Luz e céus refulgem, mesmo que envoltos em beleza efêmera, em impermanência, descartados, ademais, todos aqueles elementos supérfluos que não dão substância à vida, nem impedem que a celebremos e a desfrutemos ao máximo, a exemplo dos modismos, de certos aspectos da cultura, ou mesmo de superficiais manifestações patrióticas alicerçadas na adoção cega de duvidosos ideais.
A vida é uma dança
contínua que, vez por outra, provoca-nos sensações de estranheza e desconexão com
a realidade, esta, por sua vez, tão complexa e diversa que, aos olhos do
falante, somente a inocência e o frescor da infância seriam capazes de prover a
necessária inspiração para o sucessivo progresso e evolução da sociedade, quer
no plano humano, quer no cultural.
J.A.R. – H.C.
Ardengo Soffici
(1879-1964)
Mattina
La luce non è che un
mazzolino di fiori più sottili;
Un ronzìo di mosche
d’oro e verdi il cielo.
Senza questo pardessus
parigino si potrebbe ballare;
A tutti i piani c’è
la musica, come in paradiso.
Una signora vestita
del tricolor dell’Italia
nelle cromolitografie
patriottiche
Evade verso
l’oriente:
Jamais je ne voudrais
être son chien!
Piuttosto piangere di
tenerezza
Sul miracolo della
gente che risuscita ogni giorno
In questo enigma
universale, che piglia per un almanacco
E passa;
E passa con la
tranquillità dei giovenchi.
Ah! noi moriremo per
aver troppo adorato le cose da nulla.
L’aria d’anilina mi
bagna come una camicia tuffata
nel turchinetto.
Vedo tutto:
Il baccalà che
sperimenta il Nirvana fiorito di pomodori
nelle zangole
azzurre;
L’ombre delle
grondaie abbassate sugli occhi glauchi
delle persiane;
Le ombre degli uomini
che si profondano
Nella terra trasparente.
E a un tratto capisco
questo assioma: Ogni nuova civiltà nasce
dal riso dei bambini.
Il timpano del sole
batte sullo specchio del parrucchiere
Per farmi sorridere;
Ma non si può che
seguire in silenzio la freschezza delle ore.
(I miei capelli sono
sinistri!)
In: “Marsia e Apollo”
(1938)
A manhã seguinte
(Niall J. Ward:
artista irlandês)
Manhã
A luz não passa de um
buquê das mais delicadas flores;
O céu, um zunir de
moscas douradas e verdes.
Sem esse sobretudo
parisiense, se poderia dançar;
Há música em todos os
andares, como no paraíso.
Uma senhora vestida
com o tricolor da Itália,
em patrióticas cromolitografias,
Foge em direção ao
Oriente:
Jamais eu quereria
ser o seu cão!
Antes chorar com
ternura
Pelo milagre da gente
que ressuscita a cada dia
Neste enigma
universal, tido como se um almanaque fosse,
E que logo segue em
frente;
Segue em frente com a
tranquilidade dos novilhos.
Ah! morreremos por
havermos adorado demais as coisas triviais.
O ar de anilina me
banha como uma camisa embebida
em corante
azul-turquesa.
Tudo vejo:
O bacalhau a
experimentar o Nirvana, ornado com tomates
passados em
batedeiras azuis;
As sombras das
canaletas baixadas sobre os olhos glaucos
das persianas;
Os vultos dos homens
que se afundam
Na terra
transparente.
E, de repente,
compreendo este axioma: Toda nova civilização
nasce do riso das
crianças.
O tímpano do sol bate
no espelho do cabeleireiro
Para me fazer sorrir;
Mas não se pode mais
que seguir em silêncio o frescor das horas.
(Meus cabelos estão
com um aspecto sinistro!)
Em: “Marsias e Apolo”
(1938)
Referência:
SOFFICI, Ardengo.
Mattina. In: PAYNE, Roberta l. (Ed. & Transl.). A selection of modern
italian poetry in translation. A bilingual edition: italian x english. Montreal
& Kingston (CA): McGill-Queen’s University Press, 2004. p. 78.
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