Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Alejandro García Acebes - Ciência, Poesia?

Mediante “aforismos duvidosos”, o poeta explora o que seja a verdade e a percepção no domínio da ciência e da poesia, percutindo eventuais zonas de interseção e de contraste entre tais polos do engenho humano, quando em frente à realidade: aquela, com sua representação fria e metódica, baseada em fatos demonstráveis e evidências, para sustentar que algo venha a passar por provado e verificável sob o ponto de vista lógico; esta, a testemunhar o que há de mais frágil e incerto nas profundezas do ser humano e em sua compreensão do mundo.

 

Com efeito, a realidade não se deixa capturar com facilidade, não podendo ser confinada ou encapsulada prontamente, haja vista o seu matiz contingente, sempre a desencadear um espectro de dúvidas, em cuja trama se abrem novos caminhos e perspectivas para a busca da verdade e sua correta apreensão.

 

Nessa senda, em meio à exploração crítica e analítica própria da ciência, muitas vezes a fazer terra arrasada do conhecimento anterior, pode ser que, em razão do desbloqueio de faculdades e de pontos de sustentação, arroguem-se heurísticas alimentadas pelas fecundas torrentes da imaginação e da criatividade – pontos de contato, obviamente, com os expedientes do labor poético –, para, destarte, pôr-se em questão tudo o que se tem por estabelecido.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alejandro García Acebes

(n. 19XX)

 

¿Ciencia, Poesia?

 

Aforismos dudosos

 

Desnuda como una piedra,

eres verdad

científicamente cierta.

 

Verso octosílabo esdrújulo

ruge su verbo

cuando no pisa tu sombra.

 

El poema quiere ser

tu corazón

en la inquieta oscuridad.

 

Cóncava como un espejo,

tu realidad

no florece en las redomas.

 

En la sombra de la duda

proyecto rayos

por imprevistos senderos.

 

En el filo del cuchillo

que disecciona

vuelan gorriones y sueños.

 

Relâmpagos

(Mikalojus K. Čiurlionis: artista lituano)

 

Ciência, Poesia?

 

Aforismos duvidosos

 

Desnuda como uma pedra,

és verdade

cientificamente certa.

 

O esdrúxulo verso octossílabo

ruge seu verbo

quando não pisa tua sombra.

 

O poema quer ser

teu coração

na inquieta escuridão.

 

Côncava como um espelho,

tua realidade

não floresce em redomas.

 

Na sombra da dúvida

projeto raios

por trilhas imprevistas.

 

No fio da navalha

que disseca

voam pardais e sonhos.

 

Referência:

 

ACEBES, Alejandro García. ¿Ciencia, Poesia? Cuadernos de Roldán: Ciencia y Poesía, Sevilla (ES), nº 66, p. 48, nov. 2009.

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