Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 15 de setembro de 2024

Rita Dove - Adolescência – II

Em um cenário meio surrealista, sob uma atmosfera de mistério e de transformação, medo e fascínio, típica das incertezas que povoam a mente de uma adolescente, algo invulgar está a ponto de ocorrer: a falante submerge num mundo de fantasias, hesitando ante a pergunta que lhes direcionam os homens-foca, alusiva – aparentemente – à transição para a maturidade ou mesmo à expressão da sexualidade.

 

Os homens-foca, então, desaparecem em intrigantes trejeitos sensuais, deixando a adolescente vagamente atordoada, entre sensações que revelam o fim de toda pudicícia, muito embora ela não se mostre capaz de expressar ou compreender plenamente as experiências por que passa, bem assim a conturbação que, amiúde, as acompanha.

 

J.A.R. – H.C.

 

Rita Dove

(n. 1952)

 

Adolescence – II

 

Although it is night, I sit in the bathroom, waiting.

Sweat prickles behind my knees, the baby-breasts are alert.

Venetian blinds slice up the moon; the tiles quiver in pale strips.

 

Then they come, the three seal men with eyes as round

As dinner plates and eyelashes like sharpened tines.

They bring the scent of licorice. One sits in the washbowl,

 

One on the bathtub edge; one leans against the door.

“Can you feel it yet?” they whisper.

I don’t know what to say, again. They chuckle,

 

Patting their sleek bodies with their hands.

“Well, maybe next time.” And they rise,

Glittering like pools of ink under moonlight,

 

And vanish. I clutch at the ragged holes

They leave behind, here at the edge of darkness.

Night rests like a ball of fur on my tongue.

 

Jovem em seu banho

(Alphonse Roehn: pintor francês)

 

Adolescência – II

 

Embora seja noite, sento-me no banheiro, à espera.

O suor formiga-me atrás dos joelhos, os seios de bebê estão alertas.

As venezianas fatiam a lua; os ladrilhos tremem em franjas pálidas.

 

Logo chegam eles, os três homens-foca com olhos tão redondos

Como pratos rasos e pestanas feito pontas afiladas.

Exalam uma fragrância de alcaçuz. Um senta-se sobre o lavabo,

 

Outro na borda da banheira; o último encosta-se à porta.

“Já a consegues experimentar?”, sussurram.

Não sei o que dizer, outra vez. Eles riem,

 

Dando tapinhas em seus corpos esguios com as mãos.

“Bem, talvez da próxima vez.” E se levantam,

brilhando como poças de tinta ao clarão da lua,

 

E desaparecem. Agarro-me aos rasgos hirsutos

Que deixam para trás, aqui no limite da escuridão.

A noite repousa como um novelo de pelos em minha língua.

 

Referência:

 

DOVE, Rita. Adolescence – II. In: AXELROD, Steven Gould; ROMAN, Camille; TRAVISANO, Thomas (Eds.). The new anthology of american poetry. Vol. 3: Postmodernisms 1950 – Present. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 2012. p. 437-438.

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