Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Paulo Leminski - Meu professor de análise sintática

O poeta curitibano, com toda aquela sua verve humorística, aborda de modo engenhoso as dificuldades e peculiaridades da gramática e da sintaxe da língua portuguesa, empenhando-se em descrever o seu professor de análise sintática como um ser um tanto absurdo, mediante o exagero de características próprias dos elementos frasais de nosso idioma, transformando-os em traços humanos.

 

Ao fim e ao cabo, depois de muito cansaço e frustração para apreender de forma cabal as regras da gramática, as classes e funções de cada termo de uma oração, enfim, a organização e a estrutura das unidades linguísticas, o falante resolve matar o professor com um “objeto direto na cabeça” – desejo secreto de muitos dos falantes que destratam a “última flor do Lácio, inculta e bela”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Paulo Leminski

(1944-1989)

 

Meu professor de análise sintática

 

Meu professor de análise sintática era o tipo

do sujeito inexistente.

Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,

regular como um paradigma da 1ª conjugação.

Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,

ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito

assindético de nos torturar com um aposto.

Casou com uma regência.

Foi infeliz.

Era possessivo como um pronome.

E ela era bitransitiva.

Tentou ir para EUA.

Não deu.

Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.

A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,

conetivos e agentes da passiva, o tempo todo.

Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

 

O Professor

(Krzysztof Lubieniecki: pintor polonês)

 

Referência:

 

LEMINSKI, Paulo. Meu professor de análise sintática. In: __________. Caprichos e relaxos. São Paulo, SP: Brasiliense, 1983. p. 144.

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