à literatura americana contemporânea. Vários tradutores. Rio de Janeiro, RJ: Editorial Nórdica, 1985. p. 98-99.

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