Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Thomas Merton - Em silêncio

Num mundo carregado por ruídos e distrações, Merton nos exorta a escutarmos e sermos conscientes de nossa própria existência, imergindo no silêncio, na quietude e na identidade das coisas que nos rodeiam, para que possamos escutar as vozes de muros e pedras que intentam reverberar os nossos próprios nomes, convidando-nos à contemplação.

 

Bem mais do que alguém é ou poderia vir a ser no futuro, diz-nos ele, o importante seria aceitar – e ser – o “Desconhecido” que estaria em cada um de nós e em todas as coisas: num entorno tão tumultuoso, como permanecer serenamente tranquilo para poder escutar a voz profunda, a se revelar por um fogo de essências e de significados, para além das aparências e de sôfregas expectativas?!

 

J.A.R. – H.C.

 

Thomas Merton

(1915-1968)

 

In silence

 

Be still

Listen to the stones of the wall.

Be silent, they try

To speak your

 

Name.

Listen

To the living walls.

Who are you?

Who

Are you? Whose

Silence are you?

 

Who (be quiet)

Are you (as these stones

Are quiet). Do not

Think of what you are

Still less of

What you may one day be.

Rather

Be what you are (but who?) be

The unthinkable one

You do not know.

 

O be still, while

You are still alive,

And all things live around you

Speaking (I do not hear)

To your own being.

Speaking by the Unknown

That is in you and in themselves.

 

“I will try, like them

To be my own silence:

And this is difficult. The whole

World is secretly on fire. The stones

Burn, even the stones

They burn me. How can a man be still or

Listen to all things burning? How can he dare

To sit with them when

All their silence

Is on fire?”

 

Silêncio

(Sandra Hansen: pintora norte-americana)

 

Em silêncio

 

Fica quieto,

Escuta as pedras do muro.

Mantém-te em silêncio, elas tentam

Pronunciar o teu

 

Nome.

Escuta

Os muros cheios de vida.

Quem és tu?

Quem

és tu? A quem pertence

o silêncio que tu és?

 

Quem (fica calado)

És tu (tal como estão caladas

Aquelas pedras). Não

Penses no que és,

Tampouco no que

podes vir a ser um dia.

Melhor ainda,

Sê o que és (mas quem?),

Sê o impensável

De que não tens conhecimento.

 

Oh fica quieto, enquanto

Ainda estás vivo,

E todas as coisas que vivem ao teu redor

Põem-se a falar (não as escuto)

A teu próprio ser.

Falam elas pelo Desconhecido

Que está em ti e nelas mesmas.

 

“Tentarei, como elas,

Ser o meu próprio silêncio:

E isso é difícil. O mundo inteiro

Está secretamente a arder. As pedras

Ardem, as pedras até mesmo

Me queimam. Como pode um homem manter-se

quieto ou

Escutar todas as coisas a arder? Como pode ousar

Fazer-lhes companhia, quando

Todo o silêncio delas

Está em chamas?”

 

Referência:

 

MERTON, Thomas. In silence. In: __________. The collected poems of Thomas Merton. 1st. publ., 6th. print. New York, NY: New Directions, 1977. p. 280-281.

Nenhum comentário:

Postar um comentário