Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 11 de agosto de 2024

Mark Strand - Elegia para Meu Pai: I. O corpo vazio

Num dia como o de hoje, há quem recorde de seu pai envolto em imagens, palavras e fatos já meio desvanecidos pelo tempo. Mas não o poeta: nesta primeira parte de um longo poema em seis (6) seções, Strand descreve com riqueza de detalhes aquilo que viu e sentiu no instante mesmo em que seu pai migrou definitivamente para outros incógnitos mundos.

 

Mesmo com o corpo físico presente, não há como se preencher o vazio deixado pela pessoa real: as vívidas descrições do entorno natural acabam por criar um contraste entre a presença ostensiva do mundo exterior e a ausência de vida, de um espírito ativo, no corpo do falecido pai.

 

Dor, quietude, melancolia e tristeza embargam as palavras factíveis para o momento, levando a disrupção a falar mais alto: mesmo os pronomes possessivos empregados pelo poeta alternam-se no correr dos versos, passando de um personalíssimo “your(s)” a um amorfo “its”, já agora direcionado a uma coisa, isto é, um corpo sem vida.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mark Strand

(1934-2014)

 

Elegy for My Father

 

(Robert Strand 1908-1968)

 

I. The empty body

 

The hands were yours, the arms were yours,

But you were not there.

The eyes were yours, but they were closed

and would not open.

The distant sun was there.

The moon poised on the hill’s white shoulder

was there.

The wind on Bedford Basin was there.

The pale green light of winter was there.

Your mouth was there,

But you were not there.

When somebody spoke, there was no answer.

Clouds came down

And buried the buildings along the water,

And the water was silent.

The gulls stared.

The years, the hours, that would not find you

Turned in the wrists of others.

There was no pain. It had gone.

There were no secrets. There was nothing to say.

The shade scattered its ashes.

The body was yours, but you were not there.

The air shivered against its skin.

The dark leaned into its eyes.

But you were not there.

 

In: “The Story of Our Lives” (1973)

 

O funeral do pai

(Jennifer Waters: artista canadense)

 

Elegia para Meu Pai

 

(Robert Strand 1908-1968)

 

I. O corpo vazio

 

As mãos eram tuas, os braços eram teus,

Mas tu não estavas lá.

Os olhos eram teus, mas estavam fechados

e não mais se abririam.

O sol distante estava lá.

A lua aprumada sobre o ombro branco da colina

estava lá.

O vento em Bedford Basin estava lá.

A pálida luz verde do inverno estava lá.

Tua boca estava lá,

Mas tu não estavas lá.

Quando alguém falava, não havia resposta.

As nuvens desciam

E enterravam os edifícios ao longo da água,

E a água ficava em silêncio.

As gaivotas olhavam fixamente.

Os anos, as horas, que não te encontrariam,

Redirecionavam-se aos pulsos dos outros.

Não havia dor. Ele havia partido.

Não havia segredos. Nada havia a dizer.

A sombra dispersou suas cinzas.

O corpo era o teu, mas tu não estavas lá.

O ar estremecia contra a sua pele.

A escuridão pousou em seus olhos.

Mas tu não estavas lá.

 

Em: “A História de Nossas Vidas” (1973)

 

Referência:

 

STRAND, Mark. Elegy for my father: I. The empty body. In: __________. New selected poems. First paperback edition. New York, NY: Alfred A. Knopf, jan. 2009. p. 71.

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