Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 17 de agosto de 2024

Ardengo Soffici - Manhã

Luz e céus refulgem, mesmo que envoltos em beleza efêmera, em impermanência, descartados, ademais, todos aqueles elementos supérfluos que não dão substância à vida, nem impedem que a celebremos e a desfrutemos ao máximo, a exemplo dos modismos, de certos aspectos da cultura, ou mesmo de superficiais manifestações patrióticas alicerçadas na adoção cega de duvidosos ideais.

 

A vida é uma dança contínua que, vez por outra, provoca-nos sensações de estranheza e desconexão com a realidade, esta, por sua vez, tão complexa e diversa que, aos olhos do falante, somente a inocência e o frescor da infância seriam capazes de prover a necessária inspiração para o sucessivo progresso e evolução da sociedade, quer no plano humano, quer no cultural.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ardengo Soffici

(1879-1964)

 

Mattina

 

La luce non è che un mazzolino di fiori più sottili;

Un ronzìo di mosche d’oro e verdi il cielo.

Senza questo pardessus parigino si potrebbe ballare;

A tutti i piani c’è la musica, come in paradiso.

Una signora vestita del tricolor dell’Italia

nelle cromolitografie patriottiche

Evade verso l’oriente:

Jamais je ne voudrais être son chien!

Piuttosto piangere di tenerezza

Sul miracolo della gente che risuscita ogni giorno

In questo enigma universale, che piglia per un almanacco

E passa;

E passa con la tranquillità dei giovenchi.

Ah! noi moriremo per aver troppo adorato le cose da nulla.

L’aria d’anilina mi bagna come una camicia tuffata

nel turchinetto.

Vedo tutto:

Il baccalà che sperimenta il Nirvana fiorito di pomodori

nelle zangole azzurre;

L’ombre delle grondaie abbassate sugli occhi glauchi

delle persiane;

Le ombre degli uomini che si profondano

Nella terra trasparente.

E a un tratto capisco questo assioma: Ogni nuova civiltà nasce

dal riso dei bambini.

Il timpano del sole batte sullo specchio del parrucchiere

Per farmi sorridere;

Ma non si può che seguire in silenzio la freschezza delle ore.

 

(I miei capelli sono sinistri!)

 

In: “Marsia e Apollo” (1938)

 

A manhã seguinte

(Niall J. Ward: artista irlandês)

 

Manhã

 

A luz não passa de um buquê das mais delicadas flores;

O céu, um zunir de moscas douradas e verdes.

Sem esse sobretudo parisiense, se poderia dançar;

Há música em todos os andares, como no paraíso.

Uma senhora vestida com o tricolor da Itália,

em patrióticas cromolitografias,

Foge em direção ao Oriente:

Jamais eu quereria ser o seu cão!

Antes chorar com ternura

Pelo milagre da gente que ressuscita a cada dia

Neste enigma universal, tido como se um almanaque fosse,

E que logo segue em frente;

Segue em frente com a tranquilidade dos novilhos.

Ah! morreremos por havermos adorado demais as coisas triviais.

O ar de anilina me banha como uma camisa embebida

em corante azul-turquesa.

Tudo vejo:

O bacalhau a experimentar o Nirvana, ornado com tomates

passados em batedeiras azuis;

As sombras das canaletas baixadas sobre os olhos glaucos

das persianas;

Os vultos dos homens que se afundam

Na terra transparente.

E, de repente, compreendo este axioma: Toda nova civilização

nasce do riso das crianças.

O tímpano do sol bate no espelho do cabeleireiro

Para me fazer sorrir;

Mas não se pode mais que seguir em silêncio o frescor das horas.

 

(Meus cabelos estão com um aspecto sinistro!)

 

Em: “Marsias e Apolo” (1938)

 

Referência:

 

SOFFICI, Ardengo. Mattina. In: PAYNE, Roberta l. (Ed. & Transl.). A selection of modern italian poetry in translation. A bilingual edition: italian x english. Montreal & Kingston (CA): McGill-Queen’s University Press, 2004. p. 78.

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