Mediante “aforismos
duvidosos”, o poeta explora o que seja a verdade e a percepção no domínio da
ciência e da poesia, percutindo eventuais zonas de interseção e de contraste
entre tais polos do engenho humano, quando em frente à realidade: aquela, com
sua representação fria e metódica, baseada em fatos demonstráveis e evidências,
para sustentar que algo venha a passar por provado e verificável sob o ponto de
vista lógico; esta, a testemunhar o que há de mais frágil e incerto nas
profundezas do ser humano e em sua compreensão do mundo.
Com efeito, a realidade
não se deixa capturar com facilidade, não podendo ser confinada ou encapsulada
prontamente, haja vista o seu matiz contingente, sempre a desencadear um
espectro de dúvidas, em cuja trama se abrem novos caminhos e perspectivas para
a busca da verdade e sua correta apreensão.
Nessa senda, em meio
à exploração crítica e analítica própria da ciência, muitas vezes a fazer terra
arrasada do conhecimento anterior, pode ser que, em razão do desbloqueio de
faculdades e de pontos de sustentação, arroguem-se heurísticas alimentadas pelas
fecundas torrentes da imaginação e da criatividade – pontos de contato, obviamente,
com os expedientes do labor poético –, para, destarte, pôr-se em questão tudo o que se tem por estabelecido.
J.A.R. – H.C.
Alejandro García
Acebes
(n. 19XX)
Aforismos dudosos
Desnuda como una
piedra,
eres verdad
científicamente
cierta.
Verso octosílabo
esdrújulo
ruge su verbo
cuando no pisa tu
sombra.
El poema quiere ser
tu corazón
en la inquieta
oscuridad.
Cóncava como un
espejo,
tu realidad
no florece en las
redomas.
En la sombra de la
duda
proyecto rayos
por imprevistos
senderos.
En el filo del
cuchillo
que disecciona
vuelan gorriones y
sueños.
Relâmpagos
(Mikalojus K.
Čiurlionis: artista lituano)
Ciência, Poesia?
Aforismos duvidosos
Desnuda como uma
pedra,
és verdade
cientificamente
certa.
O esdrúxulo verso
octossílabo
ruge seu verbo
quando não pisa tua
sombra.
O poema quer ser
teu coração
na inquieta
escuridão.
Côncava como um
espelho,
tua realidade
não floresce em redomas.
Na sombra da dúvida
projeto raios
por trilhas
imprevistas.
No fio da navalha
que disseca
voam pardais e
sonhos.
Referência:
ACEBES, Alejandro
García. ¿Ciencia, Poesia? Cuadernos de Roldán: Ciencia y Poesía, Sevilla
(ES), nº 66, p. 48, nov. 2009.
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