A estabelecer, de imediato,
um profundo contexto histórico e emocional relacionado à experiência afro-americana
nos EUA, este poema de Hughes, ao mesmo tempo que sugere uma busca de
conformidade dos negros às expectativas sociais, evidencia a substancial
riqueza cultural de que investidos e a importância da música para a sua própria
identidade.
Com efeito, a música
lhes serve como uma ardente paixão, como uma terapia com poder de transformação,
a expressão de um desejo de liberdade e de escape à opressão social, a acenar
com a possibilidade de uma vida melhor em terras que prezem por um sentido de igualdade
não apenas formal – longe das incertezas que lhes assoberbam o quotidiano.
J.A.R. – H.C.
Langston Hughes
(1901-1967)
Trumpet Player
The Negro
with the trumpet at
his lips
has dark moons of
weariness
beneath his eyes
where the smoldering
memory
of slave ships
blazed to the crack
of whips
about thighs.
The negro
with the trumpet at
his lips
has a head of vibrant
hair
tamed down,
patent-leathered now
until it gleams
like jet –
were jet a crown.
The music
from the trumpet at
his lips
is honey
mixed with liquid fire
the rhythm
from the trumpet at
his lips
is ecstasy
distilled from old
desire –
Desire
that is longing for
the moon
where the moonlight’s
but a spotlight
in his eyes,
desire
that is longing for
the sea
where the sea’s a
bar-glass
sucker size.
The Negro
with the trumpet at
his lips
whose jacket
has a fine
one-button roll,
does not know
upon what riff the
music slips.
It’s hypodermic
needle
to his soul
but softly
as the tune comes
from his throat
trouble
mellows to a golden
note.
O Trompetista
(Jean-Marc Janiaczyk:
artista francês)
Trompetista
O negro
com o trompete nos lábios
tem luas negras de
fadiga
por baixo dos olhos
onde a memória
esfumaçada
de navios negreiros
chameja no estalar de
chicotes
à altura das coxas.
O negro
com o trompete em
seus lábios
tem um crânio de
vibrantes cabelos
domesticados,
lustrados agora
até que brilhem
feito azeviche –
o azeviche a parecer
uma coroa.
A música
do trompete em seus
lábios
é mel
de mistura com fogo
líquido.
O ritmo
do trompete em seus
lábios
é êxtase
destilado do velho
desejo –
Desejo
que é saudade da lua
onde o luar é um
ponto de luz
em seus olhos.
Desejo
que é saudade do mar
onde o mar é um vidro
com barras
tamanho chupeta.
O negro
com o trompete nos
lábios
e cujo colete
tem um belo
trespasse de um botão,
não sabe
sobre que ranhuras a
música desliza
sua agulha hipodérmica
até o fundo d’alma –
Mas suavemente
enquanto a melodia
brota-lhe da garganta
os problemas
abrandam-se numa nota
dourada.
Nota:
A versão ao
português da segunda estrofe do poema não consta na tradução de Hélio Pólvora, inserta
na segunda referência abaixo, sendo, por conseguinte, de minha autoria.
Referências:
Em Inglês
HUGHES, Langston. Trumpet player. In: __________. The collected poems of Langston Hughes. Edited by Arnold Rampersad (Editor) and David Roessel (Associate
Editor). 1st ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House,
Inc.), nov. 1995. p. 338-339.
Em Português
HUGHES, Langston. Trompetista. Tradução de Hélio Pólvora. NEAL, Larry.
Langston Hughes: o poeta negro predileto da América. Tradução de Hélio Pólvora.
In: KOSTELANETZ, Richard (Org.). Viagem à literatura
americana contemporânea. Vários tradutores. Rio
de Janeiro, RJ: Editorial Nórdica, 1985. p. 98-99.
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