Sarcástico é o menos
que se pode dizer deste poema de Galvin, a retratar um diálogo hipotético entre
um sonhador aspirante a poeta e o seu genitor, este muito mais experiente e
pragmático em relação às exigências e rigores da vida – muito embora com
propostas radicais! –, para fazer frente à falta de reconhecimento e de
estabilidade financeira que, amiúde, acompanham os que optam pela vocação
poética.
Ironia e mordacidade
se mesclam, chegando às raias da homofobia, tudo para fazer terra arrasada do
amor romântico, das orientações utopistas ou idealistas, das pretensas perspectivas
de glória e de admiração a que se destinam os poetas: para um cinismo que não convence
o postulante à Lírica, o pai, destilando toda a sua acrimônia por meio de uma trágica
incitação, sugere ao filho que deveria considerar o suicídio como alternativa!
J.A.R. – H.C.
Patrick Galvin
(1927-2011)
Advice to a Poet
Be a chauffeur, my
father said
And never mind the
poetry.
That’s all very well
for the rich
They can afford it.
What you need is
money in your belt
Free uniform and
plenty of travel.
Besides that, there’s
nothing in verse.
And all poets are
raging homosexuals.
I’d still like to be
a poet
Another thing: don’t
ever marry
And if you do, then
marry for cash.
Love, after all, is
easily come by
And any old whore
will dance for a pound.
Take my advice and be
a chauffeur
The uniform will suit
you a treat
Marriage and poems
will blind you surely
And poets and lovers
are doomed to hell.
I’d still like to be
a poet
But where’s the sense
in writing poetry?
Did any poet ever
make good?
I never met one who
wasn’t a pauper
A prey to bailiffs,
lawyers and priests.
Take my advice and be
a chauffeur
With your appearance
you’re bound to do well
You might even meet
some rich old widow
Who’ll leave you a
fortune the moment she dies.
I’d still like to be
a poet
Well, blast you then,
your days are darkened
Poverty, misery,
carnage and sin.
The poems you’ll
write won’t be worth a penny.
And the women you
marry will bleed you to death.
Take my advice and
buy a revolver
Shoot yourself now in
the back of the head.
The Government then
might raise a subscription
To keep your poor
father from breeding again.
In: “Man on the
Porch” (1979)
Pai e filho em
conversa próximo à janela
(Ilustração de
autoria desconhecida)
Conselho a um Poeta
Sê um chofer,
disse-me meu pai
E não te preocupes
com a poesia.
Isso é muito bom para
os ricos
Que podem dar-se a
tal luxo.
O que precisas é de
dinheiro em teu bolso
Uniforme grátis e
muitas viagens.
Ademais, nada há nos
versos.
E todos os poetas são
homossexuais raivosos.
Só que eu gostaria de
ser um poeta
Outra coisa: nunca te
cases
E se o fizeres, casa-te
por dinheiro.
O amor, afinal, é
fácil de encontrar
E qualquer rameira longeva
dançará por uma libra.
Segue meu conselho e
sê um chofer
O uniforme vai
cair-te muito bem
Casamento e poemas hão
de cegar-te com certeza
E os poetas e amantes
estão condenados ao inferno.
Só que eu gostaria de
ser um poeta
Mas qual é o sentido
de escrever poesia?
Algum poeta já se deu
bem alguma vez?
Nunca conheci um que
não fosse um indigente
Uma presa para
oficiais de justiça, advogados e curas.
Segue meu conselho e
sê um chofer
Com tua aparência
estás fadado a sair-te bem
Até podes conhecer
uma viúva velha e rica
Que te deixará uma
fortuna assim que morrer.
Só que eu gostaria de
ser um poeta
Bem, maldito sejas
então, teus dias se escurecem
Pobreza, miséria, massacre
e pecado.
Os poemas que
escreverás não valerão um tostão.
E as mulheres com
quem casares vão sangrar-te até à morte.
Segue meu conselho e
compra um revólver
E dá agora um tiro na
nuca.
Assim, o governo poderá
angariar fundos
Para impedir que teu
pobre pai não volte a procriar.
Em: “Homem na
Varanda” (1979)
Referência:
GALVIN, Patrick.
Advice to a poet. In: __________. New and selected poems of Patrick Galvin.
Edited by Greg Delanty and Robert Welch. 1st publ. Dublin, IE: Cork University
Press, 1996. p. 43.
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