Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Patrick Galvin - Conselho a um Poeta

Sarcástico é o menos que se pode dizer deste poema de Galvin, a retratar um diálogo hipotético entre um sonhador aspirante a poeta e o seu genitor, este muito mais experiente e pragmático em relação às exigências e rigores da vida – muito embora com propostas radicais! –, para fazer frente à falta de reconhecimento e de estabilidade financeira que, amiúde, acompanham os que optam pela vocação poética.

 

Ironia e mordacidade se mesclam, chegando às raias da homofobia, tudo para fazer terra arrasada do amor romântico, das orientações utopistas ou idealistas, das pretensas perspectivas de glória e de admiração a que se destinam os poetas: para um cinismo que não convence o postulante à Lírica, o pai, destilando toda a sua acrimônia por meio de uma trágica incitação, sugere ao filho que deveria considerar o suicídio como alternativa!

 

J.A.R. – H.C.

 

Patrick Galvin

(1927-2011)

 

Advice to a Poet

 

Be a chauffeur, my father said

And never mind the poetry.

That’s all very well for the rich

They can afford it.

What you need is money in your belt

Free uniform and plenty of travel.

Besides that, there’s nothing in verse.

And all poets are raging homosexuals.

 

I’d still like to be a poet

 

Another thing: don’t ever marry

And if you do, then marry for cash.

Love, after all, is easily come by

And any old whore will dance for a pound.

Take my advice and be a chauffeur

The uniform will suit you a treat

Marriage and poems will blind you surely

And poets and lovers are doomed to hell.

 

I’d still like to be a poet

 

But where’s the sense in writing poetry?

Did any poet ever make good?

I never met one who wasn’t a pauper

A prey to bailiffs, lawyers and priests.

Take my advice and be a chauffeur

With your appearance you’re bound to do well

You might even meet some rich old widow

Who’ll leave you a fortune the moment she dies.

 

I’d still like to be a poet

 

Well, blast you then, your days are darkened

Poverty, misery, carnage and sin.

The poems you’ll write won’t be worth a penny.

And the women you marry will bleed you to death.

Take my advice and buy a revolver

Shoot yourself now in the back of the head.

The Government then might raise a subscription

To keep your poor father from breeding again.

 

In: “Man on the Porch” (1979)

 

Pai e filho em conversa próximo à janela

(Ilustração de autoria desconhecida)

 

Conselho a um Poeta

 

Sê um chofer, disse-me meu pai

E não te preocupes com a poesia.

Isso é muito bom para os ricos

Que podem dar-se a tal luxo.

O que precisas é de dinheiro em teu bolso

Uniforme grátis e muitas viagens.

Ademais, nada há nos versos.

E todos os poetas são homossexuais raivosos.

 

Só que eu gostaria de ser um poeta

 

Outra coisa: nunca te cases

E se o fizeres, casa-te por dinheiro.

O amor, afinal, é fácil de encontrar

E qualquer rameira longeva dançará por uma libra.

Segue meu conselho e sê um chofer

O uniforme vai cair-te muito bem

Casamento e poemas hão de cegar-te com certeza

E os poetas e amantes estão condenados ao inferno.

 

Só que eu gostaria de ser um poeta

 

Mas qual é o sentido de escrever poesia?

Algum poeta já se deu bem alguma vez?

Nunca conheci um que não fosse um indigente

Uma presa para oficiais de justiça, advogados e curas.

Segue meu conselho e sê um chofer

Com tua aparência estás fadado a sair-te bem

Até podes conhecer uma viúva velha e rica

Que te deixará uma fortuna assim que morrer.

 

Só que eu gostaria de ser um poeta

 

Bem, maldito sejas então, teus dias se escurecem

Pobreza, miséria, massacre e pecado.

Os poemas que escreverás não valerão um tostão.

E as mulheres com quem casares vão sangrar-te até à morte.

Segue meu conselho e compra um revólver

E dá agora um tiro na nuca.

Assim, o governo poderá angariar fundos

Para impedir que teu pobre pai não volte a procriar.

 

Em: “Homem na Varanda” (1979)

 

Referência:

 

GALVIN, Patrick. Advice to a poet. In: __________. New and selected poems of Patrick Galvin. Edited by Greg Delanty and Robert Welch. 1st publ. Dublin, IE: Cork University Press, 1996. p. 43.

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