Num mundo carregado
por ruídos e distrações, Merton nos exorta a escutarmos e sermos conscientes de
nossa própria existência, imergindo no silêncio, na quietude e na identidade
das coisas que nos rodeiam, para que possamos escutar as vozes de muros e pedras
que intentam reverberar os nossos próprios nomes, convidando-nos à
contemplação.
Bem mais do que
alguém é ou poderia vir a ser no futuro, diz-nos ele, o importante seria
aceitar – e ser – o “Desconhecido” que estaria em cada um de nós e em todas as
coisas: num entorno tão tumultuoso, como permanecer serenamente tranquilo para
poder escutar a voz profunda, a se revelar por um fogo de essências e de
significados, para além das aparências e de sôfregas expectativas?!
J.A.R. – H.C.
Thomas Merton
(1915-1968)
In silence
Be still
Listen to the stones
of the wall.
Be silent, they try
To speak your
Name.
Listen
To the living walls.
Who are you?
Who
Are you? Whose
Silence are you?
Who (be quiet)
Are you (as these
stones
Are quiet). Do not
Think of what you are
Still less of
What you may one day
be.
Rather
Be what you are (but
who?) be
The unthinkable one
You do not know.
O be still, while
You are still alive,
And all things live
around you
Speaking (I do not
hear)
To your own being.
Speaking by the
Unknown
That is in you and in
themselves.
“I will try, like
them
To be my own silence:
And this is
difficult. The whole
World is secretly on
fire. The stones
Burn, even the stones
They burn me. How can
a man be still or
Listen to all things
burning? How can he dare
To sit with them when
All their silence
Is on fire?”
Silêncio
(Sandra Hansen: pintora
norte-americana)
Em silêncio
Fica quieto,
Escuta as pedras do
muro.
Mantém-te em silêncio,
elas tentam
Pronunciar o teu
Nome.
Escuta
Os muros cheios de
vida.
Quem és tu?
Quem
és tu? A quem
pertence
o silêncio que tu és?
Quem (fica calado)
És tu (tal como estão
caladas
Aquelas pedras). Não
Penses no que és,
Tampouco no que
podes vir a ser um
dia.
Melhor ainda,
Sê o que és (mas quem?),
Sê o impensável
De que não tens
conhecimento.
Oh fica quieto,
enquanto
Ainda estás vivo,
E todas as coisas que
vivem ao teu redor
Põem-se a falar (não
as escuto)
A teu próprio ser.
Falam elas pelo
Desconhecido
Que está em ti e
nelas mesmas.
“Tentarei, como elas,
Ser o meu próprio
silêncio:
E isso é difícil. O
mundo inteiro
Está secretamente a
arder. As pedras
Ardem, as pedras até
mesmo
Me queimam. Como pode
um homem manter-se
quieto ou
Escutar todas as
coisas a arder? Como pode ousar
Fazer-lhes companhia,
quando
Todo o silêncio delas
Está em chamas?”
Referência:
MERTON, Thomas. In
silence. In: __________. The collected poems of Thomas Merton. 1st.
publ., 6th. print. New York, NY: New Directions, 1977. p. 280-281.
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