Em um cenário meio
surrealista, sob uma atmosfera de mistério e de transformação, medo e fascínio,
típica das incertezas que povoam a mente de uma adolescente, algo invulgar está
a ponto de ocorrer: a falante submerge num mundo de fantasias, hesitando ante a
pergunta que lhes direcionam os homens-foca, alusiva – aparentemente – à
transição para a maturidade ou mesmo à expressão da sexualidade.
Os homens-foca, então,
desaparecem em intrigantes trejeitos sensuais, deixando a adolescente vagamente
atordoada, entre sensações que revelam o fim de toda pudicícia, muito embora ela
não se mostre capaz de expressar ou compreender plenamente as experiências por
que passa, bem assim a conturbação que, amiúde, as acompanha.
J.A.R. – H.C.
Rita Dove
(n. 1952)
Although it is night, I sit in the bathroom,
waiting.
Sweat prickles behind my knees, the baby-breasts
are alert.
Venetian blinds slice up the moon; the tiles quiver
in pale strips.
Then they come, the three seal men with eyes as
round
As dinner plates and eyelashes like sharpened
tines.
They bring the scent of licorice. One sits in the
washbowl,
One on the bathtub edge; one leans against the
door.
“Can you feel it yet?” they whisper.
I don’t know what to say, again. They chuckle,
Patting their sleek bodies with their hands.
“Well, maybe next time.” And they rise,
Glittering like pools of ink under moonlight,
And vanish. I clutch at the ragged holes
They leave behind, here at the edge of darkness.
Night rests like a ball of fur on my tongue.
Jovem em seu banho
(Alphonse Roehn:
pintor francês)
Adolescência – II
Embora seja noite,
sento-me no banheiro, à espera.
O suor formiga-me
atrás dos joelhos, os seios de bebê estão alertas.
As venezianas fatiam
a lua; os ladrilhos tremem em franjas pálidas.
Logo chegam eles, os
três homens-foca com olhos tão redondos
Como pratos rasos e pestanas
feito pontas afiladas.
Exalam uma fragrância
de alcaçuz. Um senta-se sobre o lavabo,
Outro na borda da
banheira; o último encosta-se à porta.
“Já a consegues experimentar?”,
sussurram.
Não sei o que dizer,
outra vez. Eles riem,
Dando tapinhas em
seus corpos esguios com as mãos.
“Bem, talvez da
próxima vez.” E se levantam,
brilhando como poças
de tinta ao clarão da lua,
E desaparecem. Agarro-me
aos rasgos hirsutos
Que deixam para trás,
aqui no limite da escuridão.
A noite repousa como
um novelo de pelos em minha língua.
Referência:
DOVE, Rita.
Adolescence – II. In: AXELROD, Steven Gould; ROMAN, Camille; TRAVISANO, Thomas
(Eds.). The new anthology of american poetry. Vol. 3: Postmodernisms
1950 – Present. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 2012. p. 437-438.
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