O poeta curitibano,
com toda aquela sua verve humorística, aborda de modo engenhoso as dificuldades
e peculiaridades da gramática e da sintaxe da língua portuguesa, empenhando-se em
descrever o seu professor de análise sintática como um ser um tanto absurdo, mediante
o exagero de características próprias dos elementos frasais de nosso idioma,
transformando-os em traços humanos.
Ao fim e ao cabo, depois
de muito cansaço e frustração para apreender de forma cabal as regras da
gramática, as classes e funções de cada termo de uma oração, enfim, a
organização e a estrutura das unidades linguísticas, o falante resolve matar o
professor com um “objeto direto na cabeça” – desejo secreto de muitos dos
falantes que destratam a “última flor do Lácio, inculta e bela”.
J.A.R. – H.C.
Paulo Leminski
(1944-1989)
Meu professor de análise sintática
Meu professor de análise sintática era o tipo
do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto
adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas
expletivas,
conetivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
O Professor
(Krzysztof
Lubieniecki: pintor polonês)
Referência:
LEMINSKI, Paulo. Meu
professor de análise sintática. In: __________. Caprichos e relaxos. São
Paulo, SP: Brasiliense, 1983. p. 144.
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